Lembranças Amadas

Para maior entendimento da história abaixo, leia O Beijo da Morte (clique aqui) e a Prévia (clique aqui), disponibilizada na série As Garotas.

Prólogo
Queria poder ser quem todos esperavam que voltasse para casa, mas não era. Eu não tinha aquele sorriso puro nem os olhos castanhos que Bianca Sern tinha. Não era a melhor amiga de Lilá nem de Nate. Não era inocente ou apaixonada como ela fora. Nem chegava a ser uma humana como antes.
Mas o pior de tudo era que meu amor por James se perdera em algum ponto da transformação e eu não sabia como reencontrá-lo.


Primeiro Capítulo



            Estava preparada para o pior. Quando percebi que não havia ninguém por perto para me tirar daquele maldito caixão, resolvi aceitar a ideia de que passaria toda a minha eternidade trancada em um cubículo. Porém, no momento em que todas as minhas esperanças acabavam...
            -Quem está aí? – aquela voz não me era totalmente desconhecida. Talvez em alguma parte do meu passado que fora apagado ela existira.
            -SOCORRO! – gritei novamente sem nem conseguir imaginar uma resposta coesa para aquela situação. Era como se meu cérebro só conseguisse pensar em uma forma de fugir daquele lugar.
            Não sei quanto tempo demorou, mas rapidamente pude começar a escutar mãos tirando a terra e a madeira que cobria meu corpo. Alguma parte de mim imaginou o que teria acontecido com as rosas, jogadas por meus familiares desconhecidos, nas mãos de meu salvador.
            Quando a luz invadiu meus olhos, gritei. Minha pele começou a pinicar e enxerguei a carne saltando de meus braços. A dor era demais para alguém que não tivera vida antes daquilo. Era como se minha eternidade destinava-se a ser de sofrimento.
            -Acalme-se, acalme-se – disse o homem que me colocou em seus braços enquanto nos tirava da cova. Ele tinha a pele branca como a neve e cabelos loiros bronzeados que não combinavam com o ambiente do cemitério. O contato com seu corpo fez com que a queimação no meu corpo diminuísse.
            -O que está acontecendo? – perguntei fraca enquanto imaginava quem poderia ser meu salvador. Será que era um coveiro? Será que eu o conhecia da minha vida de humana? Tantas perguntas e nenhuma resposta.
            O loiro olhou em meus olhos e percebi que suas íris eram roxas. Algo se acendeu no meu coração: vampiro. – Você ainda não se alimentou de sangue humano. Então, a sua transição não está completa. Sua pele está fraca e fina, o que faz com que o sol a destrua. Mas... – ele pareceu hesitar enquanto examinava meu rosto como se já o conhecesse – perto de mim, os raios solares se dirigem diretamente ao meu corpo, não ao seu.
            Os minutos de silêncio eram reconfortantes enquanto caminhávamos em direção a uma casa bastante distante. Entre lápides e árvores, era como se o dia não existe. Até a luz solar que quase me matara parecia fraca. E em um momento impróprio e inesperado, questionei:
            -Quem é você? – era óbvio que ele não era um desconhecido, mas eu não conseguia me lembrar de sua identidade. Era como uma música que você gostou muito e, depois de uns anos, só se lembra do refrão.
            Por um momento, ele parou de andar e se virou. Reparei, com meus olhos de vampira, que havia um jovem se aproximando do cemitério. Ele parecia extremamente acabado.
            -Meu nome é Jason – porém, nem pude escutar como o loiro disse isso, pois, em um movimento brusco, ele se lançou em direção a casa e me colocou no sofá, causando uma ventania inesperada ao nosso redor.
            No momento, em que iria me apresentar, Jason saiu novamente. Apesar de que aquilo não deveria ter importância para alguém com amnésia como eu, tive a sensação de que estava perdendo algo muito importante.
            E aquele misterioso garoto tinha a ver com isso.
Escrito por StarGirlie.

Segundo Capítulo



            Não sei o que havia em Jason que não me fez temê-lo. Qualquer um esperaria que o salvador tentasse se aproveitar de mim, provando dessa forma que não passava de um bandido. Mas algo me dizia que o vampiro loiro não tinha maldade alguma comigo.
            -Desculpa ter sumido – disse Jason, enquanto entrava em sua casa. Reparei que nas prateleiras havia porta-retratos com fotos dele e de uma garota ruiva. Não entendo o porquê, mas meu coração se apertou por um breve segundo.
            Queria poder perguntar àquele desconhecido quem eu era e por que fora enterrada viva, mas sabia que ele não tinha nenhuma das respostas que minha alma precisava. –Você é o coveiro do cemitério?
            -Em minhas horas vagas – respondeu rindo Jason, deixando seus caninos à mostra. Mas os vampiros não têm caninos diferenciados. Como eu poderia saber isso? Será que em minha vida humana convivi com algum vampiro? Será que convivi com o próprio que estava na minha frente?
            Sem nenhum aviso prévio, comecei a sentir minha pele borbulhar. Aquele era o efeito do sol, mas não havia nenhuma luminosidade me atingindo. O que estava acontecendo comigo?
            -Meu Deus! – gritou o vampiro, antes de correr para a cozinha e voltar trazendo uma bolsa de sangue e uma toalha molhada – Nunca vi um vampiro ter tantos problemas na transição. Como você foi transformada?
            Abaixei os olhos, enquanto Jason tocava minha pele com o tecido frio e acabava com os ferimentos. O cheiro de sangue me deixava em êxtase, mas não podia demonstrar isso. Parecia que o vampiro que cuidava de mim era bastante cuidadoso. - Não sei.
            -Como assim você não sabe? – o loiro abriu a bolsa de sangue e pude ver o nome de um hospital e logo abaixo o nome da cidade: Curitiba. Porém, antes de me alimentar, Jason esperou uma resposta.
            -Eu não me lembro de nada. Só sei que me chamo Bianca e que acordei em um caixão, já vampira. Nem consigo imaginar o que aconteceu antes disso – confessei, sentindo um peso saindo das minhas costas. Pude ver nos olhos de Jason que aquilo explicava muita coisa. Talvez isso o fizesse entender o porquê de não tê-lo reconhecido.
            -Então, isso é seriamente um problema, Bianca. Dependendo de como você foi transformada, tudo muda. Por exemplo, se você tiver descendência vampírica, a comida humana é bastante aceita por seu sistema. Porém, caso você seja uma vampira recém-criada, o sangue é a única coisa que te faz sobreviver.
            Era bastante claro que meu sangue era totalmente vampiro. Se eu fosse meio humana, não teria quase queimado sob o sol. Por isso, não hesitei em pegar a bolsa de sangue e sugar todo o líquido que havia nele.
            Inicialmente, imaginei que o gosto de sangue seria nojento. Quem poderia tomar algo como aquilo? Porém, bastou senti-lo em contato com minha boca para mudar totalmente minha percepção.
            Eu queria mais e mais e quase entrei em pânico quando vi que não restara nada para beber em menos de um minuto. Felizmente, não demorou a me acalmar novamente e me lembrar que aquilo viera de um ser humano. Alguém que poderia ser minha mãe, meu pai ou talvez algum irmão?
            A parte boa de ter me alimentado era que toda a agonia com a luminosidade havia terminado. Era como se minha pele fosse a mais resistente do mundo. A parte ruim era que o vazio de minha mente se tornava ainda mais intenso, fazendo com que a falta de lembranças fosse muito dolorosa e desesperadora.
            -Bianca, não se preocupe. Eu irei te ajudar nessa nova fase – reconfortou-me Jason. E, por algum motivo, acreditei em suas palavras.
            Pelo menos, acreditei nelas até a garota ruiva das fotografias entrar na casa, gritando:
            -O que você está fazendo com a Bianca?
Escrito por StarGirlie.
Terceiro Capítulo




            -Não faça tumulto, Camile. Ela não se lembra de nada – disse Jason, se colocando em minha frente. Por um breve segundo, tive certeza que já tinha visto aquele rosto emoldurado pelo cabelo ruivo.
            Camile pareceu nervosa de uma hora para outra. Percebi que seus olhos roxos (claro, ela tinha que ser uma vampira) mudaram para pretos em menos de um minuto. A ruiva parece prestes a entrar em combustão.
            -Meu Deus, Jason! Você poderia ter me avisado, né? – reclamou a vampira antes de se sentar ao meu lado. Ela parecia não ter mais do que quinze anos, o que acabou com toda a ideia de que era a namorada do loiro. Ele poderia muito bem se passar por vinte anos.
            Eu deveria estar parecendo muito confusa, pois a ruiva deu aquele sorrisinho nervoso que as pessoas dão para loucos. Como sabia disso? Bem, parece que a minha amnésia só gostava de apagar lembranças pessoais.
            -Acho que devo me apresentar. Sou Camile Moure. Jason é meu primo – ela ofereceu sua mão e a cumprimentei. Algo me dizia que aquela garota não me era estranha e aquilo me preocupava profundamente. Se os dois não eram desconhecidos, então, ambos estavam me enganando.
            Passou-se algum tempo antes de um de nós sequer respirasse. Parecia que o ar da sala se comprimia com a ideia de três vampiros em tão pouco espaço. Não devia ser comum naquele mundo uma cena como aquela.
            -Sério, Bianca, você é muito séria para uma vampira recém-criada! – exclamou Cami, como passei a chamá-la, de repente – Cadê as corridas pela casa para testar sua rapidez? Sua boca vertendo sangue de humanos inocentes que passam ao seu redor? As roupas sujas de terra pelos experimentos de “super-heroína”?
            Comecei a rir. Ela tinha toda a razão, exceto na parte dos humanos, mas isso não importava. Eu não possuía nenhuma lembrança do meu passado e, mesmo assim, continuava séria e responsável. Imaginei-me como mortal por um breve segundo. A visão foi um pouco tediosa.
            Então, antes que imaginasse, agi como Camile tanto queria. Corri pelos bosques que cercavam o cemitério e ri com os primos Moure. Passei a me alimentar de bolsas de sangue e tentava me manter o mais distante dos humanos, já que sempre os imaginava como alguém conhecido. Sujei-me e me arrumei várias vezes após tardes de descobertas.
            Minha vida era incrível, divertida e tudo que eu queria para mim. Não havia o peso na consciência das escolhas que talvez tenha feito em outra parte de minha história. Tudo era claro, simples e perfeito.
            Era bom ter Jason e Camile me ensinando como ser um vampiro. Ambos não matavam humanos, mas se alimentavam diretamente de suas jugulares. Eles me explicaram a arte de seduzir o sexo oposto, porém, não quis testá-la. E se eu acabasse me descontrolando? Depois só seria tarde demais para se desculpar.
            Vivíamos calmamente no cemitério, algo um pouco macabro, mas que, com os dois vampiros, era divertido. Gostávamos de ajudar os humanos que levavam flores aos seus parentes falecidos e sempre os fazíamos acreditar que estes estavam em um lugar melhor. Talvez a minha família também afirmasse isso a si mesma.
            Porém, havia um visitante que não recebia tratamento. Na verdade, Jason e Cami nem pareciam notá-lo, então, por muitas vezes, acreditei que ele não passava de uma ilusão. Entretanto, o garoto, que eu havia visto logo após sair da cova, tinha algo de especial. Algo que me puxava em sua direção.
            Queria saber quem ele era, mas tinha medo de decepcionar os Moure, de alguma forma, por causa disso. Mas enquanto naquela tarde podávamos flores, tive a certeza que o Misterioso chorava sobre uma lápide específica. A minha.
Escrita por StarGirlie.

Quarto Capítulo



            Eu não sei o que me manteve parada ao lado de Camile, que parecia muito concentrada nas rosas para ver o Misterioso. Minha vontade era voar na direção do tal garoto e tirar todas as dúvidas que assombravam meu coração.
            Se ele estava chorando sob meu aparente túmulo era porque eu “fui” alguém muito importante em sua vida. Talvez sua irmã, prima... Ou sua namorada. E minha alma queria reconfortá-lo, mostrar a ele que estava viva, ou quase isso, e que não conseguia me lembrar de nada do meu passado.
            Pelo modo como ele mexia nas rosas brancas sobre a lápide, percebi que o Misterioso era cuidadoso e extremamente carinhoso. O jovem sentia falta da garota que perdera, de quem eu um dia fora. Quem seria essa enigmática versão de mim mesma? Será que a minha parte humana era mais amável ou mais perversa?
            Comecei a tremer sem controle e sem motivo. Meus pés começaram a se mover em direção ao garoto de cabelos castanhos. Meus dedos tocavam meus lábios como se sentissem falta de algo. Meu coração se apertou e tive vontade de gritar. Então, entendi: havia uma parte de mim que faltava. E talvez o Misterioso soubesse como encontrá-la. Talvez ele até fosse ela.
            -Bianca! – exclamou Cami em voz baixa, segurando meu braço e me impedindo de seguir em frente. Por um breve segundo, juro que vi o jovem estremecer como se tivesse a escutado. Seria o tal visitante um vampiro também?
            -Eu... Eu preciso falar com ele, Camile – apontei para o local onde o Misterioso se preparava para partir. Suas mãos tocaram meu nome inscrito na lápide mais uma vez e depois se moveram para seu próprio coração. A dor o consumia.
            A ruiva pareceu finalmente perceber a presença do garoto. Sua boca tremeu como se ela estivesse prestes a explodir de raiva. – Bia, ele é um vampiro perigoso. Muito perigoso. Você não vai querer se envolver com alguém assim.
            Depois de tantos dias com os Moure, eu conseguia perceber quando mentiam de forma muito grave. E aquele era um dos casos. – Largue-me agora, Camile – minha amiga não me obedeceu – AGORA!
            A palavra ecoou por todo o cemitério e vi o Misterioso se virar imediatamente. Ele reconhecia até o som da minha voz. Eu queria tanto saber seu nome e poder chamá-lo. Mas minha mente era um lugar vazio e não havia nada a usar.
            Mesmo sabendo que iria ser o lado perdedor da briga, preparei-me para jogar Cami longe e correr em direção ao garoto. Porém, quando estava prestes a reagir, Jason surgiu por entre as árvores e me segurou pelas costas.
            -Eu não vou deixar que você se coloque em perigo. Você já morreu uma vez e não morrerá de novo! – sua voz era carregada de dor e desespero. Havia muita coisa em minha relação com Jason que meu cérebro sem diversas lembranças não conseguia entender.
            Talvez tenha sido por causa do sofrimento do vampiro loiro ou pelo meu medo dos Moure terem razão sobre o Misterioso, mas deixei que me levassem de volta para casa, em aparente segurança.
            Naquela noite, não consegui dormir imediatamente. Os barulhos da floresta me agoniavam e eu queria fugir daquele cemitério. Minha vida real nunca fora ali, então, as respostas que precisava encontrar também não estariam naquele lugar.
            Foi em meio a tantos pensamentos conturbados que caí no sono. E, pela primeira vez, sonhei com alguém do meu passado. Alguém que se dizia chamar Helena.
Escrito por StarGirlie.

Quinto Capítulo



            Acordei sobressaltada. O sonho com Helena tinha mexido comigo. Fora terrível ser obrigada a ver a jovem garota sendo torturada por vampiros. Seu cabelo era puxado por alguém encapuzado e ela gritava pedindo socorro. Seus olhos pareciam me enxergar mesmo que aquilo fosse apenas uma ilusão de minha mente.
            Não sabia se toda a cena era parte do passado ou se simplesmente havia imaginado. Era bem possível que, depois de ter quase brigado com Jason e Camile, eu estivesse com muita raiva dos vampiros. Porém, algo em meu coração me dizia que Helena estava sendo torturada em tempo real.
            Mesmo com o pânico provocado pela ideia de alguém da minha antiga vida estar sofrendo, consegui voltar a dormir. O bom de se morar em uma casa com vampiros e ser um deles é que ninguém tem pressa para acordar. À tarde, Cami bateu na porta de meu quarto, perguntando se eu queria tomar alguma coisa.
            -Eu prefiro conversar – respondi, abrindo a porta, ainda de pijama. A ideia de tomar sangue humano após o pesadelo era extremamente desagradável. Seria como se eu atacasse a própria Helena.
            Camile entrou no quarto já vestindo sua coleção de roupas preferida. Seu salto quinze e seus longos cabelos ruivos a deixavam parecendo uma vampira fatal. E talvez fosse mesmo. – O que houve, Bia?
            Respirei fundo. A pequena Moure merecia a verdade mesmo que, no fim das contas, ainda escondesse muita coisa de mim. – Eu quero saber sobre meu passado, Cami. Não aguento mais não entender nada.
            Minha amiga pareceu ficar sem ar, apesar de que vampiros não precisam respirar. Senti seu corpo tremer um pouco e sua voz estava fraca quando proferiu a frase:
            -Acho que você precisa visitar um lugar – ela tirou seu celular do bolso e digitou alguma mensagem – Se arrume. Vamos a uma boate.
            Tive que me controlar para não dar uma resposta grossa. Eu queria saber sobre o meu passado e não me embebedar como uma louca. Ou será que noites de bebedeiras faziam parte da minha história como humana? Não, não era possível. O Misterioso nunca gostaria de uma garota assim.
            Coloquei um vestido curto prata e me maquiei. Deixei meus cabelos os mais lisos possíveis e calcei os sapatos altos que Camile havia me dado de presente na última semana. Quando estava pronta, Jason apareceu na porta com aquele sorriso sedutor que sempre me deixava um tanto tonta.
            -Você está linda, Bianca. Como sempre – dei uma risadinha, sabendo que o “sempre” fora usado mais como um trocadilho ao invés de um simples elogio.
            Jason estava vestido com uma calça jeans e uma blusa preta. Sua beleza era estonteante e, por um momento, me senti traindo alguém, porém, não conseguia lembrar quem. Seria o meu grande amor do passado?
            -Para onde vocês dois loucos estão me levando?
***
            Estávamos no carro há mais de meia hora e não chegávamos a tal boate nunca. Quando estava prestes a me aborrecer realmente, escutei os freios reagindo e paramos na frente de um prédio preto com um letreiro brilhante dizendo: A Casa da Noite.
            Tive um mal pressentimento sobre aquele lugar. Escondido daquele jeito só podia ser um atrativo para vampiros e outras espécies do mal. Se havia uma coisa que eu queria evitar era me envolver com assassinos.
            Porém, não tive tempo para pensar sobre isso, pois, rapidamente, Camile me tirou do carro. – Não tire conclusões precipitadas! – exclamou minha amiga com um sorriso no rosto.
            E, quando entrei n’A Casa da Noite, entendi o que Cami quis dizer.
Escrito por StarGirlie.
Sexto Capítulo




            A música alta poderia ser ensurdecedora para um humano, mas para vampiros era extremamente agradável e animadora. Até mesmo eu, que estava bastante preocupada desde o sonho com Helena, queria pular na pista de dança e enlouquecer até o amanhecer.
            Porém, mesmo inebriada pela música, pelas pessoas tão diferentes entre si e por todo o ambiente dark, eu ainda não conseguia associar nada daquilo a minha vida humana. Duvidava realmente que conhecia um lugar povoado apenas por seres das Trevas. Se tivesse aparecido ali há alguns meses, provavelmente, teria virado o jantar.
            -Camile, isso não tem nada a ver com meu passado! – sussurrei em seu ouvido, enquanto Jason pegava alguns drinks de sangue para os dois. Eu havia me recusado a tomá-los. Quem me garantia que aquele líquido não vinha de humanos torturados? A Casa da Noite não parecia o tipo de lugar que convenceria os mortais a doarem seu sangue.
            Cami balançou sua cabeça ruiva no ritmo da música antes de responder. – Eu sei que não, mas viemos encontrar alguém que pode te ajudar a desvendar seu passado – nesse exato momento, o DJ parou a música e anunciou no microfone:
            -Olá, Sombrios. Parece que nessa noite a Casa está cheia – todos os vampiros, aparentemente bêbados, gritaram – E hoje temos uma presença muito importante!
            Algo se agitou na multidão. Reparei que algumas vampiras se preparam para o bote, enquanto os vampiros procuravam a origem de tanta raiva. Era claro: uma humana estava no ambiente. Ou quase isso.
            -Quem é ela? – não havia visto seu rosto, mas podia sentir seu cheiro. Diferentemente das pessoas que visitavam o cemitério (e das quais eu tentava me manter o mais longe possível), ela não parecia tão vulnerável.
            Camile e Jason, que bebiam animadamente seus copos de sangue, sorriram, mas foi a vampira quem respondeu:
            -A pessoa que estávamos esperando, é claro.
            Meu coração começou a palpitar. Quem seria esse alguém tão importante para parar a tal boate Casa da Noite e ainda saber sobre o meu passado? Comecei a imaginar o que, na verdade, essa pessoa poderia ser.
            Uma loba que estava na Terra há mais de mil anos e era especialista em fofocas? Uma bruxa que hipnotizava as pessoas para contarem seus piores segredos? Uma humana com um grande dom de sedução capaz de destruir a vida de diversos vampiros?
            Enquanto a garota, que parecia não passar dos quinze anos, subia as escadas em direção à mesa do DJ, não relacionei seus longos cabelos castanhos a outros vistos há tão pouco tempo. Entretanto, quando suas mãos seguraram o microfone e sua roupa provocativa deixou de chamar tanta atenção, meu mundo pareceu despencar.
            Não era possível. Ela não podia estar ali. Ela não podia ser a pessoa tão importante. Não tão jovem. Não tão humana.
            -Hey, gente! Sentiram minha falta? – gritou a adolescente que claramente era a Estrela do lugar. Todos os presentes gritaram em resposta. Bem, quase todos. Parecia que meu choque tinha atingido Jason e Camile também.
            Só que meu temor não vinha apenas do fato de que a garota no palco era Helena, mas também graças ao corte em seu pescoço. Ele podia estar escondido sob o cabelo, porém, eu podia sentir o que estava ocorrendo sob o disfarce. Ela estava sangrando. E muito.
Escrito por StarGirlie.

Sétimo Capítulo



            A música voltou a tocar, mas Helena continuou no palco conversando com o DJ. Ele era um vampiro bastante bonito e parecia ter trinta anos. Daquela perspectiva, os dois podiam ser irmãos.
            Camile pediu que eu ficasse no canto da sala junto a ela e Jason enquanto a garota não descia para a pista. Apesar de entender que Helena era parte do meu passado, os Moure não sabiam disso. Então, qual era a ajuda que a adolescente podia me dar?
            -Por que ela é tão importante? – perguntei à Cami. Jason bebia mais um drink de sangue e percebi que seus olhos começavam a ficar azulados. Em pouco mais de duas horas, ele estaria com duas grandes íris vermelhas. E bêbado.
            A ruiva remexeu na alça de seu vestido vinho e pareceu hesitar por um instante. – Helena Dennis é uma Ners. Ners é um tipo de ser sobrenatural que pode controlar qualquer outro e também humanos. Elas são o topo da cadeia alimentar, mas são muito raras.
            -Por que tão raras? – perguntei, enquanto tentava imaginar o que alguém assim podia ter a ver comigo. Até mesmo sendo vampira, eu continuava uma garota que não tinha nada de especial. Ou, pelo menos, era o que acreditava.
            -Elas são fruto de uma relação entre dois seres sobrenaturais de espécies diferentes que conhecem uma bruxa ou uma Ners de outra linhagem. E o pior é que a parte materna deve ser uma vampira que consegue engravidar. Nesse caso, Helena é filha de um lobisomem e uma vampira que foi transformada em humana por uma Ners.
            -Vampiros podem virar humanos? – aquilo parecia impossível. Se tal opção realmente existisse, não haveriam tantos Seres das Trevas pelas cidades, certo?
            -Podem, mas só pelas mãos das Ners. Elas podem transformar até bruxas em humanas completas, contanto que sejam próximas o suficiente. Por causa disso, normalmente, pessoas como Helena ou são mortas ou são mantidas a distância. Só que a Lena é uma estrela natural e ninguém consegue mantê-la longe da Casa da Noite.
            A tal Ners desceu finalmente do palco, mas ao invés de vir em nossa direção, ela começou a se dirigir para fora da boate. Na verdade, Helena estava sendo arrastada do local. Alguém a estava levando obrigada.
            Antes que pudessem me controlar, saltei sobre os outros vampiros e atravessei a pista em menos de um segundo. Alcancei a porta um instante após de Helena e quem-quer-que fosse seu acompanhante. –Aonde você pensa que vai, novata? – perguntou uma voz grossa ao meu lado.
            Virei-me e percebi que se tratava de um dos seguranças da Casa da Noite. Grande, corpulento e com um rosto fatal, o homem segurava meu braço e parecia a um segundo de enfiar uma estaca em meu coração. Ou qualquer outra coisa letal e horrível.
            -Eu... Eu precisava falar com uma amiga lá fora. Só isso – algo me dizia para não citar Helena àquele homem. Aquele sangue no pescoço da adolescente e sua condição de Ners só podiam significar uma coisa: ela estava em perigo.
            -Eu te deixaria sair se você não tivesse infringido a principal regra da Casa da Noite – e apontando para um quadro em neon na parede, o segurança assustador completou – Não utilizar suas habilidades vampíricas dentro da boate.
            O medo percorreu meu corpo. Tudo estava dando errado. Jason e Camile me impedindo de falar com o Misterioso. O pesadelo com Helena. Os Moure me arrastando para aquele lugar sinistro. A Ners aparecendo em um palco com seu pescoço vertendo sangue e depois sendo levada sem ninguém reparar. E, agora, isso.
            Porém, ainda havia um pouco de sorte em minha vida e, em um golpe de mestre, Jason e Cami surgiram em minha frente. Só que ao invés de se meterem em uma briga ali mesmo e apenas adiarem minha morte, os vampiros jogaram o segurança contra uma parede. Se lançando contra a porta em um movimento rápido, os dois fugiram do local, não sem antes, é claro, me carregarem junto.
            Enquanto uma multidão ensurdecedora gritava nossos nomes e parecia prestes a nos seguir, corríamos para cada vez mais longe. Meu corpo, nos braços de Jason, parecia leve e vulnerável. E era daquela forma que me sentia no momento.
Era graças a mim que estávamos fugindo. Era graças a mim que não poderíamos voltar ao cemitério. E era graças a mim mesma que meu passado teria que ser deixado para trás. Só esperava que não para sempre.
Escrito por StarGirlie.

Oitavo Capítulo

Helena





            Não era possível que aquilo tivesse acontecido. Não era possível que meu tio tivesse me arrastado para fora da Casa da Noite na frente de todo mundo. – Como você pôde fazer isso, James?! – eu queria poder arrancar sua cabeça de seu pescoço ou apenas condená-lo a uma vida humana, porém, sabia que no fundo isto era o que ele queria. Então, obviamente, não iria satisfazê-lo.
            -Se você parasse de ser uma adolescente irresponsável e imprevisível, não precisaria te arrastar por aí – ele bateu a mão no volante. Reparei que seus olhos estavam ainda mais negros do que o normal – Que coisa, Helena! Você sabe o quanto esse lugar é perigoso! Graças àqueles vampiros malditos seu pescoço está sangrando!
            Coloquei a mão sobre as feridas na minha jugular e tremi por um instante. – Você sabe que eu uso meu sangue como ingresso para entrar na boate. Eles querem se tornar mais poderosos e o sangue de uma Ners faz isso.
            -HELENA! – gritou James, enquanto entrávamos na estrada que levaria à nossa casa e à de Madi – Eles te torturam toda a vez que você pede para entrar naquela MALDITA de boate! Lembra-se da sua última ida àquele lugar? Você foi parar na UTI por uma semana INTEIRA! Suas veias estavam quase esvaziadas!
            Sabia que James tinha razão e me sentia mal por isso. Além de ter que conviver com a ideia de que Bianca estava morta, meu tio ainda se responsabilizava por minha educação, enquanto Lilá ficava em sua depressão profunda e Karl tentava impedir Nate de se matar. Grande família essa, hein?
            -Eu não vou ser uma criança, James! Chega de ser a Primeira Ners da linhagem! Vocês sempre querem me proteger do mundo. Trancam-me em uma casa no meio do nada e não me deixam ser nada! Não posso sair com meus amigos, mas vocês também não querem sair comigo – reparei que meu iPhone havia vibrado, mas decidi não ver a nova mensagem, não antes de terminar aquela conversa com James.
            -O que vocês querem que a minha vida seja? Eu não vou ficar presa por causa dos seus medos. Parem de moldar minha existência pelos seus erros, por suas decepções. Parem de querer que eu seja a Bianca! – gritei sem pensar no que aquelas palavras poderiam causar.
            Felizmente, naquele momento, chegamos em casa e James estacionou o carro na garagem. Seus olhos estavam úmidos e ele parecia prestes a desabar. Mesmo tendo a chance de fugir, preferi ficar ali e consertar o que havia quebrado.
            -Tio... Eu não devia ter dito isso – segurei sua mão, tentando desesperadamente transmitir um pouco da minha força vital a ele. Percebendo meu plano, James se afastou de mim – Você sabe que não quero te magoar.
            -Não se preocupe, Helena. Eu só ando muito mal desde que escutei a voz de Bianca no cemitério – ele tocou o anel que continha a foto de seu grande amor dentro. Imaginei como era perder alguém assim. Tinha certeza que não conseguiria suportar aquela dor.
            -Você sabe que isso foi uma ilusão da sua mente né? – perguntei, mesmo sabendo que James não era como minha mãe. Ele não acreditava que Bia estava viva. – Sim, eu sei. Por isso, foi horrível aquele som. Tive vontade de nunca mais voltar àquele cemitério.
            -Então, não volte. Simples assim. Coloque um ponto final nessa história, tio James. Bianca precisa descansar e te ver nesse estado nunca a ajudará – respondi, enquanto percebia que, novamente, a atenção se dirigia a Ners falecida. Eu não seria a preferida nem se morresse também.
            O vampiro olhou pela janela do carro, disfarçando a doce lágrima que caiu de seu olho. – Eu faria isso se não estivesse tendo os sonhos.
            Meu coração parou. Não, não, não. Aquilo não podia acontecer. Ele não podia sonhar com ela também. Meus sonhos não podiam estar ligados aos dele. Não, não, não. – Você está sonhando com Bianca?
            E, quando meu tio olhou para mim, tive a resposta. Uma única resposta que deixava claro duas coisas: estávamos recebendo avisos de Bia e aquilo só poderia significar que o perigo se aproximava. Ou era isso que pensávamos.
Escrito por StarGirlie.

Nono Capítulo
Helena




          Apesar de todo o nosso temor em relação aos sonhos com Bianca, nem eu nem James voltamos a tocar nesse assunto por um bom tempo. Fiquei feliz que as “aparições” de minha tia falecida só estavam ocorrendo comigo e com o vampiro. Sabia que, se fosse minha mãe, ela começaria uma busca imediata por alguém que todos já sabiam estar morta.
            No dia seguinte, pela manhã, todo o medo de que Bia estivesse nos mandando mensagens do Além havia desaparecido. James retornara ao seu estado de depressão e eu me apressei em fugir dos meus pais. Karl e Lilá estavam extremamente cansativos ultimamente com todo aquele papo de que meus poderes de Ners não deviam ser usados com tanta frequência.
            -Você pode perder o controle – diziam sempre, mas isso nunca me interessou. Eu sabia que era incrível em manter meus poderes na medida certa, então não escutaria uma ex-vampira e um lobisomem que nem conseguiam honrar suas espécies.
            Entrei no pequeno chalé que James havia construído para Nate em uma forma de retribuir sua ajuda em tentar proteger Bianca. É, no fim, tudo se tratava da Ners antiga. Não importava que eu fosse a Primeira de uma nova linhagem. Sempre meu brilho estaria apagado pelo dela.
            -Hey, Le – disse Nate, surgindo nas minhas costas, seus braços ao redor de mim. Sabia que ele não estava fazendo isso de propósito, mas sua aproximação quase fez meu coração sair pela boca. Meu tio não tinha a menor noção do que fazia comigo. E era bom não saber por um longo tempo.
            -Oi, fofo – dei-lhe um beijo na bochecha e me desvencilhei do seu abraço. Na cozinha, um café da manhã maravilhoso chamava minha atenção. Porém, o que eu não esperava de jeito nenhum era encontrar o cômodo ocupado.
            Uma jovem de feições doces estava sentada em uma das cadeiras. Suas mãos pálidas seguravam uma pequena caneca cheia de leite. Ela parecia tremer de frio, mas algo me dizia que aquilo era apenas atuação.
            -Ah, Helena, está é Alissa – a adolescente branca que nem neve se levantou e esticou sua mão para me cumprimentar. Tentei ao máximo não parecer irritada enquanto meus dedos eram obrigados a encostar nos dela.
            -Eu... – sua voz hesitou, como se ela não soubesse falar. E talvez não soubesse mesmo.
            -Alissa se feriu na floresta e, com essas baixas temperaturas, seu corpo estava começando a definhar. Encontrei-a perto da trilha e a trouxe para que sua mãe pudesse ajudá-la – explicou Nate despreocupadamente. Ele nem considerava o fato de que eu estava morrendo de ciúmes. Sua visão de mim consistia em apenas “a sobrinha rebelde”.
            Mesmo que Alissa parece ser uma jovem vulnerável e inocente, meu subconsciente me avisava para não confiar nela. – Você sabe que Lilá não conseguirá curar essa menina. Ela mal consegue se manter viva. Imagine cuidar de uma humana.
            Nate olhou para o chão sem saber o que dizer. Ele estava me escondendo algo muito importante. – O que está acontecendo que vocês não estão me contando?
            A ficha começou a cair sobre meu corpo. A pele branca de Alissa, seu falso frio, sua personalidade saltando em frente aos nossos olhos... Enquanto minha mente conectava todas as informações, a garota de cabelos negros se aproximou:
            -Helena, eu sou uma vampira – sua voz era doce e acolhedora – E tenho informações sobre Bianca.
            Aquela história estava saindo do controle. Minha tia não podia estar viva, eu vira sua força vital ser sugada pelo buraco negro. Não podia me iludir, não agora nem nunca.
Escrito por StarGirlie.




Décimo Capítulo





            Por mais que Jason tentasse, as coisas não haviam voltado ao normal desde nossa expedição à Casa da Noite. Ele e Camile estavam fazendo de tudo para que eu me acostumasse a nossa nova cidade, a nossa nova casa, mas cada detalhe parecia errado. Aquilo parecia mais longe da minha antiga vida do que o cemitério.
            O pior de tudo nem era o nosso novo lar, mas sim a escola em que passamos a estudar. Era claro que, naquela cidade de interior, um trio de adolescentes que moravam sozinhos e não estudavam causaria desconfiança. Para os moradores dali, seríamos drogados ou fugitivos da polícia.
            Então, para evitar problemas, nos matriculamos no único colégio particular da cidade, alegando que éramos órfãos e que vivíamos com a ajuda financeira de uma tia distante. Apesar de tudo parecer suspeito, o diretor acabou acreditando em nossa história e nos aceitou na instituição.
            O primeiro dia de aula fora extremamente estranho. Todos nos encaravam e esperavam que entrássemos em pane por sermos alunos novos. Obviamente, Camile e Jason estavam acostumados com aqueles momentos e ignoraram, sem problema algum, os curiosos. Porém, minha eu vampira nunca tinha ido a uma escola e ter que enfrentar o cheiro de tantos sangues diferentes acabara com minha energia.
            Quando finalmente chegamos em casa depois de cinco horas naquele tormento, resolvi perguntar algo que me incomodava desde os dias no cemitério?
            -Vocês me conheceram antes da minha transformação, não é mesmo? – Cami parou de tirar seu casaco e Jason voltou da cozinha. Os dois pareciam decidir o que dizer. Entretanto, eu nem precisava de uma resposta. Eles me conheciam bem demais para serem apenas novos amigos.
            Camile se sentou no sofá em minha frente. Reparei que seus olhos roxos estavam pendendo para o preto. Mau sinal. Ela teria que caçar e isso provavelmente envolveria um humano carente da nova cidade. – Bianca, de onde você tirou essa ideia?
            Fechei os olhos, lembrando-me por um instante do modo como Camile parecia conhecida antes mesmo de encontrá-la. Da mesma forma que ocorrera com Helena.
            -Eu só preciso de uma resposta e se vocês não me derem uma, terei que procurá-la sozinha – aquele ultimato não era exatamente sincero.
            Não queria me afastar dos Moure, mas precisa encontrar Helena e desvendar o meu passado. Os sonhos com a Ners continuavam e a cada noite o enredo mudava. Na madrugada anterior, a adolescente aparecera em um bosque, correndo de algo. Ela não parecia assustada. Era como uma diversão.
            Jason suspirou e se sentou ao meu lado. – Bia, nós não te conhecíamos. Você acha que, se te conhecêssemos, acharíamos tão normal sua volta dos mortos? – apesar de sua voz parecer sincera, seus olhos o denunciavam. O loiro estava mentindo.
            -Eu acho que estou cheia de mentiras, Jason! Você e a Cami estão mentindo desde que nos conhecemos. Vocês realmente querem que eu acredite nessa historinha de “desconhecidos solidários dispostos a cuidar de uma vampire recém-criada”? – esbravejei, sem saber de onde toda aquela raiva saía. Eu nunca me sentira tão magoada àquele ponto – Me poupem!
            Levantei-me, tentando ao máximo me afastar dos vampiros que me acolheram. Era como se uma parte escondida de mim estivesse tomando conta de mim. Minha parte humana. – Bianca, por favor... – disse Jason, segurando meu braço.
            -ME LARG... – porém, não terminei a ordem. Minha voz sumiu, meus olhos se fecharam, minhas pernas hesitaram e meu corpo desabou sobre os braços de Jason.
            Entretanto, antes de apagar completamente, lembrei-me de algo do meu passado. Especificamente, de alguém. E prestes a entrar na imensidão da inconsciência, só conseguia pensar no Visitante Misterioso.
            O mesmo Visitante Misterioso que eu agora sabia o nome. James.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Primeiro Capítulo





            Tudo estava escuro. Não sentia meus braços nem minhas pernas. Porém, podia contar cada respiração de meu coração, cada hesitação de minha alma. Era como se apenas meu espírito estivesse presente e todo o resto não existisse.
            De repente, minha visão foi melhorando e pude ver com clareza onde eu estava. O lugar era uma floresta fechada. A noite caía sobre minha cabeça e tudo parecia pertencer à parte sombria da Terra. A atmosfera estava carregada com o cheiro da Morte, mas eu não parecia me incomodar.
            Foi então que enxerguei. Sob meu espectro, estava minha versão humana e... Outra pessoa. Elas estavam abraçadas e lágrimas caíam de meus olhos. Não demorei a perceber que aquilo se tratava de uma despedida. Talvez eu soubesse que iria morrer. Talvez tivesse me despedido antes de quem amava.
            -Apenas me beije – disse a pessoa que estava abraçada ao meu eu humano. Tentei me aproximar mais da cena e me arrependi imediatamente.
            Ali, em minha frente, estava o Visitante Misterioso me beijando. Ou, pelo menos, beijando a garota que um dia fui. Os dois pareciam se mover de forma harmônica, mas desesperada, como se soubessem que aquele seria o último beijo.
            E então, observando àquela distância, reparei algo que talvez minha versão humana não tenha percebido. Enquanto os lábios de James se encontravam com os meus, uma espécie de líquido roxo tingia nossas bocas antes de sumir rapidamente.
            O que seria aquilo? Será que aquela cor roxa não passou de uma ilusão da minha mente ou realmente existirá? E se fosse verdade, o que ela era?
            Quando minha mente parecia se aproximar da resposta, minha alma começou a se afastar do beijo que tive com James. Ele e minha versão humana pareciam ainda unidos, mas eu já não conseguia vê-los com clareza. Era como se estivesse sendo sugada por um buraco negro.
            -Bianca, acorde! – chamou Jason, trazendo-me de volta à realidade. Eu estava deitada no sofá da sala, com ele e Camile ao meu redor. Os dois pareciam preocupados e, ao mesmo tempo, magoados.
            -Ah, graças a Deus! Você está bem, Bia? – perguntou Cami, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. Ela parecia um anjo com aqueles olhos roxos tão aflitos. Arrependi-me imediatamente de tudo que lhes disse antes de desmaiar.
            -Acho que estou – respondi sem saber realmente o que havia se passado. Será que eu voltara ao passado? Ou aquilo era apenas uma lembrança de minha vida que finalmente aparecia?
            Jason suspirou aliviado. Reparei que suas mãos pararam de tremer e seus braços, de repente, me envolveram. – Nunca mais me dê um susto desses, Bianca! Vampiros não desmaiam, você não devia desmaiar – sua voz estava tão desesperada que desejei nunca ter pensado nos Moure como traidores.
            -Eu estou bem, Jason. Por favor, não se preocupe! – implorei, querendo que toda sua dor desaparecesse. Queria que seu coração não fosse mais atormentado e que eu nunca mais os magoasse.
            Suas mãos seguraram meu cabelo e senti cada parte do meu corpo se arrepiar. Reparei que Camile sorria ao nosso lado. Era como se ela pudesse ver algo que eu não via. E foi neste momento que a ficha caiu.
            A vampira ruiva via o que meu espectro vira no sonho. Ela via um casal que dependia um do outro para sobreviver, via dois seres desesperados para acabar com a distância entre eles.
            Porém, havia um problema. James não estava morto, eu não estava morta. E isso implicava que aquele amor não deveria ter acabado ou ter sido substituído por um com Jason.
            O que eu estava fazendo? Estava apenas seguindo em frente ou traindo tudo e todos que amo? Infelizmente, para aquela dúvida não tinha resposta.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Segundo Capítulo




            Estava me sentindo estranha. Não era certo sentir algo por Jason, enquanto uma vida inteira se escondia em minha amnésia. Era óbvio que eu havia deixado James para trás e precisava reencontrá-lo antes de achar outro alguém para amar.
            Durante o resto do dia, não toquei mais no assunto “mentiras”. Se eles um dia decidissem me contar a verdade, eu estaria esperando. Não podia pressionar os Moure quando a culpada de tudo era minha própria mente. Algo em meu subconsciente realmente afirmava que eu era a culpada pela minha própria morte.
            Quando o sol já tinha se posto, Camile e Jason partiram em uma caçada. Era bom não ter que me alimentar diretamente dos humanos. Atacá-los, mesmo se eles deixassem, acabaria com toda a esperança que eu tinha em relação a minha humanidade.
            No momento em que os primos saíram, corri para o computador e entrei no Google. Queria procurar James em quaisquer que fossem as redes sociais, mas não sabia nada além de seu primeiro nome e duvidava que alguma coisa aparecia caso buscasse “James vampiro que visita cemitério por causa de ex-namorada morta”.
            E se... Então, ao invés de digitar essa busca idiota, preferi uma frase clara e que obviamente teria resultados: Morte de Bianca Sern.
            Porém, nenhum resultado se referia à minha morte. Era como se ninguém, além da família que chorara sobre meu túmulo, soubesse sobre meu falecimento. Era como se ele tivesse sido encoberto.
            Apesar da inutilidade da pesquisa no quesito “encontrar James”, acabei achando algumas notícias que se relacionavam a minha versão humana. De alguma forma, cada frase que lia sobre mim mesma há alguns meses me deixava menos confusa, menos perdida.
            Nada era muito específico. Falavam de minha vida em uma cidade pequena e em como eu me destacava na área das Artes. Também comentaram sobre o desaparecimento e provável morte de meu pai. De um modo muito estranho, aquilo nem chegou a me incomodar. Algo devia ter acontecido depois daquela reportagem para ter me deixado insensível daquele jeito.
            E, por fim, havia uma reportagem sobre a morte de quatro garotas prodígios. Manoela, Vitória, Laís e Sara foram encontradas assassinadas em diversas partes da cidade, porém, não havia nenhuma testemunha. As quatro adolescentes formavam o seletivo grupo que era denominado pelos colegas de Perfeitas.
            O que aquilo tinha haver comigo?, pensei inicialmente, até que me deparei com meu nome no fim da reportagem. Outra possível morte dessa gangue é nada mais, nada menos do que Bianca Sern. Policiais investigam o que teria causado o desaparecimento da nova aluna. Acredita-se que a garota tenha sido sequestrada pelos bandidos e que ainda esteja viva.
            Então, realmente ninguém sabia sobre minha morte. Para todos os alunos da minha antiga escola, eu era mais uma das vítimas de uma gangue e talvez a única que sobreviveu.
            Queria mais informações sobre minha antiga vida, então, cliquei em uma das reportagens relacionadas: Cemitério é investigado após o arrombamento de um dos caixões. Dono do local afirma que o zelador e sua companheira desapareceram logo após o roubo do corpo. Família do falecido se recusa a revelar o nome deste e decide destruir o túmulo que este ocupava.
            -Jason e Camile me roubaram da minha família... – sussurrei, relacionando os fatos. Eles podiam ter me salvado da eternidade naquele caixão, mas ambos me impediram de voltar a quem me amava – Mas por quê? O que eles não estão me contando?
            Continuei a clicar nas reportagens freneticamente. Estudante do antigo colégio das Perfeitas queima santuário com fotos e lembranças das quatro garotas e de sua namorada desaparecida, Bianca Sern. James, James. Minha mente não raciocinava. Era como se as coisas estivessem se encaixando.
            Mãe de garota desaparecida tenta suicídio. Maria Eduarda Sern tentou se enforcar na última sexta-feira, porém, o namorado de sua filha chegou a tempo de impedi-la.
            Não sei quanto tempo demorei para sair do computador, mas foi, naquele momento, ao ler a reportagem sobre minha mãe que tomei a decisão mais difícil de minha vida como vampira: eu deixaria os Moure naquela noite. Não importava quem tivesse que machucar para isso.

Escrito por StarGirlie.
É isso mesmo, Lembranças Amadas continua apesar da longa pausa que enfrentou! Como os capítulos atrasaram bastante, a partir de hoje, a novela deve ser postada todos os dias e não mais de segunda à sábado.


Décimo Terceiro Capítulo


            Sabia que faltava apenas algumas horas para Camile e Jason voltarem de sua caçada, então aquilo não me dava muito tempo. Não queria levar malas nem nada que me lembrasse dos Moure, mas entendia que sair sem dinheiro era impensável, até mesmo para uma vampira.
            Coloquei meu celular em cima da mesa, lembrando-me que os vampiros poderiam ter colocado um localizador nele. Não queria me deparar com nenhum deles no meio do meu caminho.
            Peguei três pares de roupa no armário e alguns bolos de dinheiro que encontrei escondidos em minha cômoda. Obviamente, Camile não imaginava que eu iria pensar em fugir do cuidado dos Moure. Encaixei tudo em uma pequena mala e a posicionei em minhas costas.
            Corri para a sala e liguei a TV. O meu objetivo era dar a impressão que ainda estava na casa. Não queria deixar o chuveiro ligado por causa do gasto excessivo de água, então, enchi a banheira, deixando o vapor do líquido quente percorrer todo o meu quarto. Quem adentrasse naquele local acreditaria que eu fui para o banho, esquecendo-me da televisão ligada.
            Quando estava prestes a sair pela porta da cozinha, avistei uma leve movimentação na região. Seria que Cami e Jason já haviam voltado? Havia se passado apenas duas horas desde que ambos saíram e não era comum que suas caçadas durarem menos de quatro horas.
            As árvores ao redor de nossa casa tremeram, mas não como se o vento as movesse e sim como se houvesse alguém se aproximando. Comecei lentamente a me aproximar do bosque ao lado da porta dos fundos. Minha alma vibrava dentro de um corpo, substituindo a falta de meu coração vivo.
            Mais passos, desta vez, em minha direção. Eu não conseguia me mexer. Quem quer que fosse estava acabando com minha coragem. Todos os meus músculos congelaram enquanto o ser desconhecido, finalmente, aparecia na minha frente.
            Quando o vi, não sabia se ria ou se chorava. Parada diante de mim se encontrava a jovem mais delicada que já havia visto. Sua pele era de uma brancura um tanto assustadora quando colocada em contraste com seu longo cabelo preto. – Mais uma vez me deparo com você, Bianca. Isso está se tornando estranho, não acha?
            Seus olhos roxos penetraram minha alma e tive vontade de fugir. Era claro que sua aparência frágil não passava disso. – Como você sabe meu nome?
            Sua risada ecoou pela floresta, me fazendo temer que os Moure a escutassem e acabassem voltando para casa. Não sei o que era pior: ficar nas mãos daquela garota desconhecida ou daqueles vampiros que me enganavam todos os dias.
            -Bem, é claro que você não me conhece. Meu nome, atualmente, é Alissa – sua mão pálida tocou a minha enquanto nos cumprimentávamos e por um breve segundo senti um arrepio percorrer meu corpo, mesmo que vampiros não sentem frio.
            -Atualmente? - Sim, Bianca. Eu já tive muitos nomes ao longo dos séculos. É claro que você ainda não conhece nenhum deles. Mesmo sua versão humana era jovem o bastante para nunca ter me visto...
            -Então, como você sabia sobre mim? – Alissa deu um sorrisinho falso. Parecia que cada palavra minha levava sua mente ao extremo da raiva, do desespero e da fúria. Ela definitivamente não gostava de mim, apesar de que tentava disfarçar isso.
            -Vamos dizer que você roubou alguém importante para mim – quando a vampira percebeu que eu ia negar, completou rapidamente – Mas o destino te fez perdê-lo.
            -Mas se o destino o levou de volta para você, qual o problema comigo? – perguntei, enquanto sentia o cheiro do perfume de Camile não muito distante dali.
            -Bem, esse é o problema. O destino não me trouxe quem me pertencia. Portanto, o único modo de recuperá-lo é mostrar o quão errado foi te escolher ao invés de me esperar – disse Alissa, antes de seu punho acertar minha cabeça em cheio e eu novamente desmaiar.
            Escrito por StarGirlie.

Décimo Quarto Capítulo


            Quando abri meus olhos, estava em um carro. Alissa estava ao meu lado e parecia dirigir com bastante atenção. Percebi que seu rosto estava molhado, como se ela estivesse chorado antes que eu acordasse.
            Antes que pudesse me acomodar no banco, já que não havia forma de fugir de uma vampira que estava há séculos na Terra, me surpreendi com sua voz. – Por que ele tinha que escolher você, Bianca? Eu o amei a minha vida inteira, a minha eternidade inteira e ele simplesmente me deixou partir!
            -Ele quem, Alissa? Não sei se você sabe, mas esqueci de todo o meu passado. Não me lembro de nada da minha vida humana – relembrei, mesmo sentindo que nem se fosse humana entenderia aquela história.
            Alissa pareceu divagar um pouco, como se lembrasse de uma parte de seu passado que eu nunca poderia alcançar. – James, Bianca. O Visitante Misterioso, o seu James... É dele que estou falando. É ele quem você me roubou.
            Minha mente pareceu parar por alguns instantes. – Ele ainda não sabe que fui eu quem avisou Nate e Helena – arfei ao ouvir o nome da Ners – sobre a sua possível não-morte. Provavelmente, acredita que sou uma qualquer que está pregando uma peça neles. Infelizmente, não é verdade.
            -Mas por que você está me levando de volta para ele? Por que não contou que era você? – Alissa abaixou os olhos. Havia algo muito importante que ela parecia custar a admitir até mesmo para si mesma.
            -Eu o amo, Bianca. E James já me amou, há muito tempo atrás. Só que ele me perdeu, ou pensou que me perdeu, e superou. Ele encontrou você e toda a minha história se tornou passado. Ele não me esperou, não passou pelo luto que está passando por você.
            “Só que James acredita em uma mentira. Ele acredita em sua morte e que você morreu como uma humana pura. Ele nem imagina que você se tornou uma vampira.
            -Deixe-me adivinhar... Você espera que, quando ele me ver com esses olhos roxos, todo seu amor por mim irá desaparecer? – perguntei, enquanto remexia no porta-luvas. Não estava procurando uma arma ou algo parecido, mas sim um CD que tornasse aquele sequestro um pouco mais agradável. Afinal de contas, ela estava me levando ao encontro do meu passado e era isso que importava. Não importava os motivos.
            -Não sou tão ingênua assim. James irá pular de alegria quando te encontrar “viva”. Mas depois de um tempo, ele perceberá que a antiga Bianca morreu naquela noite. Ela nunca mais irá voltar. Suas lembranças podem ressurgir, porém, aquela humana que tinha sonhos e acreditava neles desapareceu para sempre.
            Senti um aperto no coração ao perceber que aquelas palavras eram verdadeiras. Eu não era mais humana. Em nenhum aspecto. Apesar de todas as minhas tentativas para me tornar menos vampiresca, não conseguia mais pensar como um ser frágil ou sensível. Tudo de bom havia desaparecido de meu coração.
            -Você quer acabar com o mal pela raiz. A única forma de recuperar James seria acabar com seu amor por mim – a dor abateu minha alma, como aquilo realmente fosse importante. Talvez eu não estivesse totalmente perdida.
            -Não fique triste, Bianca. Depois de tudo isso, você poderá ter sua mãe de volta e ainda ficará com Jason pela eternidade. Não parece perfeito? – Alissa parecia ver aquilo como um futuro bom. Ela até parecia preocupada com o que aconteceria comigo depois de perder James para sempre.
            Porém, enquanto entrávamos em uma trilha que eu sabia que nos levaria à casa dos... Juges. O sobrenome surgiu com tal facilidade como também os nomes da família de vampiros: James, Lilá e August. O que estava acontecendo comigo?
            -Bem-vinda de volta, Bianca – disse Alissa, enquanto estacionava no meio de duas mansões. Uma delas pertencia à minha mãe, outra à família do meu namorado.
            Tudo estava acontecendo muito rapidamente... Minha mente rodava, as informações inundavam meu corpo. E antes que percebesse, estava desmaiando. É, mais uma vez.
Escrito por StarGirlie.

Décimo Quinto Capítulo

Camile





            Não era possível que Bianca tivesse fugido. Jason estava desolado, já que realmente acreditava que a vampira o via de uma forma romântica. Aquele acontecimento lhe provava que Bia nunca fora apaixonada por ele.
            -Camile, o que faremos agora? – meu primo sentou-se diante de mim com seus olhos apenas mostrando a dor que assombrava seu coração. Por um momento, me lembrei de como James olhava para o túmulo de Bianca. Era exatamente daquele modo.
            -O que sempre fizemos, Jason. Nós esperaremos. Estamos há séculos esperando Bianca – olhei para a casa ao nosso redor, me arrependendo de ter aceitado a ideia do vampiro de encontrar a garota nessa vida – Você sabe que foi um erro termos tentado novamente nos aproximar dela. A versão humana de Bia já nos havia rejeitado.
            -Você realmente acredita na Maldição, Camile? – perguntou Jason, olhando fixamente em meus olhos. Quando o assunto era a Maldição, eu conseguia ver claramente o quão frágil meu primo nunca deixou de ser.
            Levantei-me do sofá e olhei para a noite que caía do lado de fora da casa. Tinha medo por Bianca. Ela não fazia ideia do quanto sua vida era amaldiçoada. – Acredito, Jason. Você pode não ter visto as consequências da Maldição, mas eu vi. E desejo nunca mais ver.
            Enquanto pronunciava aquelas palavras, as lembranças me consumiram e de repente era como se estivéssemos em 1500.
            Era uma tarde comum. Os trabalhadores se empenhavam em suas funções, tentando de todas as formas ignorar o medo que crescia em suas mentes. Desde a morte do rei, a criadagem acreditava que o castelo estava amaldiçoado.
            Eu e Jason estávamos parados sob o sol escaldante, conversando sobre a pequena princesa que fora deixada aos cuidados da mãe irresponsável. – Ela não vai sobreviver muito mais do que este ano. Aquela mulher mal sabe alimentá-la – afirmou meu primo.
            -Você sabe que não é verdade. Madeleine apenas está passando por um momento difícil. Seu marido acaba de morrer. Queria que ela estivesse como? Pulando de felicidade? – retruquei, decidida a defender, de alguma forma, a Rainha.
            -Claro que não, Camile. Mas a princesa não merece viver a vida que a rainha irá lhe proporcionar. Ela merece muito mais e você sabe disso – Jason remexia no banco em que estávamos sentados, como se estivesse atormentado.
            Toquei seu braço e ele olhou em meus olhos. – Jason, nós já estamos fazendo todo o possível. Você viu o que aconteceu quando tentamos salvar a vida do Rei – relembrei, colocando alguns dedos sobre sua jugular – Nós nunca mais iremos ser os mesmos por causa de seu amor pela princesa.
            -Nós não podíamos deixar o Rei morrer, Camile. Ele era um homem bom e a única pessoa que realmente queria Bianca acima de qualquer coisa. Você sabe que Madeleine fugiria com o médico se fosse possível – tapei sua boca imediatamente. – Você está louco, Jason? Ela é a Rainha. Sei que somos... Aquilo, mas isso não a impede de cravar uma estaca em nossos corações.
            -Camile, eu não vou deixar que a princesa seja... – porém, Jason nunca teve a chance de terminar sua frase. Alguns segundos depois um criado surgiu no pátio aos gritos:
            -A PRINCESA DESAPARECEU! A PRINCESA DESAPARECEU!
            A partir daquela tarde, a eternidade de Jason se resumiu em esperar o dia em que a princesa voltasse para seus braços. A partir daquela tarde, Jason esperou que Bianca retornasse, amando-o mais do que qualquer outra coisa no mundo. E fora exatamente por isso que nós dois não contamos a verdade sobre os Juges. Porque, obviamente, a vampira iria voltar para os braços de quem sempre amou: James.
Escrito por StarGirlie.

Décimo Sexto Capítulo
Alissa



            Depois de ter deixado Bianca na casa dos Juges, me apressei em sair o mais rápido dali. Não queria encontrar James, não depois de tanto esforço para ele não me reconhecer nos últimos anos. Se bem que mesmo se eu tivesse permanecido ali, o vampiro nunca teria percebido minha presença. Ele só veria sua amada.
            Queria me manter o mais longe de James até que ele se decepcionasse com Bianca. E do jeito que ela estava, não demoraria muito. Por isso, acelerei meu carro em direção da Casa da Noite.
            Não levei nem vinte minutos para chegar à boate, onde eu sabia que encontraria meu conforto. O segurança, já um grande amigo meu, veio me abraçar e perguntar se meu plano dera certo. Era claro que tudo envolvendo a presença de Bianca naquele lugar havia passado pelas minhas mãos.
            Respondi que sim, enquanto pensava em como fora fácil manipular a vampira. James acabara ajudando, na verdade. Quando retirou Helena da boate, Bianca se sentiu forçada a segui-la e, portanto, usou seus poderes de vampira para tal.
            Lá dentro, o ambiente estava quase vazio. Era uma noite de semana e a maioria dos vampiros tentava seguir a vida normal dos humanos. Sentei-me em uma das mesas do canto, tentando apreciar o talento do DJ. Porém, nada parecia me agradar. Até mesmo os copos de sangue oferecidos pelo garçom não aumentavam a minha felicidade.
            Tentei transformar meus pensamentos em algo positivo, mas nada surtia efeito. Tudo porque meu coração se concentrava na ideia de que, naquele mesmo momento, James estava abraçando Bianca e a fazendo feliz.
            -Alissa? – perguntou uma voz ao meu lado. Sobressaltei-me, virando-me rapidamente. Parado em frente à mesa, estava nada mais nada menos que Jason. Sim, o mesmo Jason de quem acabara roubar Bianca. Mas qual é mesmo o ditado? Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.
            -Jason! – lancei-me em um abraço com o loiro, rezando para que o perfume de Bianca não tivesse ficado em minha roupa – Quanto tempo, hein?
            -Aproximadamente, sessenta anos. E você não mudou nada – disse o primo de Camile, fazendo aquele mesmo trocadilho de sempre. – Nem você – retruquei, enquanto indicava que ele se sentasse comigo.
            O vampiro olhou ao redor com aqueles olhos tristes. Era claro que Jason estava sofrendo pela perda de Bianca novamente. – Ela desapareceu, não é? – perguntei, sabendo que não havia como fingir que não sabia sobre a vampira.
            -Sim, Alissa. Mais uma vez – ele olhou para seus tênis e tive vontade de contar-lhe toda a verdade, mas não podia. Aquilo acabaria com nossa amizade e, provavelmente, com minha vida – Você acha que ela vai voltar? Novamente?
            Toquei seu rosto, desejando poder acabar com todo aquele sofrimento. Jason era meu amigo desde meus dias de humana e era triste vê-lo daquele jeito. É claro que ele já passara por isso diversas vezes, mas ainda assim era difícil. E tudo por causa daquela idiota da Bianca.
            -Ela sempre volta, não é, Jason? A história de vocês não acabou. Mas você sabe que todas as reencarnações de Bianca precisam seguir em frente sem a sua presença – relembrei, tentando evitar a lembrança de que uma vez tentara ajudar nesse enredo amaldiçoado. As consequências contra mim não podiam ser piores.
            -Mas ela nunca me escolhe, Alissa. Tenho medo de que ela nunca me ame – disse Jason, enquanto bebia mais um copo de sangue. Temia que o vampiro acabasse bêbado como sempre acontecia quando perdia Bianca, então tirei o drink de suas mãos.
            -Chega de depressão, Jason. Você passou os últimos 500 anos correndo atrás da Bianca! Não acha que é a hora dela correr atrás de você? – perguntei, enquanto a culpa me consumia. Era graças a mim que provavelmente a vampira não amasse o loiro nesta vida. Se eu não tivesse a levado até a casa dos Juges, a garota poderia passar a vida tentando convencê-los de quem era.
            -Eu não vou desistir da Bianca. E é por isso que voltei para cá – Jason se levantou – Curitiba vai ter que me aguentar novamente. Porque, dessa vez, não vou perdê-la para o James.
Escrito por StarGirlie.

Décimo Sétimo Capítulo


            Felizmente, o desmaio não durou muito tempo e logo retomei minha consciência. Porém, eu não estava nem um pouco a vontade com a situação que ocorreria quando abrisse meus olhos, portanto, os mantive fechados, tentando prolongar minha paz ao máximo.
            -Será que é ela mesmo, James? – perguntou uma voz vinda de algum lugar acima de mim. Relembrei quase imediatamente que esta pertencia à garota que afirmava ser a culpada da minha morte quando acordei em meu caixão.
             -Só pode ser, Lilá – disse James, tocando em meu rosto. Senti minha pele formigar, como se algo me alertasse que aquilo estava fugindo do controle – Ela é exatamente igual à Bianca.
            -Mas a Bianca está morta! – gritou Helena. Fiquei feliz em saber que ela estava bem e não em perigo como eu supera depois daquela noite na Casa da Noite.
            Apesar de todos os meus medos, era hora de enfrentar a verdade. Segurei o ar e abri meus olhos. O choque percorreu o rosto de todos. Era como se um alienígena houvesse surgido na frente da família. E eu sabia o que realmente causara todo aquele espanto: a cor roxa que tomava meu olhar.
            -Meu Deus, ela é uma vampira! – afirmou uma mulher que estava abraçada a um vampiro. Pelos seus cabelos e olhos castanhos, deduzi que ela era Madi, a minha mãe.
            Todos pareciam extremamente perplexos, com exceção de James, que parecia até mesmo contente. Era como se ele sempre tivesse esperado aquilo, como se sempre soubesse a verdade. – Bianca, é você mesma? Não estamos tendo nenhuma alucinação? É você que está nos meus braços?
            Sim, sou eu, James. Eu voltei para você. Por favor... As palavras surgiram em minha mente, mas não as proferi. – Sim – respondi apenas, tentando me sentar longe do toque do vampiro de cabelos quase bronze.
            O rosto de James transpareceu o quanto este ficou chateado quando me afastei de seus braços, mas meu coração não pareceu sentir pena alguma. Era como se minha nova versão não conseguisse se convencer de que a antiga o amava.
            -Há algo errado com ela – sibilou Helena, mas a sua voz não era a mesma de antes. A Ners parecia estar em transe com seus olhos castanhos parados e me encarando.
            -É claro que há. Ela é uma vampira, Helena. Acabamos de dizer – relembrou o homem que abraçava a minha mãe. – Bianca não se lembra de nenhum de nós. Somos completos estranhos para a sua mente – continuou a garota como se nenhum de nós estivesse presente.
            James finalmente pareceu perceber a gravidade da situação. Seus olhos quase saltavam das órbitas, seus lábios estavam pálidos como os de um cadáver. – Você não se lembra de mim?
            Resisti ao impulso de revelar que me lembrava de nossa despedida, com medo de que isso apenas o iludisse sobre minha memória. Não queria que ele me perseguisse para me fazer lembrar do resto de nossa vida. – Desculpe-me, mas... Só sei que você visitava meu túmulo e mais nada.
            James se afastou de mim rapidamente, como se eu tivesse lepra. – Você me via visitando o seu túmulo, chorando a sua morte e NUNCA fez nada para acabar com a minha dor?
            Tentei abrir minha boca para me defender, para dizer que os vampiros que me salvaram não deixavam que eu me aproximasse dele, mas James foi mais rápido. – Quem é você? Que tipo de monstro você se transformou?! Você não é a Bianca! A minha Bianca nunca se esqueceria de mim!
            Ninguém conseguiu detê-lo quando ele resolveu entrar no bosque. Era como se todos tivessem medo de enfrentá-lo em um momento que estava com tanta raiva.
            Foi então que minha mãe se pronunciou. Seus braços me envolveram rapidamente e, finalmente, pude sentir amor por alguém daquela casa. Enquanto minha mente conseguia associá-la com a ideia de carinho, sua voz dizia apenas:
            -Tudo vai ficar bem, Bianca. Isso é apenas o começo.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Oitavo Capítulo



            James não voltou para casa naquela noite. Minha mãe tentou me fazer dormir, mas eu só conseguia esperar o vampiro, sentada em frente à janela do meu quarto. Depois de algumas horas, Madi me deu um beijo de boa noite e foi descansar. Sabia que era injusto não lhe dar o carinho merecido, mas não conseguia amá-la como mãe. Não ainda.
            Quando o sol começou a nascer, escutei passos vindos do bosque, mas eles logo se silenciaram. Devia ser Nate, o lobisomem, passeando pelo perímetro. Porém, segundos depois, escutei três batidinhas na janela. Abri o fecho e... James entrou.
            -É... Desculpa-me, Bianca – disse o vampiro quando viu minha cara de choque – Eu não devia aparecer aqui...
            Segurei seu braço por impulso. Meu coração pedia desesperadamente para que eu não o deixasse partir. Não depois de tanto tempo afastado. – Não, James. Eu estava te esperando. Fique aqui, por favor.
            Os olhos do adolescente fizeram com que o ar parasse em meus pulmões. Você já amou esse olhar preto antes. – Você realmente me quer por perto? Quer um estranho? Alguém que não lhe lembra nada? – Você já beijou os lábios que agora pronunciam essas palavras. Bianca, você já amou James mais do que sua própria vida.
            Sentei-me na minha cama e tentei controlar meu nervosismo quando ele me acompanhou. – Eu não sei quem sou, James. É tudo um apagão. Só me lembro de ter acordado em um caixão no meio de um enterro. Agora sei que era o meu...
            -Espera um instante – disse James, segurando minha mão – Você acordou praticamente poucas horas depois da sua morte?
            -Acordei – continuei – Eu acho, na verdade. Depois passei horas gritando, pedindo por socorro. Foram momentos horríveis, James. Acreditei que passaria a eternidade naquele inferno... Mas, então, alguém me tirou daquela prisão. E não senti medo do meu salvador.
            “Ele era um vampiro chamado Jason Moure. Sei que Jason me roubou de vocês, mas, no fim das contas, foi ele que me salvou. Se não fosse o ‘zelador’, eu nunca estaria aqui. E você, James, nunca me veria novamente.
            O filho de August olhou para todos os cantos do cômodo, menos para minha direção. Parecia que ele tentava fugir do meu olhar. Como se escondesse algo, como se escondesse uma culpa muito maior. – Você gosta desse tal de Jason? – percebi que o falso ciúme era apenas uma tática para me distrair.
            -Não sei se da forma como você teme que eu goste. Ele é um excelente amigo, apesar de ter me escondido tanta coisa. Na verdade, tanto Jason quanto Camile podiam mentir muito, mas eram pessoas incríveis que estavam dispostas à qualquer coisa para me salvar.
            James estava tão quieto que chegava a me assustar. – Por que você está nesse silêncio horrível? Por que você não diz nada?
            Então, o vampiro me surpreendeu. – Porque eu conheço Jason e Camile há muito mais tempo do que você está na Terra. Porque sei que aquele loiro infeliz vai tentar te conquistar DE NOVO! Porque sei que a ruivinha é “tão fofa” que você não pode traí-la. Porque sei que você só está aqui por obrigação, não por prazer.
            As lágrimas queriam saltar dos meus olhos, mas, como com qualquer vampiro, algo as impedia de se libertar. – Você não devia me dizer essas coisas! Eu não me lembro de nada. Você devia respeitar isso! – me encolhi no meio das almofadas, tentando me afastar o máximo do vampiro.
            -Bianca, eu te transformei. Contar-te alguns dos segredos dos Moure não é o pior pecado do mundo – retrucou James, agindo de forma oposta ao que parecia ser seu comportamento habitual. Porém, não eram suas frases rudes que chamaram minha atenção.
            Eu te transformei. Eu te transformei. – VOCÊ FEZ O QUÊ? – gritei em plenos pulmões, desejando poder arrancar sua cabeça. Ah, graças a ele, eu podia fazer isso. Então, me lancei contra seu corpo.
Escrito por StarGirlie.

Décimo Nono Capítulo
Camile



            Ao contrário de Jason, não escolhi voltar à Curitiba. O lugar onde estava me fazia feliz e não iria me arriscar novamente pelas loucuras de meu primo. Ele não merecia mais meus sacrifícios. Havia feito sua escolha e agora arcaria com suas consequências sozinho.
            Depois que o vampiro foi embora, continuei trancada em casa. Tentei dormir, porém, nem mesmo o pio das corujas, algo que me relaxava tanto, ajudava. Meu coração e minha alma estavam atormentados. Sabia que Jason se meteria em uma grande encrenca e era difícil não correr para protegê-lo.
            Pela manhã, minha mente tumultuada se perdeu em meio a pensamentos e voltei àquelas lembranças que só tornavam minha eternidade pior.
            Ainda era o dia do desaparecimento da princesa. Jason estava mais do que desesperado, estava prestes a morrer. Se isso fosse possível é claro. – Você precisa parar de drama, Jason. – avisei-o antes de entrarmos no quarto da Rainha – Bianca fugiu. Ela escolheu. Ninguém a levou ou nada do gênero.
            Jason se remexeu, inquietamente, em frente à porta do cômodo onde Madeleine nos esperava. – Nós não temos certeza disso, Camile. Ninguém estava presente no momento em que Bia saiu do castelo. Quem nos dá a segurança de que um louco não a levou?
            Olhei em seus olhos pretos, tentando me lembrar de como era agradável encará-los quando eram verdes. Porém, graças a essa maldita paixão de Jason, até mesmo os mais bonitos detalhes de nossa existência haviam sido destruídos. – Olha – toquei a maçaneta da porta – façamos o seguinte: falaremos com Madeleine agora e depois resolvemos isto. Está bem?
            Antes que Jason pudesse rejeitar a ideia, abri a porta e me deparei com a Rainha aos prantos, jogada no chão do meio do quarto. Aproximei-me correndo, temendo que ela estivesse morrendo também, como acontecera com o Rei. – O que houve, Majestade?
            -Bianca... Bianca... – sua voz estava fraca, seus olhos brilhavam com suas lágrimas, seu rosto vermelho. – Eu sei, Majestade. Ela sumiu. Todos nós estamos preocupados com a situação.
            -Não é isso, srta. Moure – disse a Rainha, recuperando um pouco de sua compostura – Bianca...
            -Diga-nos, diga-nos, por favor, Majestade. Não me mate de ansiedade deste modo – implorou Jason, se ajoelhando ao meu lado. Madeleine tentou evitar olhá-lo com desprezo, mas é claro que isso acabou acontecendo. Éramos apenas parentes distantíssimos do Rei e, portanto, não merecedores de sua admiração ou respeito.
            -Acalme-se, meu jovem. Ninguém lhe ensinou a não interromper a Rainha? – brigou Madeleine, finalmente se levantando e retomando a postura irritante com quem ninguém gostava de conviver – Bem, o que eu estava tentando dizer é que Bianca – seus dedos enxugaram as lágrimas – está amaldiçoada.
            -Como assim “amaldiçoada”? – perguntei, olhando para Jason. Apesar dos boatos de que o castelo estava amaldiçoado, nós dois sabíamos realmente qual era a Maldição que assolava o reino.
            Madeleine tocou seu medalhão de ouro com um olhar culpado. Seus dedos tremiam levemente e quando seus olhos se levantaram, entendi que a Rainha não falava dos amaldiçoados que nós conhecíamos. – A culpa é minha... Eu amaldiçoei Bianca a nunca poder descansar antes de cumprir sua missão.
            -Eu não estou entendendo, Majestade – disse Jason, com os braços rígidos. Podia ver o desespero do garoto ao meu lado. Nenhum de nós compreendia o sentido daquelas palavras.
            -Eu transformei Bianca em um ser que até o momento não existia. Eu transformei a minha própria filha em uma Ners. E uma Ners não para de reencarnar até o momento que encontre seu Destino – esclareceu Madeleine.
            Desde então, Jason nunca acreditou no que a Rainha disse. Como convivíamos com alguns grupos de Ners e nenhuma delas parecia reencarnar de forma tão semelhante à de Bianca, o vampiro não aceitava a ideia de que a Maldição realmente existia. Para ele, as várias versões de Bia eram apenas um truque do Destino.
            Porém, eu sabia que meu primo estava errado. E quando ele conhecesse Madi, a atual mãe de Bianca, também saberia.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Capítulo


            A raiva pulsava em minhas veias, queria matar James, mas minhas mãos não conseguiam apertar seu pescoço. Meu próprio corpo se voltava contra minha mente. – POR QUE NÃO CONSIGO TE MATAR? O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COMIGO?
            O vampiro de cabelos quase bronze parecia muito magoado. Seus olhos pretos se tornavam cada vez mais tristes e tive vontade de esquecer o fato de que ele havia me condenado a uma existência horripilante, mas não podia. Não enquanto não me vingasse.
            -Pelo mesmo motivo que você sente sua alma hesitar quando se aproxima de mim – disse James tocando meu rosto – Você acha que eu não percebo o quanto pensa antes de me dizer qualquer coisa? Você está mentindo para mim e sei disso.
            -E que motivo maldito é esse? – perguntei, afastando finalmente do vampiro, decidida a não abandonar meus princípios. Era difícil manter o jeito de durona quando um adolescente lindo estava tentando te seduzir. Ainda mais um adolescente que você já amou em outra parte de sua vida.
            Sentei-me em uma poltrona e esperei que James começasse a explicar. – Você realmente não se lembra de como te transformei, não é mesmo? – o filho de August olhou em meus olhos roxos como se procurando a antiga cor... castanha. Neguei com a cabeça – Bem, então eu tenho muito a te explicar.
            “Na noite de sua morte, todos nós sabíamos que este seu Destino era inevitável. Você havia acabado de completar quinze anos. Estávamos em meio a uma Guerra graças ao seu pai, que se transformara em um vampiro e estava tentando, com ajuda de uma vampira maligna, tomar Helena para si.
            “Ele era um canalha e estava pouco se importando com a tristeza que causara em você e sua mãe depois de sumir para se tornar vampiro. Não é fácil dizer isso, mas eu o matei. Você me apoiou, de alguma forma. Anderson, seu pai, iria assassinar todos nós, incluindo sua mãe. Então, obviamente, ele era um inimigo.
            “Quando todos os inimigos estavam mortos, a Terra começou a exigir que o poder das Ners, usado durante a Batalha, fosse devolvido. Só que para isso, todas vocês tinham que morrer. Você, Lilá, Helena e Madi eram propriedades da Natureza e deviam voltar para ela.
            "Uma Ners é capaz de controlar qualquer ser sobrenatural ou humano. Seus poderes são baseados nos da Terra, então elas são praticamente invencíveis. Quando você era humana, era uma Ners poderosíssima. Nunca entendi o porquê para falar seriamente. Ninguém nunca me explicou a verdade, então...
            -Pode continuar a história – ordenei, não querendo imaginar porque até como humana era diferente.
            “A Terra não queria todas vocês. Ela queria mais especificamente a Helena. Só que, obviamente, Lilá não a deixaria morrer. Então, minha irmã estava pronta para morrer com sua filha e ninguém iria impedi-la de fazer isso. Exceto você, é claro.
            “Quando o buraco que se abrira na terra se preparava para engolir as duas Ners, você usou todo o poder que possuía para retirá-las de lá. Mas isso tinha um preço: a sua morte. Depois que Lilá e Helena estavam a salvo, a Terra sugou sua força vital e você caiu morta no chão.
            Meus olhos estavam em choque. Era horrível saber como havia sido minha morte. – Mas você não podia estar morta. Eu havia lhe dado meu veneno e, portanto, você devia ser uma vampira. Entretanto, as horas passaram e seus olhos não se abriram. Por isso, nem me dei ao trabalho de contar a todos que havia tentado lhe transformar. Provavelmente, apenas os iludiria que você estava viva.
            -Então, depois do seu enterro, passei a sonhar com você todos os dias. Te escutava gritando e pedindo que não me abandonasse. Ia ao cemitério sempre, mas nunca escutava a voz de que tanto precisava.
            “Era claro que a forma que eu usara para te transformar dera errado. Nenhum outro vampiro jamais tentara injetar veneno em um humano através de um beijo. Mas você nunca escolheria virar uma vampira tão jovem e eu não podia simplesmente te perder. Sei que fui muito egoísta, porém, eu te amo mais do que minha própria vida e não suportaria nunca mais te ter ao meu lado.
            -Você me transformou através de um beijo? É por isso que havia aquele líquido roxo em nossos lábios no beijo de despedida? – questionei, tentando ligar os pontos. Não era normal uma transformação que não envolvesse dor e mordidas.
            -Sim. O beijo era capaz de te transformar em vampira e te ligaria à mim de uma forma eterna. Foi por isso que você não conseguiu me matar. Sua alma está ligada à minha. Não queria que você sofresse, mas tudo tem uma consequência, e aquele foi o único jeito que encontrei... – James parou de falar ao perceber o que eu havia acabado de dizer – Espere um instante, você se lembra da nossa despedida?
            Fechei meus olhos, desejando não ter dito nada. Porque a partir daquele momento, James nunca mais desistiria de recuperar minha memória e meu amor.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Primeiro Capítulo

             Pela manhã, tudo estava diferente. A mãe de Helena, Lilá, parecia ter recobrado a cor de suas bochechas e seus olhos brilhavam como duas estrelas. Karl, o marido da ex-vampira, conversava com seu irmão animadamente. James mexia em seu computador de forma calma como se o mundo pudesse esperar. August e Madi conversavam abraçados em um dos bancos do jardim. Já Nate parecia se ocupar em fazer o café-da-manhã de Helena.
            -Bom dia – sussurrei. Era estranho estar na minha casa novamente. E ainda mais estranho encontrar todos ali e não apenas minha mãe.
            Nate levantou os olhos e senti um aperto no coração imediato. Algo em seu olhar havia ativado um antigo sentimento e eu não conseguia simplesmente afastá-lo. Você também o amou. – Bom dia, Bia – o lobisomem serviu um copo de chocolate quente para Helena e veio me abraçar.
            Estranhei o toque quente de sua pele, mas logo me acostumei. Porém, quando ele se preparava para se afastar, minha mente foi tomada por cenas e caí em seus braços. Ele foi seu melhor amigo, Bianca. Você o amava tanto que chegava a duvidar de seu amor por James. Só que o vampiro sempre teve uma ligação com você que ninguém nunca entendeu. Nate era fofo, popular e o amigo mais presente que você podia querer. Só que o Destino os separou e vocês nunca mais foram os mesmos. Ele se tornou um lobisomem e você passou a exercer seus poderes de Ners.
            -Bianca, está tudo bem? – perguntou Lilá, se aproximando rapidamente de mim. Percebi que ela vestia uma roupa inteiramente branca, o que me fazia associá-la a uma enfermeira.
            -Eu... Eu... – queria formular as palavras, dizer que me lembrava de Nate, mas simplesmente não conseguia. A verdade era que a descrição do lobisomem não passara disso. Não tive nenhuma grande revelação. Era como se eu estivesse apenas lendo a sinopse de um livro. – Coloquem-na sobre a mesa, irei buscar algumas doses de sangue – avisou Lilá, sumindo da sala.
            -Vocês não precisam se preocupar comigo – falei com a voz fraca. August e Madi já haviam se aproximado de meu “leito” improvisado junto com James, que finalmente abandonara o computador – Estou bem, só tive uma leve tontura.
            -Vampiros não sentem tonturas, Bianca – disse Karl medindo minha temperatura, apesar de todos nós sabermos que ela devia estar na medida dos vampiros: fria, muito fria.
            Escutei uma risada aguda e sádica vindo do outro da sala. Os vampiros se viraram e pude perceber que todos estavam chocados com o comportamento de Helena. – Ah, parem com esses olhares acusadores. Só estou rindo. Ela está parecendo a Lilá há alguns anos.
            -Como assim? – perguntei, tentando sentar e sendo impedida por Nate. Seus braços quentes eram mais fortes do que os meus. – Parece que a doce Bianca não se lembra mesmo de nada! – disse a Ners, permanecendo sarcástica – Então, deixe-me refrescar sua memória tão prejudicada.
            -Helena, não! – gritou Nate, enquanto indicava com uma mão para que Karl tirasse sua filha do cômodo. – Minha querida mamãe foi transformada em humana por você. E quem pode garantir que o mesmo não pode acontecer a você? Não se esqueça que a sua mãe e eu somos Ners e nenhuma de nós gostou da sua volta como vampira...
            Suas palavras foram abafadas, já que seu pai simplesmente a arrastou para longe de mim. Escutei seus passos no jardim enquanto se dirigia irritada em direção a sua própria casa. – Vocês acham que ela tem razão? Que eu posso estar voltando a ser humana?
            Madi se aproximou de mim e colocou suas pequenas mãozinhas ao redor do meu redor. – Não, filha. Você chegou a essa casa ontem à noite. E os sinais não se apresentam tão rapidamente. O caso de Lilá foi bastante rápido, pois ela já era metade humana. Para uma vampira normal como você, levaria meses.
            A dor da verdade atingiu meu coração em cheio. Não bastava um estalar de dedos de Helena para que minha vida como humana voltasse. Nada era simples quando se tratava de mim. – Então, o que esses desmaios significam? – perguntou James.
            -Significam que a memória de Bianca está voltando. E que essa volta pode ser extremamente prejudicial à existência dela – disse Lilá, voltando para a casa com uma maleta de médica.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Segundo Capítulo
Jason



            Enquanto dirigia o carro em direção à casa dos Juges, me lembrava de como fora estranho encontrar Alissa depois de tantos anos. Ela ainda possuía aquele jeito adorável e assustador de sempre, mas parecia que algo diferente a impulsionava desta vez. Parecia que ela estava escondendo algo muito importante de mim.
            Apesar da estranheza do momento, fora muito bom encontrar alguém que pertencera ao meu passado. Ali era como uma grande amiga de infância que eu nunca gostaria de perder. Agradeci mentalmente ao fato de que o dono d’A Casa da Noite havia me liberado do acontecimento envolvendo Bianca. Depois de rever o caso, ele percebera que nem eu nem Camile podíamos controlar uma recém-criada. Isso não era verdade, mas, pelo menos, manteria Bia longe daquele lugar.
            O carro percorria o bosque em uma velocidade normal quando reparei que havia alguém me observando. Seu cheiro não era de ser humano, mas ele também não parecia um animal selvagem. Parei o veículo e perguntei:
            -Quem está aí? – os pelos do meu braço se eriçaram, minha alma hesitou. Havia algo de errado naquele bosque que protegia a casa dos Luges e das Sern dos olhos dos curiosos.
            Escutei uma risada vindo do meu carro e me virei. Sentado sobre o capô, estava um adolescente de pele caramelo e dentes brancos, mas não pontudos. – Sentiu medo, vampiro? – disse o lobisomem, enquanto balançava as chaves que havia tirado do painel do meu carro.
            -Você devia ser mais cuidadoso, lobisomem. Estou nessa vida há muito mais tempo que seus avós – ameacei, tentando pegar de volta as chaves do veículo, mas o tal adolescente era muito rápido e simplesmente se pendurou em uma das árvores.
            -Você não precisa se vangloriar, Jason. Já sei quem é você e toda a sua história – cortou-me o lobisomem, jogando o objeto que balançava em sua mão para bem longe de qualquer um de nós. Rapidamente, se lançou para o chão novamente e me cumprimentou – Meu nome é Nate.
            -Como você sabe tudo isso sobre mim? – perguntei, temendo que estivesse errado o caminho para a casa de minha amada e entrado sem querer no território de uma matilha.
            -Sou o melhor amigo real de Bianca, sanguessuga. Ela pode não se lembrar de nada, mas o namorado dela sabe muito bem fazer uma pesquisa. E é exatamente por causa dessas informações descobertas que você não pode entrar na casa das Sern. Ou simplesmente, chegar perto dela.
            Encarei os olhos castanhos de Nate, procurando alguma fraqueza que pudesse usar contra ele, mas o lobisomem estava bem treinado e simplesmente me lançou um olhar de desprezo. – Você não pode me impedir. Sou um vampiro e você é um mero lobisomem.
            Comecei a correr imediatamente pela estrada, nem me importando com o lobo que me perseguia. Ele era bastante rápido, mas não rápido o suficiente. Cheguei rapidamente a clareira onde se localizavam as casas dos Juges e das Sern. Não demorou nem um segundo para que eu sentisse o cheiro de Bianca.
            Ela estava no jardim escondido atrás da casa das Sern. Seus cabelos castanho-escuros brilhavam a luz do sol. A vampira vestia um vestido bege que realçava sua pele translúcida. Daquele ponto de vista, Bianca parecia um anjo.
            Porém, antes que pudesse me aproximar, outro fez isso. O maldito James abraçou Bia por trás e lhe mostrou a rosa vermelha que havia acabado de colher para a própria. – Você me dá uma chance de recomeçarmos? – perguntou o vampiro.
            Enquanto Nate me lançava no chão e me arrastava dali, pude escutar apenas a resposta de quem eu amava há mais de 500 anos. – Sim, James.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Terceiro Capítulo



            Antes de dar uma nova chance ao meu amor com James, podia jurar que havia sentido o cheiro de Jason. Porém, era óbvio que o vampiro loiro nunca me alcançaria ali. Pelo menos, os Juges e Nate nunca o deixaria passar da entrada do bosque.
            -Você está tão quietinha – disse James, enquanto eu regava algumas flores. Era bom estar em contato com as plantas novamente, como ocorria no cemitério. Sabia que não era mais uma Ners, mas ainda gostava de me sentir parte da natureza. Isso devia prestar para algo.
            -Eu só estou pensando no que Lilá disse – tentei não me preocupar, mas só a ideia de estar doente mesmo sendo vampira me apavorava – As memórias estão me destruindo, James. Meu corpo vampiro foi feito para esquecer tudo que a parte Ners viveu. Porém, minhas lembranças estão insistindo em voltar e isso poderá me matar. Só para você saber, eu desmaiei quando descobri seu nome!
            -Nós iremos arranjar uma cura para essa doença. E você sabe que não precisa lembrar do nosso passado. Nós podemos começar tudo do zero – tranquilizou-me o vampiro ao me abraçar. Era tão bom estar nos braços de James novamente, mas meu coração agora temia que mais lembranças se ativassem e eu fosse obrigada a sofrer a doença que tomava meu corpo.
             O sol já se punha quando decidimos voltar para minha casa. Fui obrigada por Lilá a tomar mais uma embalagem de sangue, pois ela afirmava com todas as forças que quanto mais bem alimentada eu estivesse, menos a doença seria capaz de me matar.
            James e August também tomaram seus próprios copos de sangue, conversando sobre como disfarçariam minha volta. Os jornalistas viviam indo à casa dos Juges e das Sern em busca de informações que pudessem rendê-los uma primeira página. Todos queriam se aproximar do meu desaparecimento, mas agora eu já estava de volta.
            -Não adianta colocarmos Bianca de volta à escola. Todos cairiam em cima dela e descobririam que ela não se lembra de coisas básicas sobre sua vida – relembrou James – Seria um suicídio. Não demoraria para alguém perceber que ela está diferente, que está como nós. E rapidamente seríamos entregues como seres sobrenaturais.
            -Filho, não vivemos no século XVI. Ninguém vai sequer pensar em vampiros quando ver Bianca com essa pele branca. Mas os jornalistas mostrariam o rosto de Bia por todo o país e ela ficaria marcada por muito tempo. Imagine daqui 20 anos alguém reconhecê-la? Aí sim seria perigoso para nossa espécie – constatou August.
            Deixei os dois conversando sobre meu futuro, já sabendo que não havia o porquê de contrariá-los. Eles iriam sempre me proteger de tudo e de todos. Antes de me deitar, fui até o quarto de minha mãe.
            Ela estava sentada em frente a uma escrivaninha. Seus dedos hábeis moviam-se sobre o teclado de um netbook. Aproximei-me silenciosamente, a fim de descobrir o que ela tanto lia e escrevia.
            -Estou procurando sobre você, filha – surpreendeu-me Madi, virando-se para mim exatamente quando me aproximei de suas costas. – Como você...?
            -Sou uma Ners, esqueceu? – brincou minha mãe, rindo. Ela rapidamente se afastou do computador, permitindo-me ver o que havia em sua tela. A notícia era clara e preocupante:
            Bianca Sern é vista em rua escura nos braços de zelador do cemitério. Aparentemente, a mulher atrás dos dois é a acompanhante do homem. Os dois já estão sendo procurados pela polícia graças ao desaparecimento de um corpo enterrado no cemitério e agora são claros suspeitos das mortes ocorridas nos últimos tempos e também do sumiço de Bianca.
            -Mas eles não têm nada a ver com isso! – gritei, imaginando como seria horrível ver a pequena Camile sendo procurada pela polícia. Ela e Jason não tinham culpa por terem me salvado! Os dois haviam sido gentis e eu destruíra suas vidas.
            -Eu sei que não, filha. Mas esse jornal não sabe – disse minha mãe – E eles irão querer mais informações sobre seu caso.
            -Como eles conseguiriam saber sobre mim? Não saio de casa, nem mesmo para caçar! – afirmei ainda pensando nos Moure. Ambos haviam se metido em uma encrenca que não os pertenciam.
            -Exatamente. Eles virão até aqui.
Escrito por StarGirlie.

      Vigésimo Quarto Capítulo





            Durante a madrugada, James e Nate combinaram como seria meu plano de fuga. Como Helena não estava sob os holofotes dos humanos, ela me levaria até uma cabana longe da cidade e iríamos ficar lá até quando os jornalistas cansassem do assunto “meu desaparecimento”.
            Pela manhã, minha mãe se apressou em acabar com todas as provas sobre minha permanência na casa. Era essencial que nenhum repórter se deparasse com uma mala cheia de roupas minhas.
            Quando meus poucos pertences foram colocados na traseira do taxi (o taxista estava hipnotizado para não me reconhecer), James veio se despedir de mim. – Nós vamos nos ver em cinco dias, Bianca. Os repórteres só conseguem se concentrar em um assunto específico por um período de tempo muito curto.
            Eu vou sentir sua falta, sussurrou a voz insistente na minha mente. – Eu sei, James. Mas é estranho sair dessa casa depois de tanto tempo tentando voltar. Tenho a sensação que estou tomando uma decisão errada.
            Observei Nate abraçar Helena e, mesmo sabendo que ele ainda gostava da antiga Bianca, pude sentir que havia uma pontada de amor entre os dois. Talvez quando eu estivesse com quem quer que fosse, ele conseguisse encontrar o amor. A minha morte havia o prendido à minha lembrança. Talvez minha eternidade o libertasse.
            James me abraçou e senti o ar parar em meus pulmões. Meu coração foi consumido pela vontade de acabar com a distância que o vazio em minha memória provocava. Era como se eu precisasse ser do vampiro de cabelos bronze.
            -É hora de irmos – disse Helena, entrando no carro, sem nem se despedir de seu tio James ou olhar para mim. – Ela me odeia – como passaríamos cinco dias juntas e sozinhas?
            -Ela tem ciúmes de você, Bianca. Você é uma Ners poderosa mesmo não sendo a primeira da linhagem. E Helena não consegue te superar. Nem nos poderes nem no – ele abaixou a voz – amor.
            Corri para o carro, sabendo que provavelmente James me daria um beijo depois de tal frase. Encontrei Helena já com seus fones de ouvido e pedi para que o taxista seguisse o caminho estabelecido.
            Antes que o céu estivesse completamente azul, já havíamos chegado à cabana no meio do mato em que passaríamos nossas próximas 120 horas. Helena nem se deu ao trabalho de agradecer ao taxista por seu trabalho, portanto fiz esse papel por nós duas e carreguei nossas malas.
            A Ners tão aborrecente estava deitada sobre o sofá, olhando para o teto com um tédio completo. Sua música estava tão alta que era possível escutá-la do jardim. Se continuasse assim, ela ficaria surda em pouquíssimo tempo.
            Resolvi não me intrometer, pois sabia que só receberia uma resposta grossa e que tornaria o clima da casa ainda pior. Deixei a pequena mala de Helena no quarto dela e caminhei lentamente até o meu. Algo em meu coração alertava para uma surpresa. Não exatamente perigosa, mas inadequada.
            Quando abri a porta, tive que me conter para não gritar. Sentado na beira da minha cama estava ninguém mais ninguém menos que Jason. Seus olhos roxos brilharam com minha aparição. Meu coração, se fosse vivo, teria parado. Minhas mãos começaram a tremer, minhas pernas ficaram bambas.
            Jason se jogou em minha direção e me envolveu em um abraço cheio de saudade. – Você não imagina o quanto me fez falta – sussurrou o vampiro em meu ouvido.
            Antes de responder, reparei a ironia da situação. James, o vampiro do meu passado, havia me deixado partir, enquanto Jason, o sanguessuga do meu presente, vinha correndo para me obrigar a ficar. Qual dos dois seria certo amar?

Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Quinto Capítulo



            Não senti medo de Jason nem nada parecido. Estar ali, nos braços do vampiro de cabelos claros, parecia certo. Eu sentia falta de sua presença acolhedora, de sua voz tão amável e de seu carinho imprescindível por mim. Sei que James também me amava, mas com o Moure eu podia sentir esse amor, não apenas o imaginá-lo.
            -Você sabe que Helena pode nos dedurar, não sabe? – perguntei, pensando em como Jason estava sendo corajoso. Caso os Juges o encontrassem, não sei o que fariam com ele. Mesmo que o vampiro tivesse me salvado da eternidade no caixão, para a família do meu passado, ele era apenas um bandido que me roubara de sua proteção. “Nós teríamos escutado seu socorro” relembravam sempre que podiam.
            -Sei e estou pouco me lixando para aquela Ners – Jason não parecia desprezá-la, mas sim, apenas se importar mais comigo. De repente, o vampiro me afastou, como se lembrasse algo que o magoava – E então, como está sua vida com os Juges?
            Sentei na cama e fechei os olhos. Lilá, James e August eram muito fofos comigo, entretanto Helena parecia me repelir como se fosse um mosquito da dengue. Nate e Karl gostavam de me proteger e agir como se eu continuasse humana. Já minha mãe... Bem, essa me amava de qualquer modo.
            -Eles estão sendo ótimos comigo, Jason. Você devia ter me contado que eles existiam – o loiro apenas maneou a cabeça – Eu sei que me sinto muito bem com você, mas eles são meu passado! Eram eles que socorriam minha versão humana.
            Jason engoliu em seco. Queria muito saber o que se passava em sua mente, mas temia que, por causa de minha insistência, ele decidisse ir embora e me deixar sozinha nesta casa com aquela fresca da Helena. – Eu sei, Bianca, mas não podia suportar a ideia de te perder.
            Não podia discutir com quem se importava tanto comigo. Bati no colchão ao meu lado e Jason se sentou comigo. Seus olhos roxos beiravam o azul e soube imediatamente que ele havia bebido muito sangue me minha ausência. – Você tem bebido com quem, hein? Sei que não é com Camile. Ela é um tanto conservadora nesse aspecto.
            Jason olhou para a parede e disse com a voz baixa. – Com Alissa – apesar de estar envergonhado de seu comportamento com outra mulher, o vampiro não imaginava que eu conhecia a pessoa citada.
            -Ai. Meu. Deus – coloquei minha mão sobre minha boca e lembrei-me de como ela fora cruel ao me sequestrar – Ela que me trouxe até a família dos Juges! Como você pode estar com aquele monstro?
            -Espera um pouco! – gritou Jason, ignorando claramente a presença de Helena na sala – Foi Alissa que te sequestrou?! Como ela...
            Então, seu rosto empalideceu e ele parecia prestes a explodir. Encarei-o enquanto seus pés percorriam mil vezes o pequeno quarto, como se procurasse um sentido para tudo aquilo. Ou pior, como se já o tivesse encontrado.

Jason
            Como pude ser estúpido por tanto tempo? Estava mais do que na cara o que ocorria em todas as vidas de Bianca. Ela era tirada de meus braços e jogada nos de outro por um demônio, alguém que só queria se vingar.
            Em 1500, Bianca não fora afastada de sua vida no castelo por livre e espontânea vontade. Ela fora sequestrada por uma das encarnações de Alissa. Podia ter demorado mais de 500 anos, mas naquele momento decidi que seria eu quem iria me vingar daquele monstro com rostinho de anjo.

Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Sexto Capítulo
Camile



            Quando Jason me telefonou para contar sobre Alissa, não pude deixar de derramar algumas lágrimas. A vampira havia sido uma excelente amiga durante todos esses anos e eu não podia deixar de sofrer por perceber que no fim ela era apenas mais uma aproveitadora.
            Peguei uma mala que estava guardada e comecei a colocar todas as roupas que podia dentro dela.  Graças a meu primo, teria que voltar à Curitiba e resolver toda a confusão que envolvesse Ali. Era óbvio que Jason, tão imaturo, não criaria uma vingança racional o suficiente para dar certo.
            Enquanto colocava meus pertences no táxi e finalmente fechava a casa, as lembranças de 1500 tomaram minha mente novamente.
            Antes mesmo de todos os problemas com Bianca e a Maldição realmente começarem, minha vida e a de Jason não eram fáceis. Éramos os jovens mais próximos do Rei e ele via em nós os futuros melhores amigos de sua filha. Porém, a garota de cabelos castanhos acreditava que nós éramos apenas um bando de idiotas tentando bajulá-la.
            Mesmo com seu comportamento petulante e sua mania de nos rebaixar a meros plebeus, Jason era totalmente apaixonado pela princesa. Passava suas tardes observando-a no alto da torre, enquanto escrevia cartas apaixonadas que nunca seriam enviadas. Ele era o claro romântico que não tinha coragem para revelar sua personalidade.
            Enquanto ele se aventurava por aquele romance que não daria em nada, eu priorizava nossa amizade com o Rei e constantemente o ajudava a fazer alguma escolha sobre o reino. A Rainha não era muito simpática comigo, já que era extremamente ciumenta.
            Certo dia, eu estava em meus aposentos, lendo um dos livros que estava fazendo sucesso no Castelo, e Jason fazia mais uma de suas rondas pelo local, procurando algum perigo. Não era uma atividade muito segura, mas lhe garantia uma excelente posição na Corte do Rei.
            Quando já me preparava para dormir, um mensageiro veio correndo até o meu quarto. Sua voz estava fraca de tantos gritos e ele parecia prestes a desmaiar. – O Rei... Ele... Vai...
            Por algum motivo, não o esperei terminar sua frase. Saí correndo escada abaixo e logo me deparei com Jason. Ele estava completamente calmo. – O Rei mandou me chamar. Será que devemos entrar no seu escritório mesmo sem sermos anunciados?
            -Claro que sim, Jason! – escancarei a porta e desejei com todas as minhas forças, nunca ter feito isso. O corpo do Rei pendia mole das mãos de uma mulher. Aparentemente, ela era apenas mais uma plebeia. Entretanto, sua pele era mais clara do que o normal, sua boca estava cheia de sangue e seus olhos eram de um roxo sobrenatural.
            -Ora, ora. Parece que vou ter mais sangue – disse a mulher se jogando em nossa direção. Uma de suas mãos segurou meu pescoço, enquanto a outra mantinha Jason afastado.
            Quando se cansou do meu sangue, ela me jogou contra a parede e mordeu Jason. Seus olhos ficavam cada vez mais azuis conforme sugava a força vital de meu primo. Era uma tortura ver aquela cena, mas não conseguia me mexer para evitá-la.
            Foi nesse instante que algo inesperado aconteceu. O Rei se lançou contra a mulher e a puxou fortemente pelos cabelos. Prestes a ter sua cabeça arrancada, a vampira deu risada e afirmou:
            -Meu filho irá se apaixonar por sua amada princesa no futuro. Posso prever isso – e rapidamente puxou o pescoço do Rei, enquanto o seu próprio era jogado no chão.
            Jason se jogou no chão ao meu lado e me envolveu com os braços. – Camile, ela nos mordeu – e ao percebermos o que isso significava, começamos a chorar compulsivamente.
            Na manhã seguinte, todos do reino choravam a perda do Rei e nós dois enfrentávamos a dor da transformação. Como uma mínima gota de sangue era capaz de mudar a cor de nossos olhos, nos alimentávamos o mínimo possível e nunca matávamos ninguém.
            Bem, quase nunca matávamos ninguém, pois em uma manhã de novembro, após o sumiço de Bianca, Jason e eu nos dirigimos à casa onde a vampira que nos transformara morava. E, antes que alguém pudesse simplesmente perceber nossa presença, arrancamos o coração de dois adolescentes humanos: as primeiras encarnações de Lilá e James. Sim, eles eram os filhos daquela mulher.

Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Sétimo Capítulo
Alissa



            Durante meu sono, tive um pesadelo que me avisou sobre o que estava acontecendo na realidade. Jason, Camile e até Bianca descobriram minha participação na história e só me restava torcer para que James não passasse a conhecer toda a verdade também.
            Recolhi minhas coisas do quarto e antes que qualquer um dos Moure pudesse me alcançar, fugi do hotel. Sabia que andar de carro seria arriscado, pois qualquer veículo mais potente poderia me colocar numa armadilha. Porém, andar pelas estradas, totalmente exposta, não seria uma boa ideia também.
            Restava-me a última alternativa: voltar às minhas raízes. Não teria grande trabalho. Em menos de uma hora, estaria sob a proteção da cidade em que nasci. Tudo bem que naquela altura, meus registros de morte já tinham sido computados, mas nada disso importava.
            Coloquei minha mala no porta-malas do taxi, aproximei-me do motorista e com meu melhor olhar “Megan Fox”, pedi para que nos dirigíssemos para minha terra natal. O homem gaguejou um pouco, mas, ainda em dúvida de para que parte do meu corpo olhar, afirmou que podia fazer isso e acelerou o carro.
            O lugar havia mudado muito. As pessoas pareciam-se como qualquer outra, nem um pouco mágicas como me lembrava da época de 1880. Enquanto o taxista dirigia por entre as pequenas ruas, me afundei nas lembranças de um tempo que não voltaria nunca mais.
            Eu era uma adorável jovem. Meus pais, nascidos na Europa, acreditavam que me ter no Brasil me impediria de aderir a mais nova praga que arrasara sua cidade natal: os vampiros.
            Quando chegaram, não foram bem recebidos, mas, durante meu parto, a população se solidarizou e cuidou para que minha vida fosse brilhosa, alegre. Os anos passavam, eu crescia cheia de energia e todos acreditavam que seria a noiva perfeita para qualquer bom moço.
            Fora nessa época que me aproximei bastante de Jason, o loiro de olhos roxos que era dito como nobre na região. Hoje sei que esse título lhe era dado graças a muita hipnose, mas, de qualquer forma, fora sua amizade que me salvara de surtar graças à pressão do casamento.
            Então, chegou James. Ele tinha 13 anos no máximo e vivia com seus adoráveis pais e a pequena irmã. Eram pobres, mas bem vistos pela sociedade graças aos serviços de solidariedade que prestavam à Prefeitura. Isso mesmo: pobres ajudando pobres.
            Jason e Camile me alertaram desesperadamente que ele era perigoso, mas não lhes dei ouvidos. Depois de tantos anos, sei que ambos só estavam com medo que ele fosse como sua antiga mãe vampira, que novamente reencarnava como humana.
            Apesar de sua timidez, começamos a nos aproximar. E inevitavelmente, eu me apaixonei. Ele era doce, romântico, inteligente e, ao mesmo tempo, corajoso, confiante e, às vezes, até arrogante.
            Nossos pais adoraram a ideia de nos casar, mas, infelizmente, o coração de James não parecia pertencer a mim. Os meses iam passando e ele mais distante ficava. Enquanto preparávamos o casamento, ele, com apenas 17 anos, foi chamado para uma guerra local.
            Todos estávamos desesperados. Não queríamos de jeito nenhum perdê-lo, por isso, nem demos importância ao fato de que Lilá nunca envelhecia. Ela sempre parecia uma doce menina de cinco anos.
            Quando James voltou, ele estava totalmente diferente. Seus olhos variavam de um preto sombrio para um roxo cansado. Meus pais começaram a temer o que podia estar acontecendo e quiseram me afastar do garoto, mas não conseguiram. Sim, meu amado James havia sido transformado em um vampiro e eu não tinha medo disso.
            Durante certa noite, fomos passear escondidos pela fazenda de meu pai. Decidida a revelar sua natureza, cortei meu dedo “sem querer” e o observei quase explodir de desejo. – Beba, James. Eu tenho muito e não vou ligar nem um pouco em compartilhar.
            Apesar de toda sua teimosia, ele bebeu. E, como retribuição, deu-me seu sangue. Todas as noites fazíamos o mesmo ritual intercalado de longas maratonas de beijos. Estávamos drogados pela troca de sangue e demoramos a perceber o que acontecia com meu organismo.
            Eu estava me tornando um zumbi a cada dia. Minha pele se tornava cada vez mais acinzentada e meu desejo por sangue só aumentava. Reparei que Jason e Lilá já estavam desconfiados de que eu me tornava um perigo à segurança de sua família.
            Na noite em que aparentemente iriam me decepar, o carro de seus pais sofreu um acidente e seus corpos não foram encontraram. Principalmente, pelo fato de que Amélia cuidou de sumir com seu marido enquanto virava uma vampira louca para se divertir.
            Enquanto eles choravam o luto, August afirmou que cuidaria de ambos. Isso lhes deu força para relembrar de mim e, na noite seguinte, os dedinhos miúdos de Lilá quebraram meu pescoço. Porém, havia uma mistura do sangue de Jason e de Camile em meu corpo.
            Vocês devem estar reconhecendo essa história, mas estranhando meu nome. Isso mesmo, eu sou a antiga Joana que James descartou tão rapidamente.  E agora estou de volta como Alissa.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Oitavo Capítulo
Helena



            Já estava cheia daquele esconderijo. Por que eu tinha que ficar com a Bianca? Não faria muito mais sentido se James, que na vida humana dela era seu namorado, passasse aqueles dias longe do mundo com ela? Talvez eles até pudessem aproveitar esses dias para acabar com aquela enrolação de “eu-não-me-lembro-se-te-amo”.
            Aumentei o som de meu fone de ouvido, enquanto tentava não escutar a conversa de Bianca e o tal Jason lá no quarto dela. Os dois debatiam sobre o que fariam já que agora descobriram que uma Alissa era a maior traidora... Espere um instante! Alissa?
            Levantei-me rapidamente e corri para o quarto. Quando abri a porta, Jason me segurou ameaçadoramente, seus dedos apertando meu pescoço. –Eu vim em paz, ok? – tentei falar de forma confiante, mas minhas palavras falhavam e eu só queria me afastar do vampiro loiro.
            -O que você quer? – indagou Bianca com sua pose de malvada. Ela não se parecia nem um pouco com a tia fofa que se sacrificara para me salvar há algum tempo. Até me lembrava a Katherine*.
            -Olha, eu também conheci a Alissa. Na verdade, ela apareceu na casa do Nate há alguns dias falando que tinha informações sobre seu paradeiro, algo que transformou nossa família em um caos. Todo mundo tinha uma opinião diferente, mas pouquíssimas pessoas acreditavam nela. Até que você apareceu em nossa porta e tudo mudou.
            Jason me soltou como se meu depoimento tivesse feito com que visse o quanto estava sendo injusto em quase me esganar. – Então, quer dizer que a Ali já esteve no território de vocês? Isso é muito perigoso.
            -Posso saber por quê? – questionei, enquanto me sentava na cama de minha tia. Foi então que algo totalmente inesperado aconteceu: eu invadi a mente de Jason. Pude ver toda a verdade. Bianca como princesa, as reencarnações, as mortes, Alissa surgindo e sendo transformada como também minha própria família.
            -MEU DEUS! Você está perseguindo a minha tia há 500 anos?! – após as palavras terem saído de minha boca que percebi o quanto elas eram letais. Bianca olhou para Jason como se tivesse acabado de descobrir que ele era a Morte. Mas, sendo um vampiro, ele até era mesmo.
            -O que ela quer dizer, Jason? – esbravejou Bianca com seus olhos roxos se transformando em pretos quase que imediatamente. Até mesmo eu, que era uma Ners e podia matá-la a qualquer momento, fiquei com medo do que a vampira era capaz de fazer.
            -Eu... Eu posso explicar! – suplicou Jason, mas foi tarde demais. Minha tia simplesmente se lançou em direção ao seu corpo e o jogou pela janela. Apesar de não conseguir acompanhar os movimentos da batalha com meus olhos, pude escutar toda a luta.
            Pulei pelo parapeito da janela, tentando me desviar dos cacos de vidro e aproximei-me dos dois vampiros. Para que Bianca não o matasse, fiz algo impensável e indevido. Com toda a minha força, copiei as memórias de Jason e as transmiti diante dos olhos de Bia como se fossem um filme em alta velocidade. Era um efeito mental e, para o loiro, a jovem estava apenas imobilizada.
            Porém, minha tia estava tendo uma experiência que mudaria seu modo de ver o mundo. Seus olhos se dilatavam enquanto as lembranças se aproximavam cada vez mais do presente. Então, após se ver deixando a casa de Camile quando tinha apenas 13 anos, Bianca caiu no chão.
            Inicialmente, pensei que se tratava de uma consequência do choque de saber que durante todo esse tempo, Jason a perseguiu e a salvou. Podiam ter diversos problemas, mas ele sempre estava lá por ela, de um jeito tanto estranho, devo admitir.
            Entretanto, a partir do momento em que Bianca começou a ter convulsões, percebi o tamanho do erro que tinha cometido. As palavras de minha mãe ecoaram em minha mente: Se Bianca se lembrar de todo seu passado, ou boa parte dele, ela irá sofrer de um modo que nem o sangue vampiro poderá salvá-la. Ela pode até morrer definitivamente.
Escrito por StarGirlie.
*Katherine é a doppelgänger (cópia) vampira de Elena, na série The Vampire Diaries. Em TVD, Kath constantemente age pensando somente em si mesma, enquanto sua cópia humana é extremamente altruísta. 

Vigésimo Nono Capítulo
Helena



            Em poucos minutos, James, Lilá, Nate e Madi chegaram desesperados ao nosso esconderijo. Minha mãe, assumindo toda a sua pose de médica, pediu que os vampiros colocassem Bianca sobre a mesa da cozinha para que ela pudesse examiná-la.
            Minha tia estava tremendo, mas, pelo menos, isso tinha um lado bom: ela ainda estava viva. – Ela vai ficar bem? – perguntei, sentindo toda a culpa me consumir. Se não tivesse lhe mostrado seus diversos passados, excetuando o que viveu com James, Bia ainda estaria discutindo comigo e com Jason.
            -Não sei! – exclamou Lilá com a voz tão fraca que quase não escutei – Eu avisei que Bianca ainda não podia lembrar de seu passado! Aí você decide lhe mostrar 500 anos de passado! – eu havia contado a todos o que havia acontecido por telefone – Você está louca?
            -Não, mãe! – berrei entre lágrimas. Apesar do momento, fiquei feliz que Nate se aproximou e me abraçou. Ele andava tão distante desde que Bianca voltara. É claro, Helena, ele a ama. Mas, naquele segundo, o lobisomem não estava ao lado dela e sim do meu.
            -Helena, acho melhor a gente sair um pouco daqui, ok? – sussurrou Nate em meu ouvido e como se meu corpo estivesse hipnotizado, segui-o para fora da casa.  
            Estávamos no jardim que dava para o bosque, quando reparei que ele (sim, o meu tio) havia agido, na frente de todos, de uma forma bastante peculiar. Nate sussurrara em meu ouvido e me levou para a parte externa da cabana segurando a minha mão. Como se fosse... Tentei conter a palavra, mas ela atormentou minha mente. Como se fosse um namorado.
            -Você não precisa se preocupar, Le. A Lilá vai conseguir cuidar de Bianca e ela vai se recuperar – disse Nate, enquanto se sentava em um tronco caído. Ele parecia cada vez mais velho, apesar de nunca mais ter envelhecido desde que Bia morreu. Seu juramento era:
            Até que Bianca tenha a chance de dizer com todas as palavras que nunca vai me querer, eu estarei esperando exatamente igual ao dia em que ela partiu.
            Inicialmente, todos pensaram que ele se tornaria um quase vampiro, já que não envelheceria nunca, pois Bianca nunca voltaria. Porém, agora com Bia viva, ele tinha a chance de voltar a envelhecer. Claro, se ela lhe desse um pé na bunda e não o que quisesse.
            -Eu sei, mas também me preocupo com a situação em longo prazo... Bianca nunca vai poder se lembrar de tudo, não é? As lembranças das Ners podem matar um vampiro. E desde que ela se mudou para Curitiba, tudo era muito Ners – recordei-me de como foram os meus primeiros momentos de vida. Naquela época, Bia era uma humana que tentava de todas as maneiras manter os Juges e as Sern vivos.
            -Segundo Lilá, seria muito arriscado. Agora, ela se lembra de todas as outras encarnações e uma boa parte dessa. Mas até o momento, ela não se viu como a humana tímida que fora quando se mudou para cá. Ninguém sabe qual será os efeitos de uma lembrança como essa – apenas disse Nate, enquanto eu me sentava ao seu lado.
            -Ela nunca vai poder voltar a ser a Bianca que amamos, não é? – perguntei, já com lágrimas no rosto. Podia odiá-la na versão vampiresca, mas a amava mais do que tudo como a tia humana que se sacrificou por minha vida.
            -Não chore, Helena – consolou-me Nate, enxugando minhas lágrimas. Levantei meu rosto com o intuito de ver seus lindos olhos castanhos e, então, meu coração parou.
            Minha consciência se desligou completamente, enquanto nossos lábios se encontravam. Aquele era o momento pelo qual eu sempre esperara. Eu estava, enfim, junto a Nate.
            Porém, quando nos separamos, tudo que era errado veio à tona. Ele era meu tio. Nós não podíamos nos beijar. Aquilo era errado. Aquilo era crime.
            -Bem, parece que nós temos um novo casalzinho aqui – disse uma voz vinda do bosque. Nem precisei me virar para saber quem era: Alissa.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Capítulo
Alissa



            Quando vi Nate e Helena se beijarem, lembrei-me de meu próprio passado, de meus próprios beijos. Eles estavam tendo um romance proibido, algo com o qual eu sempre sonhara e nunca tivera. James sempre fora certinho demais para algo assim.
            Apesar de achar os dois a coisa mais fofa do mundo, ainda tinha que encontrar aliados dentro da casa dos Juges para que assim impedisse James de se apaixonar também pela versão vampira de Bianca.
            -O que você quer aqui, Alissa? – perguntou Helena, levantando-se e colocando-se na frente de Nate de uma forma protetora. Quase ri de sua reação. Mesmo sendo uma Ners, ela ainda tinha os reflexos bem lentos e nunca conseguiria me impedir de um ataque repentino.
            -Ora, ora. Quem sabe... Contar aos seus pais que a filhinha deles anda saindo com o tio dela? – dei uma risada alta – Acho que o Karl não vai gostar nada de saber que o irmão dele está saindo com a sua filha.
            -O QUE VOCÊ QUER AQUI? – repetiu Helena ainda mais irritada. Percebi que sua feição comparada a de Nate era ameaçadora. Finalmente, uma Ners que sabia como agir, não apenas uma garota boba que não conseguia nem sobreviver como Bianca fora.
            -Bem, eu estava por aí, visitando minha cidade natal, que não é tão distante daqui, mas não faço muito o estilo de garota-frágil-que-sofre-pelo-passado. Então, resolvi ajeitar algumas coisas por aqui – respondi, enquanto tentava escutar a conversa dentro da casa.
            Bianca estava respirando, mas parecia ser incapaz de falar. Segundo Lilá, aquilo era mais por causa do choque do que por um problema físico. Todos pareciam aliviados, mas uma pulga atrás da orelha os atormentava: as lembranças que a vampira recuperou não incluíam sua descoberta real como Ners e, principalmente, seus poderes sendo usados. O pior ainda estava por vir.
            -Você não tem nada para ajeitar aqui. Ou quer que eu revele sua verdadeira identidade a James? Ele ia a-m-a-r saber que você é a responsável pelo reaparecimento de Bianca! – Helena deu uma de suas risadas sarcásticas que geralmente dava na Casa da Noite. Nate não parecia conhecer esse lado de sua personalidade – Alissa, ou melhor, Joana, você pode ser uma excelente chantagista. Mas eu sou bem melhor.
            Estava me preparando para o ataque quando escutei o barulho de pneus a uma distância não muito grande. Nate se levantou rapidamente, reconhecendo que carros se aproximavam. Aquilo estava errado. Ninguém além dos presentes sabia da existência desse esconderijo.
            -O que está acontecendo? – a Ners finalmente parecia amedrontada. Apesar de odiá-la por usar minha verdadeira identidade contra mim, sentia orgulho da garota por aguentar tantas coisas surpreendentes acontecendo ao mesmo tempo. Ela foi tirada de sua casa e obrigada a conviver com uma pessoa de quem morre de inveja, descobriu um passado inteiro de sua tia e o transmitiu à sua mente o que quase ocasionou sua morte, beijou seu tio... Bem, as coisas estavam totalmente fora de controle para aquela adolescente.
            No momento em que James surgiu na parte de trás da cabana com Bianca nos braços seguido por Madi, Jason e Lilá, já sabia de quem eram aqueles carros. – Corram! – exclamou Nate, puxando o braço de Helena.
            De tanto que era o desespero de James, ele nem percebeu quem estava na sua frente. O surgimento dos reportes ávidos por mais notícias de Bianca era muito mais preocupante do que o reaparecimento de uma ex-noiva morta. Porém, não tive tempo para aproveitar minha mágoa, já que, no segundo seguinte, Jason me jogou em seu ombro, enquanto dizia:
            -Eu só estou te salvando para que, no fim do dia, possa matá-la.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Primeiro Capítulo



            Eu não sabia onde estava. Minha mente estava um tumulto completo. Podia ver as imagens que Helena transmitira, mas não conseguia enxergar o que acontecia no presente. Era como se estivesse encurralada no meu próprio passado.
            Minhas encarnações pareciam controlar meus pensamentos. Via a princesa de 1500, a senhorita de 1800... Todas pareciam tentar me avisar sobre algo que eu não era capaz de entender. Volte onde tudo começou. Onde todas as soluções se tornaram problemas.
            Escutei a voz de Alissa brigando com Jason, mas não conseguia compreender suas palavras. Era como se escutasse uma música em outro idioma, mas não possuísse a tradução.
            Foi então que as frases de James foram entendidas pelo meu cérebro. – Sua prima, Camile, está preparando a nossa fuga, Jason. Ela chegou à nossa casa e arrumou tudo com Karl e August. Só vamos demorar alguns minutos antes de partir de vez de Curitiba.
            Aquilo me lembrou alguma parte de minha vida como vampira, mas não conseguia entender exatamente o quê. Algo com uma boate e um bando de sanguessugas nos perseguindo.
            -Gente, a Bianca está nos ouvindo – revelou Helena com a respiração entrecortada. Pelo visto, estávamos correndo em uma velocidade muito maior do que a Ners podia suportar. Imaginei o que Lilá, a única humana do grupo, estava sentindo.
            Apesar de todos terem perguntas a fazer sobre meu mais recente desmaio, não havia tempo. Podíamos ouvir os carros percorrendo a estrada perto do bosque. Nem precisei de muito tempo para entender quem eram: os repórteres.
            Quando chegamos à casa dos Juges, meus olhos já estavam abertos e eu conseguia compreender quase todas as conversas. Camile, Karl e August estavam esperando em seus carros com dezenas de malas nos porta-malas. Colocaram-me no carro da Moure junto a Jason, James e Madi.
            Camile acelerou, enquanto entrávamos em uma das trilhas que daria na rodovia mais próxima. Porém, não estávamos nem a cinco minutos da casa onde morei quando ouvimos outro veículo vindo da direção contrária. Um fotógrafo estava pendurado na janela, os flashes atingindo nossos olhos como facas.
            Queria poder avisar os vampiros que estavam em meu carro, ou até mesmo minha mãe, sobre o fato de que havia paparazzi escondidos nos arbustos. Todas as câmeras estavam apontadas para a minha janela. Seus rostos estavam ensandecidos. Eles haviam conseguido a primeira página.
            Neste segundo, escutei o grito do primeiro fotógrafo. – Ela está viva, VIVA! – e, então, os três carros pararam.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Segundo Capítulo


            -Não vai nem nos dar uma entrevista, suposta desaparecida? – debochou um fotógrafo que havia conseguido colocar sua câmera grudada no meu vidro. – Ela está com vergonha, Robert. Vergonha de ser tão idiota ao ponto de se fingir de desaparecida.
            -Garotas adoram atenção – respondeu Robert, enquanto tirava algumas fotos de Jason tentando cobrir meu rosto. Não importava o que os vampiros fizessem. Estávamos encurralados e aquelas imagens iam diretamente das câmeras para a Internet. A hipnose não mudaria nada.
            Enquanto os vampiros conversavam desesperados por uma saída, consegui enxergar o que aconteceria a seguir. Seríamos levados de volta à Curitiba e a polícia nos interrogaria. As pessoas iriam nos humilhar a todo o instante, como se fôssemos criminosos. Só havia um jeito de acabar com aquilo.
            Alissa, chamei em pensamento, torcendo para que a vampira conseguisse me escutar do outro carro. Vi sua cabeça de cabelos negros se virar em minha direção e agradeci à Deus pela sorte ainda me ajudar.
            Eu preciso que você desça agora do carro. Que diga a todos que sou a sua irmã e não a Bianca Sern. DIGA! – ordenei, tentando manter minha feição calma, mesmo estando em quase um surto nervoso. Ninguém podia estragar a paz de minha família humana. Eu arriscaria qualquer coisa para protegê-la. Até mesmo a minha alma.
            Alissa abriu a porta calmamente e desceu do carro de Karl. Percebi que Lilá estava a olhando com ódio. Obviamente, a irmã de James se lembrava de tê-la matado há muito tempo e não era nada agradável vê-la viva novamente. – Chega de flashes.
            -Quem você pensa que é para ordenar alguma coisa? – irritou-se Robert, enquanto tirava fotos apressadas da vampira morena. Seus olhos já estavam pretos. Pela primeira vez, agradeci mentalmente a fome que os vampiros sentiam e que fazia nossos olhos mudarem de cor.
            -Eu sou a irmã da... – Nathália ­– Nathália! – nesse momento, desci do carro e me aproximei de Alissa. Sabia que, nas fotos, nós pareceríamos irmãs. Nossos cabelos escuros, nossos olhos quase pretos, nossa pele branca. Minha aparência já não era tão parecida com a de minha versão humana mesmo.
            -Nathália? – perguntou o colega de Robert – Mas essa é a Bianca Sern! A desaparecida!
            James se aproximou de nós duas e tocou o ombro de Ali. Apesar de nenhum humano sequer imaginar aquele gesto, enxerguei seus dedos apertando o osso de sua ex-noiva. Ele estava deixando claro seu aviso: vocês duas têm muito o que me explicar!
            -Houve um engano aqui. Essa é Nathália Sierte, não Bianca Sern, minha namorada que desapareceu – seus olhos roxos deixavam claro que ele não estava mentindo. No fim das contas, eu já não era mais a garota por quem ele se apaixonara.
            -Então, se ela não é Bianca, por que vocês estavam fugindo? – questionou Robert. – Nati – adorei o modo como ele foi capaz de fingir que éramos íntimos – estava tendo uma reação alérgica. Minha família ia passar um tempo fora, mas não podíamos deixá-la daquele modo. Portanto, pensamos em levá-la à um hospital e ajudá-la antes de partir.
            Apesar de a história poder apresentar diversos buracos, Robert e seus colegas realmente acreditaram no que James dizia. Fiquei aliviada por sua autoconfiança e por seu efeito nos seres humanos.
            Percebendo que havia uma abertura muito grande em nosso enredo, apressei-me a dizer. – Bem, eu tomei um comprimido que Lilá me deu e estou melhor. Agora, vocês podiam fazer o favor de desligarem essas câmeras? Esses flashes já estão me dando uma dor de cabeça t-e-r-r-í-v-el.
            Enquanto dizia aquelas palavras, entendi o que havia acontecido: acabara de criar uma personagem que me permitiria voltar a viver em sociedade.  Nathália não seria apenas uma mentira, ela seria minha arma para descobrir o que o Destino reservava para mim.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Terceiro Capítulo



            Depois que começamos a mentir, continuar foi fácil. Dissemos aos paparazzi que sua presença havia nos incomodado tanto que iríamos voltar para casa. James até ameaçou lhes processar por danos morais. Segundo o vampiro, eles haviam manchado minha chegada à cidade, alegando que eu era a desaparecida Bianca.
            Ao chegar a casa, Camile partiu para os quartos com o intuito de arrumar todos os armários que havia bagunçado ao tentar arrumar nossas malas. Os Juges não se importaram nem um pouco e Lilá até se ofereceu para ajudar. Porém, Cami recusou sua oferta, já que queria ver o circo pegar fogo. Quer dizer, Alissa pegar fogo.
             Quando fomos deixados sozinhos, James encarava Alissa de um jeito horrível. Ele parecia querer matá-la e abraçá-la ao mesmo tempo. Nem mesmo como vampira, eu conseguia entender aquela situação.
            -Não sei como vou entender essa situação – disse James, depois que contei, superficialmente, as memórias que Helena transferiu para minha mente – Não é possível que todos nós estejamos reencarnando num jogo macabro. Nada seria tão horrível assim!
            -Na verdade, é exatamente o que está acontecendo. Tudo se baseia no fato de que uma das reencarnações de Madi amaldiçoou Bianca com o intuito de protegê-la da Maldição que assolava o reino em que morávamos em 1500: os vampiros. Ninguém estava conseguindo escapar de suas presas e a única forma de se manter viva era ser mais poderosa que eles – explicou Jason. Reparei claramente que o loiro estava um tanto triste. Todo seu passado havia sido contado e ninguém parecia nem um pouco chocado com os problemas pelo qual passou.
            -Exatamente. Como a Bianca contou, até mesmo a mãe de vocês dois era uma vampira – continuou Alissa, controlando seu nervosismo. Falar com James diretamente devia ser muito difícil para ela – Todos estavam morrendo ao nosso redor... O Rei, Camile e Jason... Eu só não entendo onde me encaixo nesse enredo. Pelo o que Jason disse, sequestrei a Bianca, impedindo-a de se aproximar dele.
            -E de uma das minhas reencarnações – completou James com um pouco de ciúmes. Segundo as lembranças de Jason, eu e o vampiro de cabelos bronze estávamos sendo impedidos de continuar juntos por muitas épocas.
            -Eu também não entendo – afirmou Helena – É estranha à participação repentina de Ali. Na vida em que James se transformou em vampiro, eu até entendo. Ela era a noiva morta e tudo mais. Mas em 1500? Por que esse problema com a Bianca?
            Todos ficaram em silêncio, tentando elaborar, de alguma forma, uma resposta aceitável para aquela situação. As histórias se repetiam de um jeito alucinante e nunca conseguíamos sair do ponto onde paramos na outra vida. Tinha que haver algum sentido para isso.
            -Eu me lembro – sussurrou Madi com os olhos vidrados. Sua pele estava mais branca que o normal. Ela devia estar afundada em sua própria mente.
            -Lembra-se do que, amor? – perguntou, docemente, August. Ele parecia o marido que minha mãe merecia. Pelas poucas lembranças de minha vida que “recuperei”, ele não era o melhor pai do mundo.
            -Fui eu quem mandou Alissa sequestrar Bianca – disparou Madi.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Quarto Capítulo



            -Eu... Eu a fiz prometer que levaria a Bianca para muito longe e a impediria de se tornar uma vampira. Ela seria a única Ners do planeta e teria uma vida feliz longe daquele Reino cheio de vampiros. Mas algo deu errado e ela...
            -Morreu – completei – Obviamente, alguma coisa aconteceu e desde então renasci milhares de vezes. Mas o que pode ter desencadeado minha morte se eu estava tão longe dos vampiros?
            -Um acidente, uma doença... Em 1500, as opções eram mais do que infinitas – relembrou Lilá. Ela e Karl estavam sentados abraçados no sofá com o olhar preocupado. Eles pareciam tão jovens para serem pais de uma adolescente como Helena, mas eram suficientes maduros para tal.
            -Mas não acho que nenhum desses motivos seja a causa da morte de Bianca – Jason pareceu hesitar um momento antes de continuar – Não se esqueçam que, antes de tudo, Bia carrega uma Maldição. Ela só está renascendo porque não cumpriu a missão de sua vida em 1500. O que significa...
            -Que ela morreu pela demora em cumprir sua tarefa na Terra – completou Camile, surgindo na sala. Seus cabelos ruivos cintilaram, mas ela não parecia estonteante como de costume. Parecia frágil.
            Helena caiu sobre a poltrona a vazia ao lado de Nate. – Meu Deus! – seus olhos recaíram sobre mim como se perguntasse “Será que isso irá acontecer comigo também?”.
            -Se esse for o motivo, as coisas ficam um tanto mais simples. Pensem comigo – conduziu Camile – Bianca renasce por causa da Maldição e sempre se relaciona com alguma reencarnação nossa. Ela morre por causa da Maldição, já que nunca cumpre seu papel na Terra. Só precisamos descobrir qual é essa maldita tarefa.
            -“Só”? – debochou James – Se ela, em mais de 500 anos de vida, ainda não conseguiu descobrir, o que te leva a crer que nós conseguiremos?
            -“Nós” não vamos descobrir nada, James. Se há uma pessoa nessa sala que pode encontrar a resposta para a maior dúvida da alma de Bianca é você – respondeu Camile. Seus olhos pretos pareciam sorrir juntos com seus lábios vermelhos. Ela estava se sentindo gloriosa de poder usar algo contra o vampiro.
            -O quê? – assustou-se James – O que eu posso fazer? Nem fiz parte das últimas encarnações de Bianca! Ela não teve nenhum momento comigo em outra vida e, na única vez em que vivemos juntos, sua mente sofre de amnésia, apagando todas as suas memórias que me envolviam.
            -E é por isso que você pode ajudá-la, James! – exclamou Lilá com um pouco de esperança surgindo em seus olhos azuis – Você não enxerga? Na vida humana de Bianca, vocês mostraram claramente que eram almas gêmeas. Não acha um pouco estranho que a alma gêmea dela não tenha aparecido nunca antes em suas reencarnações?
            Apesar de estar extremamente animada com a ideia, quando os olhos de James recaíram sobre mim, entendi a verdade. Não importava o quanto eu quisesse recuperar meu relacionamento com o vampiro. Ele não queria mais nada comigo.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Quinto Capítulo
Alissa



            Quando James descobriu que era o escolhido para ajudar Bianca, imaginei que ele iria se esquecer de mim e o nosso confronto, há tanto tempo adiado, seria dispensado. Logo após as palavras de Lilá, meu ex-noivo apenas murmurou algo ininteligível, parecendo ignorar o quanto aquilo era importante para sua namorada.
            Decidida a não ser pega em uma cilada por James ou Jason, afastei-me da sala e fui ao jardim. Tudo estava tão calmo como se o mundo fosse um lugar sem problemas. Entretanto, cada um de nós, vampiros, sabia muito bem que a Terra era o pior Inferno que poderia existir.
            -Você não mudou muito, Joana – disse James, surgindo ao meu lado de repente. Seu cabelo bronze brilhava com a luz do sol, me fazendo lembrar da época em que meus dedos se enroscavam em suas mechas. Tentei conter as lembranças, mas estar sozinha e tão próxima do único homem que amei em minha eternidade era muito mais difícil do que imaginava que seria.
            -De que parte da minha vida você está falando? – tentei brincar, mas minhas palavras pareciam magoadas e irônicas – De minha época de humana feliz e bonita ou de meus meses de zumbi?
            -Desculpe-me, Joana – James mexeu em seu cabelo como sempre fazia quando estava envergonhado. Apesar de seus olhos verdes terem se tornado roxos após a transformação, eles ainda pareciam conter a doçura de sua fase humana. Era como se o vampiro tivesse permanecido puro depois de mais de 200 anos.
            Fui até um dos bancos da parte externa da casa dos Juges e me sentei exausta por ter adiado aquele encontro tanto tempo. – Eu nunca senti raiva de você e de Lilá por terem me matado. Era uma zumbi e vocês tinham medo que fosse capaz de machucar alguém. Só me magoo até hoje por você ter me abandonado sem nem sentir minha falta.
            James se sentou ao meu lado e segurou minha mão, como fazia quando éramos namorados. – Eu fui um idiota, Joana. Nunca devia ter te enganado. Nunca devia ter aceitado noivar com você. Achava que minha dificuldade em te amar era causada por minha imaturidade e que, com o tempo, tudo melhoraria. Mas não melhorou e acabei de transformando em uma zumbi.
            Sorri com o modo doce que ele estava se desculpando. Imaginava alguns minutos antes que, na primeira oportunidade, suas mãos decepariam minha cabeça. Entretanto, James estava diante de mim e não aparentava ter nenhuma raiva. Talvez a descoberta que minha mania de sequestrar a Bianca tinha mais a ver com a Maldição do que com obsessão, fosse bastante relevante.
            -Está tudo bem, James. Eu já matei minha sede de vingança – respondi, aparentemente brincando, mas, no fundo, estava falando sério. Havia conseguido acabar com o amor de meu ex-noivo pela Ners Bianca. Seus olhos haviam mostrado a verdade.
            Porém, antes que pudesse comemorar verbalmente minha conquista, escutei uma voz vinda da sala. Ela era cheia de desespero. – Ele sequer me ama mais, Lilá!
            Parecia que Bianca acabara de descobrir a verdade: seu relacionamento com James fora por ralo abaixo.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Sexto Capítulo




            Na manhã seguinte, decidi retomar meus estudos. Karl, o responsável pelos documentos falsos, teve um grande trabalho em me reinserir na sociedade como Nathália Sierte, mas, no fim, tudo deu certo.
            Madi e August me matricularam, junto a Alissa, na mesma escola em que estudei quando era humana. O ano letivo estava prestes a começar e todos, inclusive Lilá, Karl, Helena, Nate e James teriam que voltar para a escola. Podíamos carregar uma vida imensa nas costas, mas, aos olhos dos humanos, éramos apenas adolescentes aproveitando a vida.
            Eu estava atrasada um ano. Lilá, Karl, Nate, James e Jason cursariam o segundo ano do Ensino Médio, enquanto eu, Alissa e Camile nos passaríamos por alunas do primeiro. Helena, entretanto, estava condenada a se passar por uma aluna da oitava série mesmo que sua aparência fosse de uma jovem de 18 anos.
            Compramos uniformes novos, retomamos o conteúdo dos últimos anos e nos preparamos para o retorno à escola. Voltar para o colégio onde vivi uma vida de qual sequer me lembro era muito difícil. As pessoas me “confundiriam” com Bianca e me fariam perguntas. Teria que contar a falsa história de que Alissa era minha irmã e que estávamos na cidade para nos restabelecer depois de problemas familiares.
            Pelo lado bom, teria a ajuda de Alissa, que fora considerada uma importante aliada para descobrir minha missão na Terra. Ela, como Jason e Camile, havia me conhecido em outras vidas e era capaz de encontrar paralelos em minhas existências.
            No primeiro dia de aula, acordamos bem cedo e nos alimentamos de comida humana. Ela não fazia bem para o nosso sistema de vampiro, mas, pelo menos, nos impedia de matar alguém durante a aula de Física, por exemplo.
            Eu estava fazendo uma trança em meu cabelo quando Camile e Alissa entraram em meu quarto. Elas estavam dividindo um dos quartos de hóspedes da minha casa e pareciam estar próximas novamente. Definitivamente, o fato de Ali ter sido compelida inicialmente por minha mãe a me sequestrar havia mudado o jogo.
            Camile tinha os cabelos ruivos despencando em cachos em suas costas. Usava o uniforme de forma sexy com a blusa curta deixando a barriga seca aparecendo. Já Alissa adotava o estilo anjinha. Suas mechas pretas estavam lisas até as pontas onde se curvavam em cachos de princesa. Sua roupa era justa, mas do tamanho exato para seu corpo.
            -Você realmente quer fazer isso, Bia? – perguntou Camile, terminando de fazer minha trança. Seus olhos pretos pareciam tão frágeis e tristes. Ela vinha mudando muito desde que fora obrigada a conviver com os Juges. Eles a lembravam dos seus piores atos: as mortes que carregava nas costas.
            -Eu preciso, Cami – respondi, pegando minha mochila. Segundo Madi, ela era o oposto da que minha versão humana usava no colégio. Provavelmente, isso evitaria mais alguns comentários – Se eu não lembrar de minha vida atual, nunca vou descobrir o que devo fazer para não morrer como vampira.
            -Ela tem razão, Camile – disse Alissa. Ela parecia estranha agindo de forma tão educada comigo. Lembrava-me de suas palavras duras em meu sequestro, mas sabia que havia sido movida apenas pelo sentimento de traição e até a entendia – Todas as lembranças que ela tem não pertencem à sua memória. Todas vieram de Jason. Ela merece redescobrir sua vida por si própria.
            Cami concordou com um aceno de cabeça e todas nós descemos até a sala. Jason, James, Helena, Karl, Nate e Lilá nos esperavam. Eles, ao contrário de Camile e Alissa, estavam vestidos simplesmente com o uniforme escolar, sem nenhum toque pessoal. Imaginei se a minha versão humana também era assim. Todos deviam estranhar muito o fato do meu cabelo estar em uma trança tão produzida.
            Isso faz parte da nova Bianca, não há volta e você tem que aceitar isso, sussurrou meu subconsciente que eu desconfiava ser minha alma humana. Ela tinha razão. Não havia como me mudar. Era hora de seguir em frente.
            James avisou que Madi levaria Helena, Lilá e ele próprio. Já Nate e Karl iriam de bicicleta. August iria para o trabalho, enquanto eu, Camile, Alissa e Jason pegaríamos um táxi. Dessa forma, pareceríamos menos estranhos. Chegar em um bando onde a maioria das pessoas era branca como a neve e com olhos pretos realmente seria assustador.
            O taxista pareceu chocado com a aparência bela que nós três, vampiras, tínhamos, porém, tentou disfarçar já que Jason parecia muito ameaçador ao nosso lado.
            O sol brilhava do lado de fora do carro, iluminando a tristeza de meus pensamentos. Só conseguia enxergar o modo como James me ignorara pela manhã e também nas últimas semanas. Ele sequer tentou me convencer a estudar no segundo ano. Simplesmente me deixou ficar longe dele como se fosse uma praga.
            Quando estava prestes a me afundar em minhas mágoas, o táxi estacionou e Alissa abriu a porta. Havíamos chegado. E o ano letivo estava começando.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Sétimo Capítulo




            Esperávamos mais tumulto do que realmente aconteceu. Claramente algumas pessoas vieram me perguntar se eu era irmã gêmea de Bianca ou o porquê de ter me mudado para Curitiba. Contei falsas histórias, fiz alguns amigos e tentei ao máximo me enturmar.
            Alissa e Camile passaram o tempo inteiro comigo e nós três já estávamos sendo chamadas de “Novas Perfeitas”. Como descobrira que as antigas foram mortas, em parte, graças a mim, não fiquei muito feliz com o apelido.  Pelo menos, eles não estavam falando mal de mim.
            Nate e Helena tentavam se manter o mais distante possível. Alissa me contara do beijo dos dois, além da chantagem que quase fizera. Ela estava arrependida, mas se recusou a pedir desculpas. Segundo a vampira, enquanto parecesse superior, seria inalcançável.
            James, Lilá, Karl e Jason estavam enterrados em suas pesquisas por respostas em meu passado. Os quatro passaram o intervalo entre as aulas procurando relatos meus em e-books. Já haviam encontrado informações sobre o reino em que morei com os Moure e Madi, agora só faltava me encontrar.
            Voltamos para a casa e retomamos nossa rotina de vampiros. Jason e Camile foram caçar, enquanto James, Lilá e Karl passaram a tarde na biblioteca adiantando os trabalhos que faríamos durante o ano. Alissa se isolou no quarto de hóspedes. A morena parecia gostar da solidão, já que sua eternidade, em maior parte, se resumira a isso.
            Resolvi dar um passeio pelo jardim. Sabia que devia estar lendo ou algo do tipo que minha antiga versão fazia, mas minha mente estava cansada e eu queria aproveitar um pouco da natureza.
            Enquanto passava pela beirada do bosque, escutei algumas vozes a distância. Eram Helena e Nate. Eles estavam sussurrando, mas não pareciam ser promessas de amor. Era uma briga.
            -Meu pai vai te matar se descobrir que você me beijou, Nate! Ele nem imagina que nós temos alguma relação. Você é meu tio! Nós devíamos nos amar de outra maneira!
            -Helena – Nate hesitou por um momento, a respiração fraca – Eu sempre te amei. Desde que você nasceu, todo o meu amor por Bianca desapareceu. Não te queria como minha namorada naquela época, porque isso seria assustador. Mas te quero agora como a minha companheira. Eu te amo.
            Aproximei-me pelo topo das árvores, evitando que Nate percebesse minha presença. – Eu também te amo, Nate. Mas nós não podemos ficar juntos. Você é irmão do Karl, eu sou filha dele. É errado.
            -E se não fosse errado, Helena? Você ficaria comigo? – perguntou Nate, suas mãos envolviam a cintura de sua sobrinha. Isso era insano e até nojento. Ele não podia amá-la daquela forma.
            -Não há essa possibilidade, Nate. Nós estamos ligados pelo nosso sangue e da forma errada – Helena pareceu sentir a presença de alguém, pois direcionou, em seguida, seu olhar para as árvores. Felizmente, não me encontrou pendurada em uma delas.
            -Na verdade, há uma pequena possibilidade. Eu escutei Lilá e Karl discutindo sobre como a gravidez de minha mãe foi estranha – confessou Nate.
            -Como assim? Não foi estranha como a gravidez de um lobisomem sempre é? – questionou a Ners, enquanto mexia em seus longos cachos castanhos. Sua camiseta do uniforme balançava com o vento, exibindo sua barriguinha, o que deixava Nate quase distraído.
            -Não. Segundo Karl, ele estava procurando algumas fotos da gravidez da minha mãe. Nós dois temos saudades de nossos pais, mas eles tiveram que nos deixar a partir do momento em que nos envolvemos com os Juges. Só que não havia nenhuma imagem de minha mãe grávida de mim. Apareceram milhões da gravidez que traria meu irmão ao mundo, mas nenhuma da minha – Nate parecia um pouco nervoso.
            -O que você quer dizer com isso? Não é possível que... – É possível sim, Helena. Karl e Lilá já consideraram o fato de que posso ser adotado. Acharam estranho que eu fosse tão parecido com ele e também um lobisomem, mas duvidam que nós sejamos realmente parentes.
            -Mas se você for adotado, nós poderemos ficar juntos! – gritou Helena, agarrando Nate. Seus olhos brilhavam de felicidade. Ela parecia uma criança que acabara de se ver dentro da fábrica do Papai Noel. Não havia nada mais emocionante em sua vida.
            -E é por isso que eu chamei meus pais. Só eles podem explicar o que realmente aconteceu há tanto tempo – revelou o lobisomem no exato momento em que escutei os pneus parando na entrada da casa dos Juges.
            Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Oitavo Capítulo
Camile




                Logo depois de voltarmos para casa, eu e Jason resolvemos sair novamente. Não queríamos ficar em um lugar onde as pessoas não confiavam em nós dois e só nos toleravam por sermos necessários para a recuperação de Bianca. Nós éramos apenas peças no quebra-cabeça da mente de Bia.
            Aprofundamos-nos na floresta em silêncio até o momento em que comecei a escutar chiados. – Você escutou isso, Jason? – perguntei, virando-me para o local de onde o som viera.
            -Não, Cami – respondeu meu primo, seguindo em frente no bosque. Porém, permaneci no mesmo local, tentando reconhecer o que estava prendendo tanto minha atenção.
            Foi então que enxerguei o pequeno esquilo que descia a árvore. Minha respiração parou e, novamente, as lembranças me inundaram, roubando a pouca força que meu corpo tinha adquirido nas últimas semanas sem flashbacks.
            Já haviam se passado duzentos anos desde a minha morte e a de Jason. Estávamos de volta ao nosso antigo Reino para checar se tudo estava correto e tentar encontrar de alguma forma a atual reencarnação de Bianca. Duvidávamos que ela fosse da família real, já que, como Madeleine teve apenas a princesa e esta não continuou a linhagem, outra família tomara o poder.
Jason partiu diretamente para o comércio local, pois sonhara na noite anterior que Bianca era filha de um burguês. Eu, entretanto, me dirigi para o lugar onde esperava encontrar descanso e paz: o cemitério.
            Sempre fora sombria demais. Não gostava de sol, adorava lugares reclusos e um bom dia nublado era a minha opção favorita. Então, via nos cemitérios a oportunidade perfeita para me desligar do mundo à qual fora aprisionada pela eternidade.
            Porém, chegando ao cemitério, acabei encontrando uma família visitando um túmulo. Não escutei seus nomes durante a conversa que tinham, mas reparei o sobrenome inscrito na lápide: Sierte.
            -Nós temos que partir daqui o mais rápido possível. Nossa filha não pode ficar exposta a um lugar como esse. As pessoas estão morrendo. Ela não merece nascer em um Reino em que todas pessoas morrem ou viram vampiros!
            -Você não pode culpar os vampiros pela morte de nosso filho. Ele resolveu travar uma guerra contra o bando mais perigoso de bandidos do Reino. Ele sabia no que estava se metendo!
            -Não, ele não sabia! O nosso filho esperava ajudar o Reino, acabando com aquela gente! Como ele poderia sequer imaginar que se tratavam de vampiros? – gritou o pai do menino. Ele parecia um camponês dedicado, enquanto sua mulher, grávida, me lembrava muito uma nobre falida.
            -Não importa mais. Nosso doce filho foi embora para um lugar melhor e é nossa hora de sair desse Inferno – disse a mãe, virando-se de costas e caminhando para longe da lápide. O pai deu um delicado na tapinha na ponta da pedra, como se cumprimentasse o ente perdido.
            Depois que os pais se afastaram do local onde seu filho descansava eternamente, resolvi me aproximar. Porém, antes de chegar à lápide, deparei-me com um esquilo animado que destruía a imagem triste do cemitério. Ele parecia comemorar a vida, enquanto todos choravam a morte.
            Abaixei-me e toquei-o, tendo a esperança de que ele me transmitisse algo bom, de que me tirasse da depressão eterna em qual entrara. Antes que pudesse desistir daquela ideia absurda, seus pequeninos olhos brilharam e percebi que, de alguma forma, o esquilo me entendia.
            Quando preparava-me para retornar à realidade, escutei um ruído baixo atrás de mim. Ao virar, deparei-me com Jason. Ele estava vestido todo de preto, como costumava fazer desde que Bianca desaparecera pela primeira vez há duzentos anos.
            -O que você está fazendo no cemitério de novo, Camile? – perguntou irritado meu primo. Ele odiava minhas visitas àquele lugar cheio de mortos. Para Jason, eu estava me tornando a pior espécie de vampiros: aquela que preferia a morte a aproveitar uma eternidade repleta de surpresas.
            -Eu só estava tentando me distrair – respondi, evitando a frase que queria sair de meus lábios: eu só estava comemorando minha morte pela centésima vez, o que você acha?
            Jason revirou os olhos, sabendo que eu estava mentindo, e se aproximou da lápide. Quando lemos o nome na lápide naquela época, parecia algo insignificante. Só mais um morto pelo mesmo motivo que estávamos “vivos”.
            Porém, agora, vivendo no século XXI, tudo era diferente. Saí de minhas lembranças e com os lábios tremendo, gritei o nome de Jason. – Cami! O que houve? – perguntou meu primo, alcançando-me.
            -Lembra-se daquela lápide que nos pareceu tão insignificante em 1700 e tanto? – Lembro sim, Camile. Por quê? – o loiro parecia apreensivo com minhas palavras, como se eu fosse uma louca.
            -Então... – nem precisei completar. O choque percorreu o rosto de Jason como se ele acabasse de ver um fantasma. Bem, ele havia visto algo quase assim durante toda a manhã.
            -Meu Deus – dissemos juntos, absorvendo a importância daquela revelação à história de nossas reencarnações.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Nono Capítulo




            Antes que Nate pudesse sequer prestar atenção no som do carro, corri para a entrada da casa dos Juges e me escondi em cima de uma das árvores que cercava o veículo. Esperava ver os pais de meu amigo lobisomem, mas me deparei com a visão de ninguém mais ninguém menos do que o paparazzo Robert.
            Ele não estava com nenhuma câmera e nem tinha nenhum colega lhe acompanhando. Parecia calmo e sem nenhum ar irônico. Andando lentamente, chegou à sacada, onde tocou a campainha. Imaginei se alguém iria atender à porta e permitir que aquele fotógrafo entrasse na casa das pessoas que ele tentara destruir, mas nem precisei pensar muito antes de Nate aparecer na porta.
            -O que você está fazendo aqui? – sua voz era grossa e ele parecia prestes a dar um soco naquele paparazzo caso sua resposta não fosse convincente o suficiente. Preparei-me para interferir se o lobisomem realmente partisse para a agressão física.
            -Eu vim porque seus pais me pediram, Nate – disse Robert, sem nenhuma pressa ou nervosismo, como se estivesse falando a verdade. Mas aquilo era impossível, certo? Os pais dos Dennis não podiam ser amigos de uma pessoa tão baixa quanto aquele homem.
            Helena surgiu na porta e percebi que ela tentava captar se o paparazzo falava a verdade. As Ners tinham aquele poder, o que podia ser bem útil em uma situação como aquela. – Mas por que eles te pediriam para vir aqui ao invés de vir pessoalmente?  
            -Os seus pais já disseram várias vezes que não iriam se misturar com os vampiros, certo? – indagou Robert, assustando a todos ao mostrar que sabia sobre a verdadeira condição dos Juges – Então, nada mais lógico do que não querer vir para a casa de vários deles.
            -Do que você está falando, Robert? – perguntou James, surgindo ao lado de Helena e Nate, bloqueando assim a porta e deixando bem claro que o fotógrafo não era bem-vindo em sua casa.
            -Vocês realmente acham que eu não sei de nada? Que eu realmente caí naquela historinha sobre a Bianca ser, na verdade, uma menina chamada Nathália? Que eu não reparei nos olhos roxos e pretos por todos os lados? – Robert deu uma risada de escárnio – Pelo amor de Deus.
            -Não sabemos do que você está falando – cortou-lhe James, tentando fechar a porta, mas o paparazzo se colocou no caminho. – Chega de teatro. Eu estou aqui para cumprir o que meus amigos me pediram para fazer. E ninguém vai me impedir.
            Desci da árvore e me aproximei por trás de Robert. Ele estava concentrado demais no vampiro, no lobisomem e na Ners que permaneciam na sua frente para conseguir escutar meus passos subindo a escada da entrada.
            -Existe gente que realmente não se toca de quando não é bem-vindo em algum lugar, né Robert? – perguntei, fazendo com que o humano pulasse, totalmente assustado. Seu coração disparou de forma tão intensa que temi que o fotógrafo sofresse um infarto.
            -Já deu de assustar o homem, ok? – disse Lilá, passando por James, Nate e Helena, antes de auxiliar Robert a se sentar e medir seus batimentos cardíacos. Era tão estranho ver alguém jovem como ela agindo como médico – Você está bem, senhor?
            -Estou – respondeu Robert com a voz fraca – Você é médica?
            -Sou sim – afirmou Lilá – Estudei Medicina em casa, então não posso exercer a profissão, mas consigo ajudar qualquer um que esteja mal. Espero que isso seja suficiente para você.
            Robert sorriu com a ironia de Lilá e, finalmente, escutei seu coração se acalmando. Quando percebemos que o fotógrafo não estava realmente mentindo e que todas as suas palavras não faziam parte de uma armação, eu e James o carregamos até um dos sofás da sala, enquanto Helena e sua mãe preparavam um chá para o visitante.
            Entretanto, Nate não parecia disposto a ajudar. – Meus pais não seriam tão rudes a ponto de nem me avisar que não vinham. Eu estava os esperando – meu antigo amor baixou os olhos, tentando esconder as lágrimas que queriam cair.
            -Irmão, eles não são tão ruins assim – aliviou Karl, colocando sua mão sobre o ombro de Nate. Percebi que o lobisomem se reconfortou com o toque de um familiar, tomando até mesmo coragem para levantar o rosto e encarar Robert.
            -Eu posso até acreditar em você... – começou Nate, mas sua fala foi interrompida pela voz de Camile. – Não é possível que você tenha voltado!
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Capítulo
Alissa




            Estava afundada em mais uma leitura quando senti o sono me atingindo. Havia escutado o tumulto na casa dos Juges, mas não queria me envolver. Caso a situação realmente fosse séria, eles iriam me chamar de um jeito ou de outro. Só me restava descansar enquanto isso não ocorresse.
            Imaginei que teria uma soneca sem sonhos, porém, não foi isso que ocorreu. Bastou meus olhos se fecharem que me senti sendo transportada para 1800, na época em que eu era apenas uma criança.
            Meu subconsciente se sentiu um pouco apreensivo. Normalmente, aquelas visões de meu passado eram sempre repletas de significados ocultos que só me arranjavam novos problemas. Entretanto, não havia como evitá-las.
            Estava na sala de estar de minha casa com meus pais. Eles estavam conversando sobre algo que naquela época não conseguira compreender, mas que, no sonho, parecia-me totalmente claro.
            -Carlos nos mandou uma carta, avisando que nosso antigo Reino está devastado. Os vampiros tomaram tudo – disse minha mãe, mostrando o envelope para meu pai – Pelo menos, ele conseguiu salvar a filha. A esposa infelizmente morreu junto com seu irmão.
            -Liliana e seu irmão morreram? – perguntou meu pai, pegando um porta-retrato onde havia um desenho de Lilá, James, Karl e Nate no passado. Obviamente, se tratava de reencarnações dos quatro, mas aquilo já era o suficiente para me assustar.
            -Sim. Foram atacados por vampiros também. Felizmente, a pequena Helen sobreviveu. Carlos ficaria devastado se sua filha partisse como os outros – minha mãe se entristeceu, enquanto seus dedos tocavam o desenho levemente. Lágrimas pingaram sobre o vidro e me senti mal por naquela época não ter lhe ajudado. Sei que era apenas uma criança, mas minha mãe precisava de consolo.
            Os braços de meu pai a envolveram e percebi que ambos choravam uma própria perda, não apenas a de Carlos/Karl. – Deve estar sendo difícil para Carlos. Primeiro, seu melhor amigo, nosso filho, foi morto. Depois, Liliana e seu irmão. Quem será o próximo?
            Apesar de o medo do próximo assassinado ser o suficiente para deixar qualquer um curioso, só consegui prestar atenção em uma informação. “Nosso filho, nosso filho”. Meus pais haviam tido outro filho além de mim e nunca me contaram nada.
            -Não devemos pensar nisso, certo? – tentou se animar minha mãe – Nosso filho já encontrou o Paraíso. Os outros também irão descansar – sua voz não parecia nem um pouco convencida.
            -Todos encontraram um lugar melhor. Aquele Reino é o fim para qualquer ser que preste – relembrou meu pai – Até mesmo aquela princesa, em 1500, sofreu as consequências. Perdeu o pai, foi sequestrada e, provavelmente, teve que escutar as notícias de sua mãe enlouquecendo. Ninguém está a salvo naquele Inferno.
            Minha versão pequenina olhou para seus pais, curiosa, ao ouvir a palavra “Inferno”. Ela parecia relacioná-la com alguma situação que vivenciara. Não conseguia me lembrar de qual havia sido meu pensamento naquela idade, mas desejei que a pequena Joana não tivesse a mínima noção das tristezas que sua vida lhe traria.
             Meu pai ignorou o olhar de Joana e se voltou para minha mãe. – Nós não podemos continuar a pensar em Nathaniel, em Carlos, Helen, Liliana ou qualquer outro. Nossa vida na Europa acabou. Nós estamos em um lugar melhor e nosso passado não existe mais.
            Antes que eu pudesse escutar a resposta de meu pai, fui bruscamente retirada de meu sonho. As pessoas gritavam na casa dos Juges. Alguma coisa estava muito errada. Levantei-me correndo e cheguei ao lar de James em menos de um minuto.
            Quando entrei na sala dos Juges, tive que me controlar para não desmaiar. Diante de mim se encontravam duas partes importantíssimas de meu passado. Meu irmão perdido e meu pai olhavam para mim sem me reconhecer. Mas o importante era que eu os reconhecia.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Primeiro Capítulo
Alissa


            A lembrança de minha infância havia reavivado a imagem de meu pai que há tanto tempo fora esquecida. Não era possível que aquele homem tão sujo e sem escrúpulos fosse uma reencarnação de meu querido pai que há décadas havia morrido. Mas era. Podia ver em seus olhos o reflexo de sua alma.
            -Alissa? Por favor, respire fundo... – disse Jason segurando minha mão. Percebi que tanto ele quanto Camile haviam descoberto sobre a identidade dos meus familiares antepassados. – Por quê? Qual é a diferença de ter um chilique agora e daqui cinco minutos?
            -Como assim “chilique”? O que está acontecendo aqui? – interrogou Bianca se aproximando de mim. Apesar de saber que vampiros não podiam ter olhos castanhos, tive a impressão de ver algo parecido no rosto de Bia. Porém, um segundo depois, eles já voltavam a ser pretos. Devia ter sido a luz.
            -Bianca, acontece que há duas pessoas nessa sala que não exatamente o que pensamos ser – afirmou Camile, calmamente. Ela parecia mais tranquila do que antes, como se minha presença tivesse acabado com seu pânico.
            -Quem? – perguntou Helena, olhando rapidamente para o paparazzo e seu amado, Nate. Reparei que ela imediatamente se culpou por duvidar do caráter do lobisomem, mas não havia como controlar o subconsciente.
            Com muita força para não surtar, apontei para Robert e Nate. Ambos me olharam como se eu tivesse os sentenciado à forca. Entretanto, todos os outros deviam saber a verdade antes que essa invenção continuasse. – Nate não é um Dennis. E Robert não é apenas um amigo dos pais de Nate – comecei, reunindo as informações que ouvira da casa de Bia.
            -Do que você está falando? – questionou Karl – Você está dizendo que Nate não é meu irmão? Quem você pensa que é? – ele parecia prestes a se transformar na frente de todos e me atacar. As pessoas normalmente não reagem muito bem com a verdade, mas o lobisomem estava exagerando.
            -Que tal isso, Karl? – respondeu Camile – Alissa é irmã de uma das encarnações de Nate. Uma encarnação que era seu amigo, enquanto você governava o Reino de Bianca. Você já sabe que nossos Destinos estão interligados há séculos, então não deve ser surpresa alguma.
            Karl caiu no sofá. Ele parecia totalmente em choque com a notícia. Nate, pelo contrário, estava quase explodindo de felicidade. – Então, eu não tenho sangue Dennis? Sério, Alissa? – concordei com a cabeça, um segundo antes de quase ser esmagada por seu abraço de lobisomem – Muito, muito, muito, muito obrigada!
            Eu realmente não esperava aquela reação, então não imaginei o que fazer diante daquilo. Ao invés de ter um momento fofo com meu irmão reencarnado, resolvi me dirigir à outra pessoa que estava escondendo sua verdadeira identidade. E essa eu sabia muito bem como tratar.
            -O que você está fazendo aqui, pai? Ou melhor, alma do meu pai? – não sabia exatamente o porquê de sentir raiva de quem já me amara tanto. Talvez fosse pelo fato de que sua alma, ao contrário da de Madeleine, em relação à Bianca, não tentou me proteger ao longo dos anos.
            -Do que você está falando, mocinha? – apesar de seu teatrinho, sabia muito bem que Robert não era um total perdido na história das Encarnações. Podia ver em seus olhos que aquelas informações não lhe eram totalmente estranhas.
            -Chega de mentir, Robert – ameaçou Jason – Nós achamos que você veio para a casa de James apenas para ajudar Nate, mas não passa de uma mentira. Você veio com más intenções e sairá daqui AGORA!
            -Não, isso não é verdade, Jason – disse Helena – Eu vi a alma de Robert. Ele veio a pedido dos pais de Karl, então ficará. Ele veio para a ajudar e já começou ajudando. Graças à sua presença, vocês três descobriram que as reencarnações de Nate e Karl não são irmãs. Já não é um bom começo?
            Ponderei a conclusão de Helena e percebi que a Ners tinha razão. Entretanto, não estava preparada para enfrentar a presença de Robert. Ele me abandonara durante todas essas décadas. Não havia sido um bom pai.
            -Ok, Helena – concordou James – Você tem razão. Robert realmente já nos ajudou. Porém, agora que sabemos sobre a verdadeira alma dele, teremos que trabalhar muito na descoberta do que há mais por trás de sua face de paparazzo.
            -Não se preocupe com isso, James – disse Lilá – Eu, Helena, Karl, Camile e Nate cuidaremos de descobrir o que mais Robert está escondendo sem saber. Além disso, acho que podemos tentar um contato com os pais de Karl e tentar descobrir quem são os verdadeiros pais de Nate. O que acham?
            Todos concordaram com o plano e passaram a trabalhar em suas novas funções. Os cinco guardiões de Robert foram para a cabana de Nate, onde tentariam arrancar respostas para as novas perguntas que surgiam. Quem eram os pais de Nate? Por que Robert estava de volta? E será que ele tinha alguma coisa haver com o lobisomem?
            Entretanto, eu me dirigi novamente para minha cama sem nem olhar para trás. O dia já havia sido cansativo. Era a minha hora de descansar.

Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Segundo Capítulo



            Foi bom poder me afastar de toda a confusão envolvendo de onde Nate viera. Agora que já sabíamos que ele não era irmão de Karl, todos os problemas de amor proibido com a Helena haviam acabado. Pelo menos, podíamos dizer que estávamos evoluindo no quesito “não deixar mais problemas sem solução”.
            Na manhã seguinte, todos nós voltamos para a escola, enquanto Madi e August foram responsáveis por impedir que Robert fizesse qualquer bobagem ou tentasse fugir. Os adolescentes, ou aparentemente isso, só deviam ir para a escola e tentar não destruí-la.
            Eu, Alissa e Camile estávamos na terceira aula, quando a porta de nossa sala e um dos inspetores de nossa escola surgiu carregando um buquê de flores. A professora de Inglês o olhou irritada, sabendo que aquela aparição acabaria causando um grande tumulto. – Para quem são?
            -Para – o inspetor olhou para o cartão antes de responder – Nathália Sierte – todos os alunos se voltaram para mim. Senti um arrepio em minha espinha. Só havia dois garotos que teriam coragem de mandar rosas para mim, a misteriosa nova aluna: Jason e James. Como o segundo havia desistido de me amar, me restava apenas o vampiro loiro, que vamos assumir: era lindo.
            Levantei-me e peguei o buquê sentindo o cheiro maravilhoso que dele exalava. Alissa e Camile se amontoaram ao meu redor para tentar ler o cartão que estava preso a uma rosa:
            Espero que goste dessas rosas. Nas últimas encarnações, você amava sentir seu cheiro enquanto caminhávamos ao ar livre. Era seu passatempo favorito. Beijos, Jason.
Obs: não desisti de te ajudar a trazer sua memória de volta. As coisas vão melhorar, Bianca. Saiba disso.
            -Ele não desiste mesmo – riu Camile – Jason pode ser tudo menos covarde. Ele sabe que você ainda ama James por causa de sua parte humana, mas imagina que a sua parte imortal, aquela que sobreviveu quando virou vampira, ainda o ame como amou em todas as outras encarnações.
            -Desculpe ser estraga-prazeres, mas Bianca nunca amou Jason em nenhuma encarnação. Ela sempre se sentia incompleta com ele, por isso que nunca tentou fugir de meus sequestros – lembrou Alissa, acabando com a felicidade de Camile. Ela era prima de Jason e não gostava de ver alguém subestimando suas poucas alegrias.
            -Sem briga, meninas. Eu adoro o Jason e amei as rosas. Já chega de pensar nas outras encarnações que vivi. Agora sou Nathália Sierte e é isso que importa – antes que a professora fosse brigar com a nossa conversa, avisei Cami e Ali que era melhor ficarmos quietas. Não era hora de chamar atenção. Mesmo que Jason já tivesse feito isso com as rosas.
            Quando nos preparamos para sair no intervalo, gêmeas de cabelo ruivo entraram na sala como se tivessem acabado de ver seu ídolo e não soubessem o que fazer. Nossa professora se aproximou das duas garotas, que pareciam ter 13 anos, e perguntou:
            -O que vieram fazer aqui, meninas? – as duas apontaram para mim. Meu corpo tremeu. Não era possível que Jason tivesse aprontado mais alguma coisa em tão pouco tempo. Ele era persistente, mas não idiota. Algo estava errado.
            Aproximei-me das gêmeas, tentando controlar a vontade de me alimentar que aumentava a cada passo que eu dava. Elas tinham o sangue mais cheiroso possível. Parei de respirar para evitar qualquer cena horrível. – O que houve?
            Ao invés de me responder como adolescentes normais fariam, elas simplesmente começaram a cantar. Era uma música bonita, mas o que me chamou atenção foi o significado que havia por trás da cantoria.
            Elas eram minhas “cantoras*”, os seres humanos que possuíam o sangue que podia me deixar incontrolável. Quem quer que as escolhas me conhecia mais do que eu mesma. E só havia alguém assim...
            Foi então que James apareceu em minha frente. As meninas imediatamente pararam de cantar e saíram rapidamente da sala. A professora decidiu nem persegui-las. Para ela, as gêmeas haviam sido patéticas.
            -Então, como vai a minha cantora? – minha alma saltou durante um instante. No fim das contas, James não me esquecera.
Escrito por StarGirlie.
*Em Lua Nova, Aro chama Bella da cantante (cantora) de Edward por seu sangue “cantar” para ele.
Quadragésimo Terceiro Capítulo



            Avisei Camile e Alissa de que iria conversar com James durante o recreio e saí da sala. O vampiro de cabelos castanhos parecia nervoso de falar com a minha versão vampira, algo que não estava acontecendo com frequência. Era estranho estar com alguém que minha parte humana amara tanto e não saber o que sentir.
            Resolvi ir direto ao ponto ao invés de ficar dando voltas em algo sem importância. – James, por que você pediu para aquelas gêmeas começarem a cantar para mim? Tá, eu entendi o significado. Elas são minhas cantoras como eu era a sua. Mas o que isso importa agora?
            James se colocou diante de mim, seus olhos negros encarando os meus. – Você realmente não enxerga, Bia... Nathália? – era óbvio que nossa conversa podia ser escutada por qualquer pessoa, então tínhamos que manter as aparências.
            -Do que você está falando? – não entendia o que James estava tentando me dizer. Até aonde eu sabia, toda aquela cena com as gêmeas fora sem sentido algum, já que ele não me amava mais. A sua Bianca estava morta.
            O moreno segurou minhas mãos, fazendo com que um arrepio percorresse meu corpo. Vampiros sentiam arrepios? Seu olhar era tão penetrante que eu não sabia se era capaz de sustentá-lo por muito tempo. Cheguei até a sentir como se meu coração batesse por um segundo. Algo estava muito errado com meu corpo.
            -Eu não esqueci tudo que vivemos. Eu ainda te amo. Na verdade, acho que te amo ainda mais do que antes, pois agora vejo toda a personalidade que você tentava esconder. Essa – ele tocou meu rosto – é sua alma. A Bianca que amei era resultado de milhões de dores. A garota que está diante de mim é alguém puro, real.
            Não era possível que James estivesse falando a verdade. Ele não podia me amar, certo? Eu não era doce como a outra Bianca era, não era divertida e nem tão bonita. Vamos falar a verdade: minha pele branca com aquelas olheiras não favorecia mesmo minha aparência!
            Lembrei-me de como James e Alissa estavam se aproximando nas últimas semanas. Eles já haviam sido noivos e tinham uma intimidade que a minha versão sem memória nunca conseguiria ter. – Mas e Alissa? Eu vi o jeito como você olha para ela...
            -Eu estava confuso – reparei que ele evitava me chamar de Nathália. Suas palavras eram sinceras demais para envolver tal mentira – Não queria ser o responsável por trazer sua memória de volta, pois sei que, se algo der errado, você morrerá. Então, quis me apaixonar por Alissa, algo que nem mesmo na época em que éramos noivos aconteceu. Mas toda a vez que eu te via com Jason, todo o ciúme que sentia quando você estava com Nate voltava.
            Enquanto as palavras saíam da boca de James, imagens de Nate, James e Lilá ao meu redor em um leito de hospital começaram a aparecer em minha mente. Aquilo havia acontecido! Eu tinha certeza! A lembrança era muito real, podia até mesmo sentir os meus batimentos cardíacos, minha respiração fraca, minhas emoções confusas!
            -James, você está conseguindo! – não consegui me contar. Sabia que a declaração dele era linda e sincera demais para que eu interrompesse, mas o irmão mais velho de Lilá entenderia o meu motivo.
            -Conseguindo o quê? – ele parecia um pouco magoado, mas ainda assim muito curioso para saber o que estava acontecendo. Pelo visto, até mesmo minha versão humana tinha essa mania de fazer tudo por um motivo.
            -Conseguindo que a minha memória volte! Eu acabei de me lembrar de quando estava no hospital depois... – mais imagens surgiram – que você me deu seu sangue naquela livraria!
            James nem hesitou e um segundo depois ele estava me girando em seus braços, seus lábios esticados em um sorriso perfeito. Ele parecia prestes a explodir de felicidade. Não podia esconder que isso também estava acontecendo comigo. Talvez houvesse alguma esperança de eu voltar a ser quem era antes.
            -Então, eu sou mesmo quem deve te ajudar. Sou a solução para que as coisas se resolvam! – animou-se James me abraçando sem nenhuma timidez. Era bom estar junto ao seu corpo novamente. Passamos tanto tempo longe que eu não queria nunca mais largá-lo.
            Mas como não há mal que nunca acabe nem bem que sempre dure, apenas dois minutos depois senti meu celular vibrar. Nova mensagem de Camile Moure. – O que houve? – perguntou James, perdendo toda a felicidade que estampava seu rosto anteriormente.
            -Robert sumiu.
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Quarto Capítulo
Robert




            Não fora nem um pouco difícil me livrar de Madi e August. Precisei apenas dopar a humana e deixar que o vampiro surtasse achando que ela havia desmaiado por algo mais sério do que um “Boa Noite, Cinderela”. É óbvio que ele não demorou a descobrir a verdade, mas, felizmente, nesse momento, eu já estava longe o suficiente para não ser pego.
            Finalmente, eu estava livre daqueles vampiros obcecados por Bianca. Aquela menina não era o centro do Universo! Por que todos tinham que insistentemente tentar entender a existência dela? Já não havia problemas demais se cada um cuidasse apenas da própria vida?
            Parei meu carro na porta d’a Casa da Noite, observando como a paisagem era diferente de dia. Todas as paredes pretas cintilavam como se fossem de vidro e refletissem o dia de sol. Aquilo era uma magia feita por uma antiga bruxa para que o centro das forças malignas parecesse, na verdade, com o Paraíso.
            Peguei meu celular e disquei o número da dona d’A Casa da Noite. Sabia que era muito mais simples ir diretamente até ela, porém, como qualquer mero humano, me recusava a entrar naquele lugar. Não importava quem estivesse lá dentro para me proteger.
            -Oi, amor. Tenho boas notícias: livrei-me daquela gente – escutei sua respiração ofegante e entendi claramente que ela não ficara animara com minhas “boas novas” – Tudo bem, teve um lado ruim. Eles agora sabem que conheço os pais de Karl e que sou a reencarnação do pai de Alissa e Nate.
            -Mas eles não descobriram a verdade sobre Nate, certo? – hesitei por um momento, imaginando se algum deles poderia ter entendido o que estava tão claro nas entrelinhas – CERTO?
            -Não, Jenna. Eles não descobriram nada sobre o lobisomem. Mas não vai demorar para que isso aconteça! Bianca, de todos eles, já está percebendo que toda a questão das reencarnações tem um sentido! Ela não morreu exatamente para acabar com esse ciclo vicioso!
             Antes que pudesse simplesmente pensar em minhas palavras seguintes, Jenna surgiu em minha frente, os caninos destacando-se de sua boca repleta de sangue. Ela havia acabado de se alimentar, o que tornava tudo ainda mais assustador.
            -Nate não pode saber sobre qualquer coisa que nos envolva. Ele nos odeia simplesmente pela relação que temos com o comportamento rebelde de Helena! Se ela não tivesse entrado n’A Casa da Noite, nunca teria conquistado aquela postura contra sua família.
            Senti meu corpo se arrepiar. Ainda não havia me acostumado com o fato de que Jenna era uma vampira e muito poderosa. Sabia que aquilo havia acontecido há muito tempo (dezessete anos para ser exato), mas a sua imagem de adorável humana não desaparecera de minha mente. Principalmente, pelo fato de que eu estava envelhecendo e ela estava cada vez mais linda com seus 20 anos. Definitivamente, a aparência não deixava meu cérebro apagar nosso passado.
            -Jenna, eu sei como é importante para você que Nate não nos odeie, mas isso vai acontecer de qualquer forma. Nós estamos chegando ao final da missão de Bianca. Logo depois disso, todo o nosso plano começará realmente.
            Jenna limpou sua boca repleta de sangue e olhou para mim com seus olhos agora calmos. – Eu ando repensando sobre isso, Robert. E se não fizermos nada que planejamos? Assim, talvez pudéssemos nos aproximar de Nate. Seríamos o que já fomos há muito tempo!
            -Não, Jenna! – segurei seus pulsos, mesmo sabendo que aquilo era um ato perigoso para se fazer com um vampiro – Nate nunca voltará para nós dois, ok? Isso aconteceu há 17 anos! Ele sempre nos odiará, de uma forma ou de outra. Se não fizermos o que planejamos, Nate irá pensar que você é a maldita dona d’A Casa da Noite e que eu sou o “cara” ridículo que já foi pai dele em outra vida. Mas se fizermos, talvez ele nos odeie por mostrar quem ele é por baixo daquela máscara de bom moço.
            -Você acha, Robert? – concordei sussurrando e deixei que seus braços me envolvessem. Porém, eu estava mentindo. Nate não nos odiaria para sempre se simplesmente deixássemos a vida dos Sern. Ele só nos odiará quando destruirmos tudo de uma vez.
            Entretanto, Jenna não pode saber de nada disso até o momento certo. Ela nunca faria nada que a afastaria de nosso filho, de Nate.
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Quinto Capítulo




            James estava sentado ao meu lado no sofá, um de seus braços ao meu redor. Todos estavam preocupados com o que Robert poderia fazer fora daquela casa, mas Karl havia dito que ninguém deveria se preocupar. Os pais dele não eram amigos de pessoas muito ruins.
            -E se ele decidir contar alguma coisa sobre a gente? – perguntou Jason, os olhos brilhando ao me observar abraçada a James. Ele estava sofrendo e eu não podia fazer nada para impedir aquele sentimento. Meu coração não podia enganá-lo.
            -Ele não vai contar – assegurou Karl – Mas para garantir mesmo, eu vou procurá-lo. Nate e August, vocês poderiam vir comigo?
            -Karl, eu poderia ir com vocês? Estou precisando fazer algo de útil – foi difícil ver Jason partir por minha causa, mas tive que deixá-lo seguir seu caminho. Não podia prendê-lo a mim.
            Coloquei minha cabeça sobre o ombro de James e tentei lembrar alguma coisa de nosso passado. Eu precisava encontrar algo que tirasse aquela dor de perder Jason de meu coração. Se o meu amor pelo vampiro moreno voltasse, talvez eu esquecesse o loiro completamente.
            -Filha, eu poderia falar um instante com você? – Madi estava parada na porta da cozinha dos Juges, enquanto Lilá, sua filha e Camile saíam da casa. Aparentemente, as quatro estavam indo às compras. Todo mundo precisava mesmo de um descanso de todos aqueles problemas.
            Levantei-me do sofá, sentindo uma pontada no coração por ter que me afastar de James. Talvez eu não o conhecesse como a minha versão humana, mas ele me fazia um bem que nenhum outro conseguia. E, pelo visto, eu o fazia sentir o mesmo.
            Madi me levou para o lado de fora da casa, onde o pôr do sol já caía no horizonte. – Bianca, o que você está fazendo?
            Sua voz estava repleta de preocupação, seus olhos mostravam a dor de não saber quem era a pessoa que estava na sua frente. – Do que você está falando, mãe?
            -Filha, você está enganando aquele garoto na sala! James te ama, mas você não o ama! Eu senti sua alma quando você voltou para casa naquele dia e ela não está predestinada ao filho de August. Você sempre pertenceu ao Jason. E você sabe disso! – as palavras de Madi quebraram meu coração. Ela não podia estar falando sério.
            Senti minhas pernas tremerem. Eu não podia pertencer a Jason. Ele não era... o meu futuro! – Isso não é verdade! Não é! Não sou obrigada a ficar com alguém que eu não amo simplesmente porque a sra. Ners resolveu ver minha alma!
            Escutei James se aproximando da porta. Ele estava escutando nossa conversa e esperava o momento em que precisasse agir. – A minha filha saberia a hora de parar de se meter nas coisas do Destino. Você não pode acabar com o James e pronto!
            -Pronto, nada! A sua filhinha humana ligava tanto para as coisas do Destino que foi capaz de se virar contra toda a Natureza e se entregar no lugar de Helena e Lilá no dia da Luta. Ela se importava tanto que preferiu amar um vampiro enquanto podia ficar com qualquer humano. Pare de se iludir, Maria Eduarda. Eu sou nada mais nada menos do que a verdadeira Bianca que você sempre tentou reprimir!
            Foi então que a mão de minha mãe acertou em cheio minha bochecha. Podia ter arrancado seu braço para revidar, mas aquilo não era certo. Madi era minha mãe. Ela podia estar sendo ridícula, porém, eu não tinha o direito de machucá-la.
            -Nunca mais machuque Bianca – sibilou James, surgindo na cena e me retirando dali rapidamente. Ele colocou-me em seus braços, abraçando-me como podia enquanto me tirava dali.
            Paramos no meio da floresta. Sentamo-nos sobre uma pedra, escutando os sons agradáveis que vinham de todas as direções. Ali o mundo parecia estar em paz. Bem diferente da realidade.
            -Obrigada por ter me afastado dela, James. Eu podia matá-la do jeito que estava – coloquei minha mão sobre meu coração, tentando apagar a dor que havia ali dentro.
            -Mas não matou, Bianca – James segurou minha mão e me puxou para mais perto – É isso que importa.
            Seus olhos roxos se fixaram nos meus. – Eu escutei o que você disse sobre Jason. Então, quer dizer que você não o ama? – neguei com a cabeça, incapaz de formular uma frase com aquele olhar sobre mim – Mas você me...
            Porém, o vampiro não terminou a frase. Seus lábios estavam próximos demais dos meus. Não sei quem havia começado, só sei que em um segundo estávamos nos beijando.
            Suas mãos desceram por minha coluna. Deitei-me sobre a pedra, com James acima de mim. A tensão só crescia a cada movimento de nossas bocas. Senti os lábios do moreno em meu pescoço. Agarrei-o e me posicionei sobre ele.
            Foi então que senti minha consciência hesitar, minha respiração parar. Eu não podia estar morrendo de novo.
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Sexto Capítulo


            Isso, Bianca. Você está seguindo no caminho certo! Não se desvie, hein? Podia escutar aquelas vozes na escuridão, mas não conseguia relacioná-las a ninguém específico. Na verdade, elas se assemelhavam a minha voz.
            -Ora, ela lembrou, meninas! – uma luz iluminou um ponto na escuridão. Sentada sobre uma pequena cadeira, estava uma princesa. Ela tinha longos cabelos castanhos entrelaçados em tranças maravilhosas. Seu vestido era de um roxo delicado com dourado nas pontas. Mas o mais impressionante de sua aparência era o seu olhar castanho.
            Ele era penetrante e até mesmo assustador. Parecia atravessar a alma a quem se dirigisse. E se repetia igualmente no rosto das outras meninas que surgiram no escuro.
            Uma delas era uma camponesa com a aparência praticamente igual a da princesa, excetuando obviamente as vestimentas. Ela parecia um pouco menos antiga do que a primeira, mas ainda mantinha um ar de contos de fadas. Enquanto a primeira era a Branca de Neve, essa era claramente a Bela de Bela e a Fera.
            -Não se empolgue, princesa. Ela precisa desvendar o mistério para voltar à vida – disse a terceira garota. Esta parecia ter saído dos anos 50. Tinha um vestido fofo e que parecia perfeito para se rodopiar. Seu cabelo curto lhe dava um charme superior que nem a Realeza permitia.
            -Mas ela vai conseguir, não é mesmo, Bianca? – meu cérebro quase não foi capaz de identificar a última. Ela era definitivamente a minha versão humana. Vestia um conjunto fofo de shorts branco e blusa preta, que ressaltava a clareza de sua pele. Seu cabelo, apesar das mechas, continuava muito escuro.
            -O que está acontecendo aqui? – minha voz saiu esganiçada. Aquelas meninas não podiam ser quem eu estava pensando. Minha vida não podia ter enlouquecido tanto a esse ponto.
            -Você sabe, vampira – disse a camponesa. Ela parecia irritada com a minha demora em entender os fatos o que só me deixou mais assustada. Cada uma agia de uma forma totalmente diferente da outra, mas eu conseguia entender todas as reações...
            -Vamos lá, Bianca. Você consegue – reanimou-me a minha versão humana. Seus olhos castanhos e bondosos me acalmaram por um minuto, mas logo me lembrei de como a situação era assustadora e inesperada.
            -Vocês são as diversas faces da minha alma? – todas as versões pararam e me encararam seriamente. Eu estava indo a algum lugar – A princesa é a garota pela qual Jason se apaixonou e a primeira Ners. A camponesa é a menina que viveu na época em que James, Lilá e a Alissa se tornaram vampiros. A humana claramente é a adolescente que fui até morrer ano passado... Todas as aparições tem um significado menos...
            -Menos eu – a Bianca dos anos 50 deu um sorrisinho fofo e mexeu em sua franjinha – Bem, meu significado tem relação com algo que você ainda não descobriu. Posso dar uma dicazinha básica para te ajudar: tem a ver com o passado de Nate.
            -Nate, mas... – comecei a falar, mas rapidamente a princesa me cortou – Não podemos perder tempo. Bianca, você desvendou quem somos nós, mas não deve estar entendendo por que estamos diante de você. Então, é hora de explicarmos.
            -Cada uma de nós está aqui para lhe entregar as memórias que você perdeu na transformação – a camponesa se aproximou e tocou minha mão – Sei que vai ser difícil para você se lembrar de quatro vidas que você teve, mas é a hora de enfrentar seus próprios desafios.
            Era estranho ter a anteriormente rude Bianca sendo uma fofa comigo, mas era claro que a situação estava mudando. Eu não era mais a versão burra que estava morrendo. – Mas eu vou morrer se me lembrar de tudo! As lembranças não são uma doença para mim?
            -Eram, Bianca – explicou a Bianca humana do século XXI – James lhe entregou a cura.
            -O beijo. Ai, meu Deus! O beijo foi como ele me transformou e tomou minhas memórias, então, a saída, obviamente, era outro beijo! – toquei meus lábios com as pontas dos dedos, tentando encontrando o veneno que houve em nosso beijo de despedida.
            -Sim – a garota dos anos 50 falou – A ligação que você tem com James é incrível. Todas as suas soluções se encontram nele.
            -Pare de revelar coisas que não devia – brigou a Bianca camponesa – Ela tem que descobrir seu futuro por si só. Pelo menos, Bia já descobriu do que falávamos “Volte onde tudo começou. Onde todas as soluções se tornaram problemas.”
            -O veneno de James que era a solução para acabar com a minha morte se tornou um problema quando esqueci meu passado. Com o beijo, ele voltou a ser uma solução.
            -Garota esperta – continuou a menina dos anos 1800 – Agora é hora de lhe entregarmos o que foi retirado da parte de sua alma consciente. Sabe, a que não é nenhuma de nós. Ou qualquer outra encarnação que você teve.
            O que se passou a seguir não podia ser mais estranho. As quatro garotas colocaram uma mão sobre meu braço e começaram a contar suas próprias vidas. Não conseguia entender coisa alguma no meio daquele amontoado de palavras, mas comecei a sentir algo em minhas veias. Era como se sangue estivesse escorrendo por elas novamente.
            -Boa sorte, Bianca. E lembre-se: no fim, tudo se resume a James – aquelas foram as últimas palavras de minhas encarnações antes de tudo se tornar escuridão novamente. Era hora de voltar à realidade.
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Sétimo Capítulo
            Respirei. Meus olhos abriram e, de repente, todos estavam sobre mim. Podia escutar as exclamações de alegria vindas de todos os presentes, mas só conseguia compreender as palavras que saíam dos lábios de James. – Eu pensei que você tivesse morrido. Sabe, o nosso outro beijo não acabou como o planejado.
            Sentei-me rapidamente e abracei meu namorado, como não fazia há muito tempo. Como não fazia desde a época em que perdi a minha memória. Porém, felizmente, esse tempo havia acabado e tudo a minha volta ganhava uma nova roupagem.
            Podia lembrar-me claramente do dia em que James me salvou na biblioteca ou de como eu queria esquecer meu primeiro beijo com Nate quando comecei a namorar o vampiro. Todas as lembranças voltavam de forma cada vez mais rápida, mas eu não estava sofrendo com as informações que traziam. Era bom saber novamente o que vivi.
            -Eu me lembro, James. Eu me lembro de tudo! De nosso primeiro beijo e de Sara aparecendo depois para nos atrapalhar! Eu me lembro da história de Joana – olhei para Alissa, percebendo como era estranho ser amiga dela, sabendo de seu passado com meu namorado – Consigo me lembrar de tudo. De tudo!
            -O que, filha? Você está falando sério? – disse Madi, se aproximando de mim e colocando suas mãos em meu rosto. Pela primeira vez, desde a transformação, eu realmente não sentia nenhuma vontade de atacá-la. Ela era a minha mãe e meu amor por ela era até maior do que o por James.
            -Sim, mãe! Eu estou de volta! – era tão bom sentir as palavras que saíam de meus lábios. Finalmente, a parte vampira de minha alma tinha o direito de amar e ser amada. Um ano havia se passado para isso, mas 365 dias não tinham grande importância quando se tem toda a eternidade pela frente.
            Abracei minha mãe e todas as pessoas que faziam parte da minha antiga vida. Lilá e Nate estavam bastante animados com minha volta, mas a filha da ex-vampira não gostara nem um pouco de eu voltar a ser como era antes. – Não espere que eu vá lhe tratar como minha tia, porque você só é uma Ners metida a grande coisa – foram as suas palavras quando lhe abracei. Aquilo me machucou, principalmente pelo fato de que eu morrera para lhe salvar.
            Lilá e Karl saíram da sala gritando com Helena, mas o ambiente não ficara ruim, pois, logo em seguida, vieram os abraços de meus amigos de outras vidas. Alissa e Camile me fizeram tantas piadinhas quanto possível, felizes demais com o fato de que eu também me lembrava das nossas diversões em 1800 e 1500, respectivamente.
            Porém, Jason não teve a mesma reação. Ele me abraçou carinhosamente, mas não conseguiu tirar os olhos de meus lábios, claramente pensando em como o beijo de James novamente tinha mudado minha história. Nunca se tratava do loiro. E isso estava acabando com sua pouca força para viver.
            -Pelo visto, tudo voltou ao que era antes – Jason olhou para mim e para James como se dissesse “vocês estão juntos de novo”. – Na verdade, acho que é a primeira vez que isso acontece. Não se esqueça de que em nenhuma outra encarnação eu encontrei James.
            -Mas nessa você encontrou. E isso já basta para ser horrível. Pelo menos, para mim – o loiro estava com os olhos pretos úmidos pelas lágrimas que queriam cair. Sequei-as rapidamente, não querendo ver de jeito nenhum meu amigo chorar.
            -Não sofra, por favor. Você tentou, durante esses 500 anos, que nós déssemos certo, mas não era pra ser. Simplesmente, não era o nosso Destino – Madi tentou me cortar, mas August a tirou da sala, lançando-me um olhar que claramente dizia “ela só quer seu bem”.
            Jason tentou concordar comigo, mas, no fim, acabou seguindo o casal de adultos para fora da casa. Alissa e Camile pareceram ficar desconfortáveis com o comportamento do vampiro e tentaram disfarçar, dizendo que iam preparar alguma coisa humana para que Helena comesse. Era uma desculpa tão esfarrapada que até James riu.
            -Parece que ninguém reagiu muito bem com a sua volta novamente, Bia – Nate brincou – Mas isso é normal, né srta. Sern? Você sempre “causa” – ele ria cada vez mais, o que só mostrou o quanto era bom ser sua melhor amiga de novo.
            -Pare com essa brincadeira – tentei não rir, mas os dois garotos que me faziam companhia não conseguiam parar de gargalhar. Eles estavam tão felizes com a minha volta que era difícil não aderir à alegria – Vocês só me deixam envergonhada!
            James me abraçou e nós três ficamos rindo à toa por um bom tempo. Aquela cena seria totalmente surreal no ano passado, pois, naquela época, o vampiro e meu melhor amigo lobisomem disputavam meu amor. Felizmente, aquele problema havia sido superado e podíamos conviver em paz.
            -É bom te ter de volta, Bia – disse Nate, sentando no sofá e ligando a TV. A felicidade do falso adolescente (ou talvez verdadeiro: ninguém realmente sabia o passado de Nate, nem mesmo ele) era totalmente oposta a de seu amor, Helena.
            -É bom estar de volta – respondi, mesmo sabendo que pelo olhar de minha sobrinha, meus problemas estavam apenas começando.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Oitavo Capítulo
Jason

            Ter visto Bianca voltar para os braços de James sem nem mesmo hesitar fora mais difícil do que eu imaginara. A primeira pessoa em que ela pensara quando acordara foi o vampiro. O primeiro beijo que Bia dera em sua vida vampírica foi com James. E o único que a teria durante toda a sua eternidade obviamente era aquele infeliz.
            Por que ela tinha que o escolher? Havíamos passado 500 anos juntos. Eu a ensinara a dançar e rira de seu romantismo exagerado, enquanto corríamos pelo seu castelo, em 1500. Aprendera a entender o seu teimosia na vida de 1800, escutando sua revolta com seus patrões e suas tentativas de fugir da vila em que morava. Ajudara-lhe a superar a perda dos pais na década de 50, quando ela se tornara mais frágil do que em todas as outras vidas.
            Sei que ela nunca se apaixonara por mim, no fim das contas. Apesar de não ter conhecido James em nenhuma das dezenas de vidas que tivera no passado, Bianca nunca ocupou seu coração com nenhum outro alguém. Sempre imaginei que aquela falta de amor derivava de seus vários problemas em casa, o que pode ter sido verdade em várias vidas, mas não se aplicava, por exemplo, em 1900, quando seus pais eram sempre bondosos e foram obrigados a vê-la morrer com apenas vinte e poucos anos.
            Toda a falta de interesse que Bianca nutriu por mim durante esses 500 anos obviamente vinha do fato de que sua alma estava predestinada a James. Ele era seu grande amor, o único que a faria sentir borboletas no estômago. O único que o beijo a acordaria da morte (o que realmente aconteceu, já que o veneno contido no beijo de despedida deles foi o responsável por torná-la vampira ao invés de simplesmente morrer). O único que ela amaria até o fim de seus dias.
            É claro que a versão vampira e sem memória de Bianca havia sentido uma paixão por mim. Ela sequer se lembrava da própria mãe! A única coisa que Bia tinha em sua mente é que eu havia lhe tirado do caixão e a impedido de passar uma eternidade sofrendo em sua lápide. Para seus olhos sem nenhuma história vivida, eu era um príncipe encantado.
            Porém, nem mesmo esquecendo seu passado como humana, minha amada foi capaz de ignorar a presença de James. Desde a época em que morávamos no cemitério, ela se sentia extremamente atraída por ele. Os dois eram como ímãs. Ninguém conseguia afastá-los. Eles podiam estar em silêncio, mas sempre estavam juntos.
            Era horrível ter que admitir que, no fim das contas, os dois formavam um belo casal. Eles podiam não ter a aparência mais parecida do mundo, mas pareciam ter a mesma alma. A forma como reagiam às situações, o modo como protegiam as pessoas que amavam: tudo era exatamente igual. Até mesmo o jeito tímido de se comportar era muito parecido.
            O que eu só não entendia era por que o Destino havia me metido naquela história de amor. Se Bianca e James estiveram sempre destinados um ao outro, por que quiseram me colocar como um garoto que a amava? Não podiam simplesmente ter me dado outra menina para amar? Eu sei que estaria muito mais feliz se estivesse longe do “Casal Perfeito”.
            -Mas você pode estar longe deles, Jason – disse uma voz em minha mente. Definitivamente, eu não estava tendo uma experiência paranormal, o que só podia significar que alguma vampira estava se metendo em meus pensamentos sem ser chamada.
            -Saia de minha mente! – gritei em pensamento, fazendo com que a atrevida risse e rapidamente surgisse em minha frente. Ela tinha longos cabelos castanhos e parecia ter vinte anos fisicamente, porém, seu jeito de agir mostrava que ela podia até ser mãe de alguém.
            -Sua mãe não lhe ensinou a ser cavalheiro com as mulheres? – a vampira colocou as pontas de seus dedos em meu rosto e deu uma gargalhada. Rapidamente, a joguei contra a parede, tentando me afastar o máximo possível daquela mulher. Apesar de parecer mais velha externamente, logo percebi que sua existência era muito mais curta que a minha.
            -O que você está fazendo aqui? – Ao invés de me responder, a jovem se levantou, arrumou sua roupa e me lançou um olhar debochado. – Já que você não perguntou, meu nome é Jenna Sommers. E...
            -E? – perguntei, enquanto tentava relacionar aquele nome a algum inimigo que tive no passado. Não haviam sido poucos: salvar a vida de Bianca sempre me rendava grandes problemas.
            -E eu vim te salvar dessa existência infernal. Você só precisava fazer uma pequena coisinha por mim – Jenna mexeu suas mãos como se projetasse o tamanho minúsculo de seu pedido em troca.
            -O quê? – não resisti a perguntar. Se a resposta fosse horrível, eu simplesmente a mataria.
–Me entregue meu filho. Me entregue Nate.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Nono Capítulo
Helena




            Nate não podia estar apaixonado por Bianca novamente. Ele dissera que ficaríamos juntos. Dissera que nossa história de amor não seria atrapalhada por nada nem ninguém. Dissera que todos os sentimentos nutridos por minha tia haviam acabado quando nasci.
            Porém, ele estava abraçando-a e rindo com ela como se o mundo não existisse. Sei que James também estava na sala, mas o que os impedia de voltarem ao passado quando ambos amavam Bianca? Quando tinham chances com ela? Quando eram os lábios dela que os faziam suspirar?
            Enfurnei-me na floresta, tentando afastar toda a dor do meu coração. Meu amor não podia amar minha tia! Ela não o havia escolhido quando era humana. Bianca sempre preferira James em todas as ocasiões e Nate fora claramente dispensado no dia em que quase morri. Por que, então, ele estava voltando para seus braços novamente?
            Escutei os passos de Jason há alguns metros de mim, mas o vampiro estava afundado em suas próprias mágoas. Bianca escolhera James no momento em que acordara de sua quase segunda morte. Ela nem mesmo olhara para o loiro. Sempre se tratara de meu tio e isso nunca iria mudar.
            Sentei-me na pedra onde certo dia Nate me dissera que nossos sentimentos não eram corretos, que ele era meu tio e que as coisas não podiam continuar. Lembro-me de ter tentado beijá-lo, mas o lobisomem se afastou rapidamente. Aquilo era um paralelo infeliz ao encontro de James e Bianca ocorrido no dia anterior. Os dois pareciam bem animados até o momento que a vampira desmaiou.
            Por que Bianca sempre tem um final feliz? Sei que ela morreu por mim e por minha mãe e que nunca vai poder envelhecer, mas quem quer envelhecer quando se pode ter catorze anos para sempre? Bia podia até dirigir: era só fingir que tinha dezoito anos, o que não seria muito difícil. Definitivamente, seu modo de falar e de se vestir lhe dava uma idade maior do que tinha.
             Eu queria tanto ser a minha tia. Ela era bonita e divertida, corajosa e amada. Ninguém nunca a comparava com outra pessoa. Bianca era tratada como perfeita por todos que a conheciam. A única pessoa que encontrava defeitos nela era ela mesma. Nem mesmo eu conseguia achar algo que a fizesse perder aquele charme angelical.
            Ou pelo menos, ela podia nunca ter existido. Se Bianca nunca tivesse nascido, não haveria a Maldição das Ners. Na verdade, nem haveria no mundo alguma Ners. James, Jason, Camile, Alissa, Madi, Nate, Karl, Lilá e até mesmo eu seríamos livres da tortura de ter que suportar as mesmas dores em todas as nossas vidas. Nunca tínhamos descanso. E tudo por causa dela.
            Se minha tia não tivesse nascido, eu teria uma vida normal. Poderia ser uma adolescente como qualquer outra: envelheceria, namoraria, riria de bobagens como a foto do galã sem camisa e passaria meus dias sofrendo por uma paixão sem nenhuma profundidade.
            Aos meus 18 anos, eu iria tentar comprar meu primeiro carro e acabaria fracassando. Voltaria para casa de meus pais, que seriam muito mais velhos do que eu, e reclamaria de como é uma droga não ser independente. Estudaria em uma faculdade e procuraria um estágio. Acabaria me envolvendo com algum colega de turma, causando o fim de um namoro do colegial. Formar-me-ia, sairia de casa e passaria a seguir minha própria história.
            Talvez encontrasse um grande amor ou simplesmente teria um marido enquanto nossa paixão ainda existisse. Teria alguns filhos e adoraria cuidar deles, apesar do trabalho imenso que dariam. Minha casa seria repleta de fotos de minha família e eu iria chorar toda vez que me lembrasse daquela minha melhor amiga que perdi quando adolescente ou de como meu primeiro amor não deu certo.
            Meu marido seria parecido comigo e sempre faria com que eu me sentisse bem. Iria amar meu jeito de ser e nunca esqueceria meu aniversário ou nosso aniversário de casamento. Seríamos como unha e carne.
            -Porém, essa vida nunca vai existir, Helena – Robert surgiu das sombras. Ele parecia ainda mais velho do que antes. Aparentemente, a querida dona d’a Casa da Noite, Jenna, havia lhe dado algumas mordidas e sugado mais um pouco de sua vida.
            -Eu sei, Robert – Mas você pode ter uma vida melhor, pequena Ners. Você pode ter Nate aos seus pés. Só basta fazer o que combinamos.
            Sabia que era errado seguir pessoas tão ruins como Robert e Jenna, mas não tinha como resistir. Além do mais, aquela não era uma grande traição. Eu só estava lutando por meus sonhos. Finalmente, mostraria ao mundo que Helena Dennis era muito melhor do que qualquer outra pessoa. Inclusive, Bianca Sern.
Escrito por StarGirlie.
(Como a novela passou um mês sem novos capítulos, é bom retomar o que estava acontecendo: Jason estava sofrendo porque o romance entre Bianca e James fora reatado, já que a vampira recuperou a memória. Já Helena estava sofrendo porque acreditava que Nate voltaria a amar Bia agora que ela voltara a ser quem era antes. Tanto o vampiro quanto a Ners se uniram a Jenna e Robert em um plano perigoso)


Quinquagésimo Capítulo
Helena



        Voltei para casa acompanhada de Jason. Havíamos aceitado o pacto com Jenna e Robert, então era hora de começar o nosso plano. O vampiro se dirigiu para onde Alissa estava, com o intuito de convencê-la a se virar contra Bianca, já que a garota, no fim das contas, havia conquistado James.
            Minha missão, entretanto, não era incitar discórdia, pois isso era exatamente o que esperavam de mim. Eu deveria me tornar a grande amiga de Bianca, rejeitando até mesmo a atenção de Nate para que ambos pensassem que eu estava apenas chateada e não cheia de vontade de vingança.
            Porém, aquilo se tornou imediatamente difícil com a aparição de Bianca e Nate rindo. Os dois estavam saindo da cozinha quando eu os alcancei. Claramente, eles ainda possuíam a grande química que tinham quando ela era humana. Aquilo definitivamente tinha que acabar.
            -Helena? – Bianca parou de rir imediatamente. Seu rosto se transformou em uma máscara de bondade. Por que ela tinha que fazer isso? Era horrível ter que maltratar alguém com aquela carinha. Minha tia parecia um anjo, até mesmo com aqueles olhos roxos, enquanto eu parecia um demônio.
            -Oi – respondi, decidindo não parar para conversar com nenhum dos dois. Poderia me descontrolar, acabando com meu plano. Entretanto, Nate não parecia querer me deixar em paz.
            -Lena, o que você está fazendo? – ele me puxou pelo braço, provocando aquela sensação arrepiante que percorria meu corpo em segundos – Por que você está tão brava comigo?
            -Porque você a ama – respondi, sinceramente, sem nem pensar que deveria estar com uma atitude mais séria e menos chorosa. Eu não estava agindo como planejara.
            -Bianca? – Nate apontou para a vampira que se aproximava do bosque, sem nem olhar para trás. Ele riu – Eu não a amo mais, Helena. Você sabe que meu relacionamento com Bia acabou logo que te conheci. Há algo em você que me faz esquecer qualquer outra coisa – o lobisomem aproximou sua boca de meu pescoço, seu peito tocando o meu – Algo que me leva à loucura – suas mãos percorreram lentamente minha coluna – Algo que me faz pensar em uma só coisa nesse momento.
            Então, algo inesperado aconteceu. Ele me colocou sobre a mesa da cozinha em velocidade sobrehumana e começou a me beijar. Mas de uma forma que nunca havíamos experimentado. Nossas bocas se moviam rapidamente e apaixonadamente. Minhas pernas entrelaçavam seu corpo cada vez mais. Eu não conseguia mais pensar. O plano havia acabado totalmente.
            Minha respiração estava falha, quando Nate me colocou de costas sobre a pia e se posicionou sobre mim. Minhas mãos começaram a puxar sua camiseta. Eu arfava cada vez mais. – Posso saber o que significa isso? – escutei a voz de Camile e me joguei para longe de Nate.
            -Vocês realmente pensavam em fazer na mesa da cozinha? – ela parecia horrorizada – Espero que vocês estejam preparados para a bronca de Karl.
            Quando Camile se preparava para ir contar a Karl sobre meus beijos com Nate, paralisei-a com meus poderes de Ners e me aproximei perigosamente da vampira. – Você não vai contar nada, porque se fizer isso... Você morre.
            Algo na minha voz fez com que até mesmo Nate desistisse de me impedir. Ele entendia o perigo ao mesmo tempo que esquecia o amor. Era bom mesmo que eu tivesse aproveitado seus beijos, porque claramente eles acabaram de vez. Nate havia feito sua escolha: ele não me queria como eu realmente era.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Primeiro Capítulo


        Deixei Nate e Helena se agarrando na cozinha e decidi ir até a casa do lobisomem no meio da floresta. Nós havíamos combinado de procurar algumas fotos de sua mãe e seu pai adotivos para que eu talvez me lembrasse de algo sobre eles em outra vida. A partir do momento que minha mente adquiriu lembranças de quatro encarnações, as chances de encontrar uma resposta para todos os nossos problemas aumentaram. E muito.
            Quando estava me aproximando da cabana, escutei passos se aproximando de mim. Virei-me e acabei me deparando com uma mulher que eu não conhecia. Seus cabelos eram castanhos e longos, seus olhos roxos quase beirando o azul, como se ela tivesse bebido sangue demais nas últimas horas. Ela não parecia uma boa vampira como James e Jason. Ela era perversa.
            -Finalmente, nos encontramos, Bianca – sua voz era afiada como uma faca. Imediatamente tive a sensação de que suas intenções comigo não era nada boas – Já escutei tanto de você. E não é dessa vida não, querida. Lembro-me muito bem de meu filho morrendo de amores pela filha de um burguês qualquer. Também me recordo da pequena Joana reclamar que sua melhor amiga atraía muito mais olhares do que ela mesma.
            -Ai meu Deus. Você é a reencarnação da mãe de Alissa e Nate. Você não pode ser ela mesma, porque ela envelheceu e morreu como qualquer outro humano. Já você, não posso dizer o mesmo – se aquela era a mulher que possuía a alma da mãe de meus amigos, talvez fosse melhor nem descobrir a verdade dos fatos. Estávamos nos aproximando de um perigo que não iríamos poder controlar.
            -Bem, Bianca, vou te contar a verdade. Você não vai sair daqui mesmo, então qual é o problema de eu lhe revelar tudo que aconteceu de verdade na vida de Nate? – a vampira morena caminhou ao meu redor – Para começar, meu nome é Jenna Sommers. E eu sou a verdadeira mãe daquele lobinho mal-criado. Não apenas a reencarnação, mas sim a biológica. O meu sangue corre em suas veias. Como o de Robert também.
            “Ele é realmente um adolescente, mas suas lembranças se confundem graças ao meu poder e de Robert de lembrar nossas vidas anteriores. Isso acabou passando para o pequeno Nate como também os genes de lobisomem de seu avô por parte de pai. Ele se tornou uma criança poderosa logo que nasceu, mas Robert não era capaz de cuidar dele, não enquanto me ensinava a ser uma vampira.
            “Sim, eu fui transformada logo no parto de meu filho. Robert conhecia uma vampira chamada Amélia que se ofereceu em dar seu veneno a mim caso eu não sobrevivesse no dia esperado. E eu não sobrevivi. Meu grande amor teve que abdicar de minha alma e, em algumas horas, me tornei a vampira que sou hoje.
            “Porém, numa vida sem regras, em que sangue era meu único desejo, uma criança não podia ser criada. Então, deixamos aos cuidados de Amélia escolher alguém que pudesse cuidar de Nate. Ela escolheu nossos amigos lobisomens, os Dennis. A mulher havia acabado de engravidar e eles adorariam afastar outro menino de sua espécie da maldade dos vampiros.
            -É óbvio que eu continuei cuidando dele a distância, mas nunca me aproximei o suficiente para ele sentir meu cheiro de vampira. Robert passou a se relacionar com nossos amigos Dennis apenas por cartas, porque ambos não queriam receber uma vampira e o marido dessa em sua casa. Porém, não podíamos reclamar de suas ações. Eles estavam cuidando de nosso filho.
            -Tá, até aí eu entendi. Você queria que Nate tivesse uma vida melhor – não era hora de ficar inundada em meus pensamentos. Era hora de tirar tudo a limpo – mas, então, por que veio até aqui? Você não devia se manter distante dele? Você e Robert?
            -Bem, isso era meu combinado com os Dennis até a maioridade de Nate, mas tecnicamente ele completou 18 anos antes de você morrer e seu envelhecimento ser congelado. Então, o pacto está quebrado. E eu quero meu filho de volta. Não importa o que tenha que fazer para isso – seus olhos ficaram pretos, o que só mostrava o quanto estava ficando nervosa. Aquele definitivamente era um assunto delicado.
            -Mas Nate não vai ficar com você! Ele nem ao mesmo te conhece! – gritei, mas fui interrompida por Jenna, que se apressou em tampar minha boca – Esse é o problema. Ele me conhece. Sou a dona d’A Casa da Noite, sabe? O lugar onde Helena vem sido torturada nos últimos quatro meses. Como ele vai querer uma mãe que quase matou o grande amor de sua vida?
            -E o que eu tenho a ver com tudo isso? – estava cheia de estar envolvida naquela história. Já havia descoberto o passado de Nate como era minha missão antes de Jenna me encurralar, então minha parte estava feita. Só tinha que contar tudo aos meus parentes antes de poder me afastar dessa história de vez e me focar no meu grande problema.
            -Você é culpada por Nate e Karl serem lobisomens – olhei para ela sem entender nada – Você se lembra de sua vida nos anos 50? Então, é só prestar um pouco de atenção no que você fez nela...
            As lembranças me atingiram como balas perdidas. Vi minha versão humana com cabelo curto e seu relacionamento com um jovem da sociedade. Observei o rompimento do namoro e a forma como fiquei enlouquecida. Queria vingança. Não iria deixar aquele homem ser feliz com sua noiva. Iria destruir sua vida.
            -Eu transformei o avô de Nate e Karl em lobisomem com meus poderes de Ners?! – eu não apenas acabara de descobrir que, no fim das contas, Nate e Karl eram parentes, mas também que nem sempre minhas encarnações eram boas pessoas.
            -E agora você vai destranformar meu filho – O QUÊ? – não fui capaz de dizer nada mais do que isso, pois, em seguida, Jenna me deu uma pedrada na cabeça e eu desmaiei.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Segundo Capítulo



        Quando abri meus olhos estava em uma caverna iluminada por algumas tochas. Tudo parecia sujo naquele lugar como se uma inundação tivesse ocorrido ali e a única coisa que sobrara era limo. Além disso, havia sangue por todo lado. E isso eu podia sentir com toda clareza.
            -Ah, nossa vampirinha acordou – Jenna surgiu em minha frente e, finalmente, pude perceber que meus braços estavam presos. Como também minhas pernas. E meu pescoço. – Nem pense em tentar fugir, garota. Você só vai ser libertada quando destransformar Nate.
            -Mas eu nem sou mais uma Ners! Eu fui transformada em vampira e meus poderes acabaram! – gritei, produzindo um eco enorme na caverna. Aquela mulher estava louca por acaso? Ela realmente achava que eu seria capaz de transformar alguém em humano? Eu nem conseguia me tornar humana, imagina outra pessoa!
            -Você está errada, Bianca – disse uma voz sufocada ao meu lado. Foi então que percebi que Helena também estava amarrada na parede. Porém, o estado dela era muito mais grave: sangue escorria de seu pescoço e seu rosto estava um pouco prejudicado com os machucados – Uma Ners nunca deixa de ser uma Ners. Não importa quantas vezes você nasça ou quantas vezes você morra.
            Jenna esperou a minha reação pacientemente. – Então, é por isso que não importa quantas vezes eu reencarne, meus poderes continuam os mesmos? – Helena concordou baixinho – Achei que isso tinha a ver com a Maldição e não com o fato de eu ser uma Ners.
            -Bem, a Maldição é só para uma Ners, para começar, não é mesmo? – indagou Robert surgindo no local com um copo de sangue na mão. O nojo estava estampado em seu rosto, mas, mesmo assim, ele entregou o líquido a sua mulher, que o engoliu imediatamente – Então, não é nenhuma surpresa as características de ambas as coisas estarem interligadas. A Maldição faz com que uma Ners sempre renasça até completar a sua missão. E uma Ners sempre possui seus poderes. Portanto, uma Ners nunca pode descansar porque sempre haverá uma nova missão e ela sempre terá que cumprir.
            -Ai. Meu. Deus. Como minha mãe pode criar uma espécie dessas? – eles não podiam estar falando sério. Madi não seria capaz de algo assim. Nem mesmo em outra encarnação.
            -É aí que você se confunde, Bianca – relembrou Robert – Nem todas as encarnações são boas como a atual. Veja o exemplo daquela sua versão dos anos 1950. Ela se vingou de seu ex-namorado como se ele fosse apenas um brinquedo irritante. É o mesmo que aconteceu com Madeleine. Ela era mimada e queria te proteger de qualquer forma, então, arriscou sua alma sem nem pensar no futuro.
            -Mas o feitiço virou contra a feiticeira – continuou Jenna, sumindo por um instante antes de voltar à sala com um homem amarrado. Não conseguia ver seu rosto naquela escuridão – E Madi se tornou uma Ners também. E a partir daí começou a epidemia.
            -Espere um pouco, como assim uma “epidemia”? – perguntei enquanto tentava reconhecer quem era o prisioneiro de Jenna. Ele parecia tentar lutar contra seus braços, mas a vampira estava usando algo que o machucava. – Cada vez que uma Ners transforma uma mulher sobrenatural em humana algo de estranho ocorre...
            -E essa mulher vira uma Ners também – completei com o queixo caído – Então, Lilá virou uma Ners e, durante a gestação, Helena se tornou uma Ners e a Criança Prometida. Tudo aconteceu por que eu transformei uma vampira em humana. Meu Deus, o que eu fiz?
            -Bem isso não importa agora – Jenna ignorou todo o nosso papo sentimental e indicou para que Robert se aproximasse de mim. Senti o nojo escorrendo em minhas veias enquanto ele tocava meu braço. Queria gritar, mas rapidamente o homem apertou meu pescoço – A única coisa que você deve fazer é transformar ele em humano novamente.
            E então, Jenna jogou Nate no meio da caverna, onde a luz era um pouco melhor. Ele estava todo machucado e parecia fraco, algo que nunca fora. Seus olhos pareciam suplicar para que eu não fizesse nada, como se ele soubesse algo que eu não sabia. – Por favor...
            -Cale a boca, Nate! – gritou Helena – Ela só vai te machucar ainda mais se você não desistir dessa ideia de continuar lobisomem. Pense pelo lado bom, você nunca mais vai sofrer quando machucar alguém durante sua transformação. Você vai poder envelhecer sem se aproximar desses problemas sobrenaturais. Você vai poder viver comigo...
            -Só uma coisa! – tentei falar com a minha voz fraca – Por que Helena não transforma Nate em lobisomem?
            -Porque ela não pode – escutei uma voz vinda do fim da caverna. Os passos se aproximavam – Nate está preso a você. Ele jurou que só iria envelhecer quando você o rejeitasse. Porém, como você o rejeitou antes de virar vampira, a única forma de ele deixar de ser lobisomem tem haver com a quebra do juramento. A partir do momento que você o obrigar a ser humano novamente, ele volta a envelhecer novamente e perde os poderes sobrenaturais.
            -E vai ficar eternamente grato à sua mãe, não é mesmo? – disse Jenna enquanto tentava abraçar Nate, mas o garoto simplesmente mordeu sua mão produzindo um ferimento bem grave. Mesmo não estando em sua forma sobrenatural, meu melhor amigo era bastante forte.
            Porém, nada disso conseguia concentrar minha atenção. Não naquele momento quando eu via quem saía das sombras. Quem estava colaborando com Jenna e Robert. Aquilo não podia estar acontecido. Ele não podia estar fazendo isso.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Terceiro Capítulo



        Jason estava diante de mim com os olhos vermelhos. Ele estava bêbado. Mas não era esse o problema. O problema é que o meu amor como vampira estava torturando minha sobrinha, meu melhor amigo e eu mesma. O primo de Camile estava diante de mim como um monstro prestes a dar o bote. Algo que realmente podia ser a verdade.
            -Como você pode, Jason? – minha voz era fraca e eu quase não tinha forças para resistir à agressividade de Robert. Era difícil seguir em frente quando o garoto que te ajudou durante 500 anos estava virando as costas para você.
            -Você me magoa desde 1500 e você ainda me pergunta por que estou contra você? – ele estava furioso comigo e eu não conseguia entender o porquê. Desde que eu era uma vampira sem memória, todos sabiam que minha alma gêmea era James. Por que Jason estava chateado de não ser escolhido?
            -Mas eu nunca tive a intenção de te magoar! – gritei, movendo meu pescoço de tal forma que quebrei a mão de Robert. Escutei o homem berrar de dor e cair no chão, sendo socorrido imediatamente por Jenna.
            -Sua idiota insolente! Transforme logo o meu filho em humano antes que eu te mate da pior forma possível – sua voz era tão fria e tão cheia de ódio. Era como se ela realmente acreditasse que a única pessoa que impedia que seu filho a acompanhasse fosse eu. Mas a verdade é que Nate nunca se renderia às vontades de uma vampira como aquela. Ele era melhor do que isso. Muito melhor.
            -Você deixará ela me matar? – indaguei Jason com uma voz carregada de acusações. Como aquele homem tinha me enganado durante tanto tempo? Ele não podia ser realmente tão ruim quanto parecia naquele momento. Devia haver algo errado – Você deixará que ela apague acabe com a minha alma? Deixará?
            -Bianca... – Jason se aproximou de mim se afastando de Nate. O lobisomem parecia estar recuperando as suas forças, o que logo chamou a atenção de Jenna, mas ela não podia deixar seu marido sangrando para prender seu filho. A vampira precisava salvá-lo. “Jason! Não faça isso!” gritavam a mulher e a minha sobrinha.
            O vampiro loiro se aproximou de mim e tocou meu rosto. Apesar de toda a situação horrorosa, eu não consegui sentir nojo de Jason. Ele sempre tivera uma participação tão importante em minhas vidas. Sempre fora mais do que meu melhor amigo, mas menos do que meu grande amor. Talvez minha mãe estivesse certa e ele fosse o homem predestinado a mim.
            -Se você dizer que me escolhe, eu desisto de tudo e salvo você, Nate e Helena – seus olhos vermelhos me davam arrepios – São só três palavras.
            Abri minha boca com o intuito de falar o que Jason tanto queria só para nos salvar, mas então a imagem de James surgiu na minha mente. Ele, com aqueles cabelos bronzes, me abraçando e tentando me reconquistar enquanto eu ainda não me lembrava de nada. Ele me beijando e me libertando da escuridão de uma vida sem passado. E ele sofrendo. Sofrendo todos os dias naquele cemitério mesmo quando meu corpo já não estava mais ali. Sofrendo por que ele precisava de mim, não importava se eu estava morta ou viva. Eu era sua alma, sua única esperança. E eu não podia traí-lo.
            -Não, Jason. Eu não vou dizer essas três palavras, porque não escolho você. Você pode ter sido um amigo incrível todos esses anos, mas não é meu grande amor. Eu sempre esperei James e sempre vou esperar, não importa que esta noite vocês enfiem uma estaca em meu coração ou qualquer outra coisa que me faça morrer. Quando eu renascer, tudo vai começar de novo. Irei à busca de James e irei encontrá-lo. Posso morrer quantas vezes for necessário, mas nunca vou desistir de meu amor por ele. NUNCA! – e minha voz ecoou na caverna com tanta força quanto a luz que saiu de mim.
            Jason e Jenna gritaram de dor, porque aquela luminosidade estava ferindo suas peles. Eles queriam que aquela luz se apagasse, mas ninguém sabia o que fazer. Ela estava irradiando de minha pele e iluminando todo o recinto. Era como se minha alma estivesse se projetando de meu corpo. – Bianca, o que você está fazendo? – Helena perguntou espantada. Nate, a essa hora, já estava levantado, tentando desamarrar minha sobrinha.
            -Eu não sei – sussurrei, com medo de usar minha força na hora de falar e acabar apagando aquela luz. Entendi o porquê de o lobisomem ter ido salvar Helena ao invés de mim. As minhas amarras tinham desaparecido. Era como se aquela luz estivesse destruindo tudo que fosse ruim. Até mesmo Robert parecia sentir dor com aquele contato.
            -Bianca descobriu sua missão – anunciou uma voz na entrada da caverna. Meu coração parou e eu senti as borboletas povoarem meu estômago novamente. Não sentia aquela sensação há muito tempo, o que a tornou apenas mais inesquecível.
            -James! – gritei e corri para seus braços. Meus pés estavam num ritmo cada vez mais rápido, mas parecia que eu nunca era capaz de chegar até meu amor. Podia enxergar Jason se recuperando da dor causada pela luminosidade, enquanto Jenna permanecia quase morta no colo de Robert que chorava sobre seu corpo. “Não morra, amor. Não, por favor” eram suas palavras para a vampira. Eu entendia a raiva do loiro. Até mesmo aquela vampira monstruosa havia conseguido o amor, enquanto ele não.
            Porém, quando estava a dez centímetros de James, meu corpo estremeceu. Minhas pernas bambearam e eu me senti extremamente tonta. Antes que o vampiro pudesse me alcançar, meus olhos já não eram capazes de enxergar nada. E quando seus braços me envolveram, a última coisa que apareceu em minha mente foi “Você encontrou a resposta. Você encontrou o descanso”.
            Só que havia um problema. Eu não queria descansar se isso não envolvesse James.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Quarto Capítulo



        Eu estava em uma escuridão sem precedentes. Para todo o lado que eu olhava não havia uma única coisa que pudesse me dar uma pista do que estava acontecendo. Talvez eu finalmente tivesse morrido e aquele fosse ser meu Destino eterno. Se James estava certo e eu descobri a minha missão, aquilo parecia uma recompensa bem ruim por ter acabado com o maldito ciclo de reencarnações.
            -É aqui que você se engana, Bianca – disse uma mulher surgindo na minha frente. Demorei muito para reconhecê-la mesmo sendo óbvio quem era. A rainha Madeleine estava em minha frente e parecia muito feliz – Você acabou com a Maldição não só para a sua alma, mas para todas as Ners do mundo. Não sei como você foi capaz de tal feito, porém conseguiu. Então, obviamente, não iríamos te trancar em uma cela escura pelo resto da sua eternidade! Isso aqui é só uma passagem.
            -Passagem? Como assim passagem? Eu vou para o Paraíso? – tentei procurar alguma porta ou algo parecido de qual saísse luz. Tudo parecia tão opaco e sem graça, com exceção de Madeleine obviamente que aparentemente tinha virado uma vela ambulante.
            -Não, querida – minha mãe de outra vida se aproximou de mim e tocou meu cabelo castanho. Provavelmente aquela parte da alma de Madi se arrependia de ter criado toda a Maldição e até mesmo as Ners – Você vai voltar à vida. Você finalmente conseguiu terminar sua transformação.
            -Transformação em vampira? Mas eu já não era uma vampira? – Madeleine deu uma risadinha antes de me explicar. – Transformação em humana, Bianca. Ou quase isso, já que você sempre será uma Ners.
            -Espere um pouco! Mas eu não posso virar humana! Nenhuma Ners estava tentando fazer isso, só se... Minha mãe ou Lilá estavam agindo pelas minhas costas? – me pareceu um pouco errado elas tentarem mudar minha condição sem meu consentimento, mas eu havia feito isso com a Juges mais nova, então não me surpreenderia se ela revidasse da mesma maneira.
            A rainha simplesmente me lançou um olhar que parecia dizer “você não percebe o que está na sua frente?” e continuou – Bianca, você se lembra de sentir como se seu coração estivesse batendo de novo? Lembra-se daqueles desmaios, que nem sempre eram causados por suas lembranças? E você se lembra de como, às vezes, seus olhos não pareciam tão pretos no espelho? Que eles pareciam muitas vezes castanhos?
            Era estranho que aquilo tudo fosse verdade, mas era. – Então, não é muito difícil adivinhar o porquê de tudo isso, certo? Bianca, você mesma estava acabando com o seu vampirismo e nem foi capaz de perceber isso! Durante todo esse tempo, sua alma humana estava lutando contra o veneno de James, mas ela nunca conseguia ganhar a guerra, pois você não podia encontrar seu final feliz até completar a sua Missão. E você conseguiu.
            -Mas que maldita Missão é essa de qual você e James estão falando? – gritei, sem conseguir controlar a minha raiva de ser a última a saber sobre algo que eu deveria ser a primeira!
            -Filha – achei estranho que a rainha me chamasse assim, mas, na verdade, ela era Madi e eu ainda era a princesa. Só nossas escolhas mudaram com o tempo – Sua missão era muito simples: você devia escolher James.
            -Como assim “escolher James”? – perguntei sem conseguir entender muito bem do que ela estava falando. Não era possível que eu tivesse reencarnado tantas vezes simplesmente para acabar com um triângulo amoroso!
            -É isso mesmo que você entendeu. Tudo que aconteceu com todos nós foi causado pelo fato de que você nunca escolheu o James realmente. Nas últimas dezenas de encarnações, vocês dois sempre eram impedidos de se encontrarem, seja por mim ou por Joana. Já na sua vida humana, você nunca rejeitou realmente Nate. Você simplesmente beijou James quando deveria beijar Nate e tudo ficou muito implícito. Porém, há algumas horas você disse a Jason que escolhia James. Então, está tudo resolvido.
            Enquanto Madeleine pronunciava essas palavras, percebi que a escuridão ia diminuindo. Ao invés de estarmos nas Trevas parecia que estávamos no Paraíso. Porém, segundo minha mãe em outra vida, aquilo significava que eu estava voltando para minha vida humana. – Então, quer dizer que tudo irá voltar ao normal? Vou poder ir à escola e me formar, talvez um dia ter filhos e transformar o James em humano também?
            -Bem, isso será você quem vai decidir. Entretanto, devo lhe avisar de que há ainda um sério problema em sua vida. Você talvez não descubra imediatamente isso quando acordar, mas não vai demorar para que essa desgraça se espalhe. Só posso te dizer uma coisa antes que eu desapareça para sempre: alguém irá matar, alguém irá trair e alguém irá morrer.
            Foi então que abri meus olhos. O olhar roxo de James me observava ansiosamente. Suas mãos estavam ao redor de meu rosto. – Bianca! Seus olhos estão castanhos! Sua bochecha está rosada! O que aconteceu? Você virou humana novamente?
            Antes mesmo de responder, resolvi fazer algo que minha versão vampira não pode: abracei James e senti o frio de sua pele. Ao mesmo tempo em que meus braços se arrepiavam com a mudança de temperatura, minha mente se afundou em sensações antigas que a outra Bianca não era capaz de aproveitar. Minhas bochechas ficando vermelha, minha respiração fraca, as batidas rápidas de meu coração com a proximidade de meu grande amor.
            -Sim. Eu virei humana, James – minha voz estava baixa como se eu não soubesse mais como agir humanamente.
            -Por que você não está feliz? – o vampiro tocou meu queixo, levantando e me obrigando a olhar em seus olhos. Era difícil respirar quando o via daquela maneira, tão concentrado em mim. – Porque você não vai me amar mais agora que sou fraca e sem graça novamente.
            James ficou tão chocado por um minuto, que eu achei que talvez ele tivesse virado pedra. – Fraca? Sem graça? Desde quando a sua versão humana é qualquer uma dessas coisas? – ele segurou minhas mãos, me obrigando a prestar em suas palavras – Bianca, para começo de conversa, você é forte e extremamente interessante, linda, inteligente e divertida. E eu percebi tudo isso enquanto você ainda era aquela humana de 14 anos que entrou na minha escola. Confesso que foi difícil redescobrir sua personalidade quando você era vampira, porque eu não era capaz de controlar meu ciúme ao te ver com Jason. Vocês pareciam tão felizes juntos! Porém, quando você recuperou sua memória e voltou a se lembrar de mim, não havia nada do mundo que seria forte o bastante para me manter longe de você! Eu te amo não importa o que você seja! Eu amo seu sorriso, sua voz, seus olhos, sua beleza e, principalmente, quem você é. Eu amo que você seja essa garota doce e, ao mesmo tempo, tão corajosa, essa adolescente tão teimosa, às vezes, mas que está sempre disposta a proteger quem ama. Eu amo você, Bianca.
            E, com aquelas palavras, minha mente simplesmente apagou a presença de todos ao meu redor. No momento seguinte, eu só conseguia pensar em uma única coisa. – Eu também amo você, James.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Quinto Capítulo




        Era estranho que tudo estivesse voltando ao normal. Camile e Jason estavam planejando ir embora na próxima semana para que o vampiro pudesse se recuperar do fato de que eu o havia rejeitado. Nate e Helena passavam seus dias tentando reconstruir sua relação, mas o lobisomem não parecia confiar mais na Ners. Além do mais, eles eram primos e Karl ainda não havia aceitado o namoro dos dois muito bem. August e Madi finalmente haviam alcançado sua felicidade, já que os problemas de seus filhos tinham sido resolvidos. Alissa ainda tentava se acostumar com a presença de tantas pessoas à sua volta, mas, pelo menos, decidira ficar em minha casa por mais tempo. E Lilá simplesmente estava usufruindo de minha companhia, já que agora eu havia voltado totalmente a ser o que era antes.
            Bem, havia uma única relação que realmente havia mudado depois de minha retransformação em humana: a minha com James. Nas últimas três semanas desde a morte de Jenna e toda a história do sequestro, eu e meu namorado não conseguíamos nos manter afastados. Havíamos passado um ano inteiro sem poder aproveitar nossos abraços, nossos beijos e nossas conversas. Definitivamente, tínhamos que recuperar o tempo perdido.
            -Bia? – chamou-me James quando eu estava fechando a minha mala depois que a aula de História terminou. Era estranho estar de volta à escola, mas, após uma ajudinha dos poderes avançados de Helena, conseguimos hipnotizar os alunos e professores e eu pude retornar à vida que tinha antes de toda aquela confusão com Amélia e Anderson no ano anterior.
            -Aconteceu alguma coisa? – segurei sua mão enquanto saíamos da sala encontrando o corredor vazio. Eu ainda não havia me acostumado com a condição de humana, o que estava fazendo com que eu me movesse bem lentamente ultimamente. Além disso, era estranho estudar com meu namorado e pular um ano. É claro que a escola não pode fazer nada sobre isso, pois, segundo a história contada, meus sequestradores haviam me ensinado toda a matéria e eu estava pronta para continuar junto com meus amigos. Quem me dera fosse assim.
            -Na verdade nada. Ainda – olhei curiosa para James e percebei que seus olhos pretos estavam mais maliciosos do que eu esperava – Eu estava pensando se você está livre esta noite...
            Não pude pensar em como responder àquela ideia era tentador, porém, sabia que Madi não levaria as coisas com tanta boa vontade quanto minha mente. Não quando eu havia voltado a ser humana e tudo mais. – James, você sabe que minha mãe nunca me deixaria passar a noite com você.
            Estávamos chegando à entrada da escola quando meu namorado se colocou diante de mim, pegando minhas mãos e segurando-as em meu rosto. – Bianca, só me responda. Você irá fazer alguma coisa hoje à noite? Algum trabalho com Lilá, algum passeio com Alissa ou uma festa de despedida com Camile? – era engraçado perceber que ele havia descartado a ideia de eu passar o meu tempo com Nate e Jason. Ah, e com Helena. Definitivamente, minha sobrinha não gostava de mim. Nem mesmo humana.
            -Não, não vou fazer nada – respondi rindo, enquanto dava um selinho em James e me afastava de seu corpo, dirigindo-me concentrada ao carro de minha mãe. Se eu continuasse tão próxima do vampiro, provavelmente tomaria alguma decisão precipitada. E não passaria a minha noite sozinha naquele quarto.
***
            Dei boa noite à minha mãe e me dirigi ao meu quarto. Alissa já devia estar em seu décimo sono, então decidi não incomodá-la. Entretanto, era bom saber que havia agora uma grande amiga com quem contar. É claro que havia ainda uma ponta de ressentimento por, no final das contas, eu ter ficado com James, mas nossa amizade não seria destruída novamente por isso.
            Deixei a luz apagada e deitei em minha cama. Era quase verão, então a temperatura não era nem muito quente nem muito fria, o que era perfeito para eu me enrolar em minha colcha lilás. Fechei meus olhos no exato momento em que escutei um barulho.
            Virei-me rapidamente para a janela, mas ela estava fechada. Entretanto, eu tinha quase certeza de que tinha escutado o barulho de uma fechadura abrindo. – Você parece preocupada – disse James praticamente caindo do teto no exato espaço entre o meu corpo e a beira da cama.
            Coloquei minhas mãos sobre minha boca, tentando impedir que meu grito chocado fosse escutado por Madi ou até mesmo Alissa. Definitivamente, nenhuma das duas reagiria bem à presença de James em meu quarto. Ou pior, na minha cama.
            -James, o que você está fazendo aqui? – como sua boca estava perto demais da minha, empurrei-o para fora da cama, sabendo que ele seria capaz de se levantar antes que sua queda provocasse um grande estrondo – Você quer que a minha mãe te mate com os poderes de Ners dela?
            Antes que eu pudesse perceber, estava me levantando e apontando para a porta. James deu uma risadinha e me puxou para mais perto. Nossos corpos estavam totalmente colados um ao outro, nossas respirações tão rápidas, mas sincronizadas. O vampiro aproximou sua boca de meu pescoço e o beijou. Lentamente, seus lábios foram subindo por meu queixo, minhas bochechas até pararem em minha boca – Eu não me importaria nem um pouco de morrer depois de hoje.
            E então James me beijou, mas não era um beijo qualquer. Era muito mais envolvente até do que aquele que gerou a volta de minha memória. Era como se o vampiro estivesse determinado a unir toda a sua paixão à minha por meio daquele ato.
            Suas mãos passaram de meu rosto para minhas costas e eu podia senti-las descendo cada vez mais. Não conseguia mais respirar normalmente, o que me fazia arfar mais e mais a cada segundo. Antes que eu pudesse impedi-lo, James me pressionou contra a parede e acabei por envolver minhas pernas em seu corpo. Sua boca passou a beijar meu pescoço novamente e eu não conseguia mais aguentar a tentação.
            Foi então que comecei a puxar a camiseta de James. Porém, o vampiro não me deixou realizar tal desejo antes de me jogar na cama, seu corpo acima do meu. Quando já podia sentir sua pele sob meus dedos, o moreno começou a retirar a minha blusa. Ao contrário do que planejava anteriormente, não o impedi. Estava mais do que na hora de acabarmos com aquela espera.
            Enquanto o vampiro me beijava e nossas peças sumiam cada vez mais, não consegui pensar em nada. Simplesmente aproveitei cada segundo, cada sensação, cada falta de ar e cada beijo do que obviamente era a melhor noite de minha vida.
***
            -Bom dia, amor – sussurrou James em meu ouvido. A luz do sol já passava pela janela de meu quarto, mas ainda estávamos entrelaçados em minha pequena cama de solteiro. Antes que me desesperasse, lembrei-me de que havíamos trancado a porta e que eu havia feito um pequeno truque de Ners impedindo que qualquer som fosse escutado de fora do quarto. Definitivamente, não queria que Madi descobrisse sobre aquela noite.
            -Bom dia – respondi sorrindo e dando um selinho em seus lábios tão macios. Eu realmente planejava repetir a noite anterior, porém, no exato momento em que posicionei meu corpo sobre o de James, escutamos um barulho horrível.
            Em algum lugar muito próximo, uma arma era disparada e um tiro ecoava por toda a clareira.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Sexto Capítulo
Camile




        Jason apareceu às cinco da manhã, avisando-me que tinha acabado de arrumar as suas malas e que precisava de uma distração para não ficar furioso pela escolha de Bianca e acabar cometendo alguma loucura. – Eu não sei o que posso fazer depois de tudo aquilo que ela me disse.
            -Primo – aproximei-me dele, segurando sua mão – A Bianca seguiu em frente como você devia ter feito há 500 anos. Ela não te amava naquela época e, infelizmente, não te ama agora. Além do mais, já se passaram três semanas desde que a Bia voltou a ser humana e passou a namorar definitivamente James. Você sabe que a partir de agora não há nenhuma chance dela voltar atrás.
            Jason olhou para o chão com um olhar tão triste que quase me desculpei por todas aquelas minhas palavras, mas me detive, já que não podia iludi-lo. Eu o havia apoiado naquela loucura durante meio milênio e era hora de pará-lo.
            -Eu acho que vou caçar – seus olhos pretos realmente pediam que ele se alimentasse o mais rápido possível.
            -Não é a melhor hora para você caçar. Você está nervoso, depressivo e pode acabar ferindo alguém... – porém, não pude nem terminar a minha frase antes que meu primo segurasse meus braços e me olhasse com ódio.
            -EU VOU CAÇAR E VOCÊ NÃO VAI FAZER NADA SOBRE ISSO! – sua voz ecoou por toda a sala vazia da casa dos Juges. Lilá, Helena e Karl haviam ido ao shopping para comprar roupas para a menina, que finalmente tinha parado de crescer. August tinha ido ao trabalho, checar se estava tudo bem em sua empresa. Já James... Bem, ele não tinha passado a noite em casa.
            Jason saiu pelas portas de vidro sem nem se desculpar pelo seu comportamento rude. Porém, ao invés de ficar magoada, decidi simplesmente assistir à TV e me distrair um pouco também. Não havia muitos bons programas passando naquele horário, portanto, parei no canal de telecursos.
            Entretanto, enquanto o professor de História comentava sobre algum assunto que não conseguia prender minha atenção, escutei passos vindos do jardim. Levantei-me imaginando que se tratava de Jason, porém, quando virei-me, encontrei Robert me encarando.
            -O que você está fazendo aqui? – minha voz era forte para mostrar ao humano com quem ele estava mexendo. Não era possível que aquele paparazzo estivesse realmente pensando em fazer alguma coisa naquela casa de vampiros.
            -Onde está Bianca? – sibilou Robert, mexendo no bolso de seu casaco, enquanto se aproximava de mim. Nem pensei em me afastar. Ele era um humano ridículo. Como eu poderia ter medo de um ser humano tão frágil?
            -Não te interessa – aproximei-me um passo, tentando arranjar um ângulo perfeito para atacá-lo sem realmente machucá-lo. Eu odiava matar humanos e só fazia isso quando era necessário para me proteger de ser assassinada ou coisa parecida.
            -Eu vou perguntar de novo – o fotógrafo colocou um revólver na direção do meu coração, mas não era um revólver qualquer. Eu podia sentir o cheiro de madeira exalando da arma. Cada bala era feita especialmente para matar um vampiro – Onde está Bianca?
            Minha alma parecia ter congelado no meu corpo. Eu não conseguia me mexer, não conseguia reagir. Aquele homem realmente tinha vindo com a intenção de matar. – Por que você está fazendo isso? – só fui capaz de perguntar.
            -Por quê? – Robert riu, mas não havia brilho de felicidade alguma em seus olhos – Aquela maldita garota matou a minha esposa! Não sei como ela conseguiu fazer isso estando acorrentada, mas conseguiu. Graças à Bianca, Jenna NUNCA mais viverá!
            -Mas você nunca vai conseguir se vingar. James nunca deixaria que isso acontecesse. Não apenas ele, mas todos nós – pensei em Helena e em como ela não iria fazer o mesmo pela tia que morreu para salvá-la, mas decidi não lembrar isso a Robert – não iríamos que você matasse Bianca. Ela merece viver. Bia sempre coloca todos em primeiro lugar, enquanto Jenna era apenas uma vampira ridícula, que merecia morrer.
            -O QUE VOCÊ DISSE SOBRE A MINHA MULHER? – nem tive tempo de pensar sobre o quanto fui burra em falar aquelas coisas para alguém tinha uma arma carregada em frente ao meu coração.
            Antes de sentir a bala em meu peito, só tive tempo de escutar os passos apressados de Alissa e sua voz gritando “Não!”. Então, tudo se apagou.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Sétimo Capítulo




        Não era impossível que aquilo estava acontecendo. Eu não podia estar vendo minha amiga vampira daquele jeito. Camile sempre fora cheia de luz, otimismo, de uma felicidade que era capaz de tirar qualquer um da depressão. Porém, caída no chão, ela parecia uma rosa despedaçada. Seus olhos estavam fechados, mas sua boca estava eternizada em uma expressão de horror.
            Joguei-me em sua direção, tirando seu corpo dos braços de Alissa e os colocando nos meus. As lágrimas caíam cada vez mais de meus olhos. – Camile, por favor, não vá. Você não pode nos deixar... Por favor. Escute-me...
            Escutei Robert gemendo de dor, enquanto James quebrava cada um de seus dedos. Eu e Alissa havíamos mandado que ele torturasse o fotógrafo até que Jason voltasse. Apenas o vampiro tinha o direito de escolher um fim para o monstro que matara sua prima.
            Toquei seus cachos ruivos e percebi que algo inesperado acontecia: eles estavam perdendo sua tonalidade vermelha. Sua cor estava se tornando um cinza avermelhado – O que está acontecendo com ela, Ali? Por que ela está ficando tão... Mórbida?
            Alissa segurava uma de suas mãos e também chorava. Naquela vida, ela era amiga de Camile há duzentos anos. Ambas haviam vivido muito juntas. E agora a vampira estava morta. Para sempre. – Sua alma está partindo. E era ela quem dava à nossa amiga essa luminosidade que parecia sair de seu corpo. Como os vampiros normalmente são assassinos, eles não possuem alma, então não há nada a perder. Mas Cami tinha.
            -Mas ela matou James e Lilá em outra vida, não matou? – perguntei. A teoria de Alissa podia ser linda, mas não parecia verdadeira. A vampira morena olhou em meus olhos e, por um momento, pude jurar que ela se lembrou de como amava o meu namorado, o que significava que deveria odiar a assassina dele. Porém, ninguém poderia odiar Camile.
            -Matou, mas eles a perdoaram. Ela não tinha o porquê de ser castigada – um sorriso sincero apareceu em meus lábios ao imaginar que a vampira iria encontrar um lugar melhor. Foi então que a porta se abriu e eu tive certeza de que se tratava de Jason.
            -Camile! – sua voz estava esganiçada e, antes que eu percebesse, ele tomou a prima de meus braços. Seu corpo a envolveu em um abraço desesperado – Isso não pode ter acontecido... Por favor, não... Minhas últimas palavras para você foram tão rudes. Eu te magoei e agora nunca mais vou ter uma chance de te pedir perdão.
            Vai sim. Você pode pedir agora, por exemplo. Estremeci. A voz de Camile estava em minha mente. James, Alissa e Jason não eram capaz de escutá-la. Ela havia vindo até mim para enviar uma mensagem ao seu primo. A sua última mensagem.
            -Jason, eu sei que isso vai parecer impossível – segurei uma de suas mãos e seus olhos pretos cheios de lágrimas me mostraram o quanto ele estava destruído. O loiro nunca mais teria forças para viver uma vida como a de antes. Sua eternidade inteira fora acompanhada pela presença alegre de Cami. E ela estava se despedindo pela última vez – Mas estou escutando a voz da Camile. Não sei quanto tempo isso irá durar, mas acho melhor você aproveitar. Pode ser a última vez que você vai dizer algo a ela.
            O vampiro me olhou por um segundo em choque e de repente começou a falar com o corpo de sua prima. – Camile, eu peço desculpas por tudo que fiz. Por cada grosseria, por cada abandono, por cada dia em que não fui o primo que você merecia. Você foi uma garota incrível desde que nasceu e eu fico feliz de ter passado esses 500 anos ao seu lado. Agradeço por cada diversão, cada momento incrível, cada ajuda. Junto com você aprendi tanto a ser um vampiro quanto ser um humano. Você foi meu apoio e minha força. Sem você eu não seria nada. Provavelmente, nem estaria aqui para te acudir. Então, por favor, saiba que eu nunca vou te esquecer. Não importa quantos séculos passem. Você sempre vai estar comigo. E eu sei disso. Eu te amo, prima, mas não consigo dizer adeus.
            Eu vou sempre te amar, primo. Espero que você tenha uma vida incrível. E vê se esquece a Bianca, hein? Talvez você encontre a garota certa bem ao seu lado. Infelizmente, eu tenho que dizer adeus. Repeti as palavras de Camile e vi Jason desabar. Ele não conseguia parar de chorar. Alissa o abraçou e os observei por alguns segundos. Eles seriam um bonito par. A Branca de Neve com seu príncipe loiro. Talvez eles tivessem um final feliz juntos.
            Porém, não houve tempo para pensar sobre isso, pois James logo nos chamou, avisando que não poderia quebrar mais nenhum osso de Robert, senão o mataria. O fotógrafo estava com lágrimas nos olhos e parecia prestes a berrar de dor, mas o orgulho o impedia de fazer qualquer coisa. Jason lançou um olhar de ódio ao homem e se virou para mim. – Bianca, você pode me fazer um favor? – concordei com a cabeça – Quero que você mostre a ele do que uma Ners é capaz.
            Apesar de não entender imediatamente o que meu amigo queria, meu corpo pareceu reagir àquelas palavras. Levantei-me sem realmente pensar naquilo e comecei a caminhar em direção do assassino. A cada passo, podia sentir o ar ao meu redor começar a se mover com maior velocidade se tornando uma ventania. As luzes do teto começaram a piscar e eu podia sentir a temperatura cair.
            Estava a dois passos de Robert quando ele abriu a boca para dizer: o que você está fazendo?! Porém, o fotógrafo não teve chance de receber sua resposta, pois, quando meus dedos tocaram seu rosto, seu corpo virou pó. James e Alissa me olharam chocados, mas não tiveram nem tempo para digerir a informação, porque logo o pó foi levado pela ventania que em menos de dez segundos desapareceu. A casa dos Juges parecia normal novamente.
            Virei para Jason, buscando uma resposta para aquele fenômeno. O vampiro não foi capaz de sorrir, mas vi seus olhos brilharem. – Você encontrou seu lugar no mundo, Bianca. Sua vida está do jeito que o Destino sempre quis. Você está com James, – ele quase gaguejou ao pronunciar o nome de meu namorado – voltou a ser humana e tem uma família que te ama. Madi sempre te amará, August sempre te cuidará como um pai e você tem uma ótima irmã – o vampiro se referia a Lilá sem nenhum ressentimento por ter sido morto por sua mãe. Tá, havia sido há muito tempo de qualquer maneira – Só faltava um pequeno detalhe para sua alma se fortalecer eternamente: você precisava encontrar alguém que te dirigisse aos seus poderes mais poderosos. Eu fui capaz de te guiar. E agora você é realmente uma Ners. Uma Ners que ninguém é capaz de parar.
            James se aproximou de mim e segurou minha mão. Lilá, Helena, Karl e Nate entraram na casa pelas portas de vidro, enquanto Madi e August surgirão juntos pela porta principal. Todos ficaram horrorizados com o corpo de Camile e tivemos uma difícil conversa explicando tudo que aconteceu. Era difícil se manter forte enquanto tínhamos que cuidar do enterro de alguém tão querido. Porém, tendo minha alma gêmea ao meu lado, fui capaz de continuar em frente.
            Naquela noite, quando deitei em minha cama, quase pude jurar que havia escutado a voz de Camile dizendo:
            -Estou muito orgulhosa de você, Bianca. Você conseguiu provar ao mundo que o passado não precisa prejudicar quem você é no presente. É bom perceber que eu não me arrependo de ter te procurado durante 500 anos. Valeu a pena. Você merece.
            Após aquelas suas palavras, pude perceber que minha jornada tinha acabado. Eu estava feliz e as pessoas que eu amava também estavam, até mesmo Camile. Ela havia encontrado um lugar melhor.
            Eu não precisava mais me preocupar. Finalmente, eu estava em paz.
Escrito por StarGirlie.
Epílogo
Traidor(a)



        Despedi-me dos que estavam presentes no enterro de Camile. Todos choravam muito, então, para que ninguém percebesse o quanto eu não estava triste, despejei algumas lágrimas sobre o túmulo, murmurando palavras ininteligíveis. Eles realmente não podiam desconfiar de mim até que eu tivesse capacidade de fugir de seus ataques. Não importava o quanto eu fosse importante para alguns. Quando eles descobrissem minhas atitudes, iriam me matar.
            Avisei que iria passear um pouco para tirar os maus fluídos que estavam ao redor de mim e fui obrigada a escutar pacientemente a várias alternativas de lugares calmos. Obviamente, eu não iria para nenhum deles. A minha rota já estava bem traçada e com toda certeza não iria acabar em nenhuma igreja ou parque.
            Deixei os entristecidos para trás e entrei no primeiro táxi que consegui. Tinha muito dinheiro na minha bolsa, mas mesmo assim não queria gastá-lo. Por isso, aproximei minha boca de seu ouvido e sussurrei, tentando atiçar o taxista. – Você poderia, por favor, me levar até um lugar? É esse endereço aqui – lhe entreguei o papel, esforçando-me ao máximo para encostar em sua perna onde suas mãos estavam posicionadas. Reparei que seu corpo estremeceu ao toque.
            -Irá custar vin-vinte reais – ele parecia não conseguir se concentrar com meus lábios tão próximos de seu pescoço. Era tão fácil seduzir um homem, principalmente quando você era um pouco mais especial do que as outras mulheres. Se é que você me entende.
            -Vinte? Mas eu só tenho dez reais – menti, já que possuía cerca de mil reais na minha bolsa. Mas aquele taxista não precisava saber disso. Percebi que seus olhos se dirijam para meu corpo por um segundo antes de voltar a me encarar pelo espelho retrovisor.
            -Tudo bem – ele ligou o motor e me acomodei no banco. Ao olhar para trás pude perceber que o enterro tinha acabado oficialmente. Cada um deles se afastava em par. Com exceção de uma única pessoa. A única pessoa que realmente me importava daquele lugar.
            Porém, ele não podia me impedir de seguir em frente. Se eu tinha um futuro, claramente era sem sua companhia. Ele era fofo, protetor e leal. Nunca trairia aquelas pessoas como eu traí.
            Quando paramos em frente ao prédio que refletia a luz do sol, entreguei os dez reais ao taxista, mas o homem não parecia satisfeito com o dinheiro. Sua mão encostou em minha bunda, porém, ele nem teve tempo de pensar antes que eu simplesmente a arrancasse dali e pacientemente quebrasse o pulso. O grito de dor que se seguiu foi tão irritante, que resolvi acabar com as pendências o mais rápido possível. Coloquei minhas mãos em sua cabeça, enquanto ele gritava para que eu me afastasse, e retirei as memórias que me envolviam dali. Em menos de cinco segundos, o táxi se afastava de mim para nunca mais voltar.
            Virei-me para o prédio. Finalmente, estava de volta à Casa da Noite. O local estava um pouco sujo já que não estava sendo cuidado pela Jenna. Abri a porta, esperando encontrar algum vampiro folgado que havia tentado tomar conta do lugar enquanto não se tinha notícias da dona. Felizmente, ninguém parecia ter coragem para enfrentar aquela mulher. Nate realmente tinha uma sorte imensa de ser filho de alguém tão poderoso como ela. Pena que ele não conseguia aproveitar os benefícios daquele parentesco.
            Aproximei-me do bar, procurando a carta que Robert havia me dito que eu iria encontrar. Se todo nosso plano desse certo, eu deveria ignorar o bilhete e simplesmente seguir com aquela minha vidinha chata. Porém, se os dois donos, Jenna e Robert, acabassem morrendo, eu era a próxima na linha de “sucessão”. Apesar de ter uma ligação forte com eles, estava muito feliz de ter um lugar que fosse só meu. Se bem que eu não iria me importar nem um pouco de dividi-lo com Nate.
            Subi correndo as escadas até o escritório e joguei no chão todos os porta-retratos que Jenna guardava, exceto o que tinha a imagem do lobisomem. Ao invés de substituí-lo por fotos de meus pais, de toda a minha família, decidi colocar fotos minhas. Aquele seria o meu lugar e ninguém iria me atrapalhar.
            Peguei o telefone e disquei o número do DJ, avisando-o que naquela noite a Casa estaria reaberta. Depois de ter fechado todos os detalhes sobre a reabertura, sentei-me na cadeira de Jenna, que passara a ser minha, e abri a carta. A letra da vampira era elegante, mas forte.
Querida traidora,
         É tão bom saber que deixei a Casa da Noite para alguém com tanta coragem e força de vontade. Se você foi capaz de pegar essa carta, mesmo após minha morte e a de Robert, quer dizer que você conseguiu enganar completamente aqueles idiotas. Espero que você não fique ofendida que eu chame sua família de idiota. Se bem que não há problema nenhum, já que estarei morta quando ler isso.
         Espero que você cumpra seu plano de destruir a vida de Bianca. Aquela menina metida destruiu a vida de Nate e de Alissa. Se não fosse por causa dela, Nate nunca teria virado lobisomem e eu não teria morrido no parto dele. Alissa teria casado com James e seria uma vampira feliz. Toda a desgraça que aconteceu na vida deles foi por causa daquela infeliz e eu fico feliz de saber que há ainda uma aliada viva, pronta para matá-la.
         Sei que você usará todas as atitudes da Ners contra ela – e a primeira atitude que eu usaria contra Bianca seria a noite que a garota passou com James. Porém, não iria contar para Madi. Aquilo era algo muito bobo se comparando com o que estava crescendo na barriga da adolescente. Ou você realmente acha que aquilo tudo não daria em nada? – e sei que você vai conseguir levar Nate para o lado certo da força, que é longe dos vampiros, mas lhe peço um único favor: não mate Alissa. Não importa o que você faça, ela merece viver uma vida melhor mesmo que seja ao lado de um vampiro como o Jason. Você já deve ter percebido o clima que rola entre os dois.
         Enfim, o que eu quero dizer é que apoio suas decisões mesmo após eu estar morta. Você é Ners mais forte que conheci. Você é capaz de lutar contra qualquer um. Quero que saiba que sempre lhe protegerei. Adeus,
Jenna Sommers”
            Dei um sorriso glorioso. As portas estavam abertas para o meu ataque. Ninguém estava preparado. Quando escutei o celular tocar, aproximei-me do espelho e escutei a voz de Lilá sair do aparelho:
            -Filha, você está bem? – ela parecia tão preocupada. Tão tolinha. De todas as pessoas do mundo, Lilá era a que mais devia saber o quanto eu era invencível. Olhei para o espelho e vi uma Helena mais forte e poderosa. Era assim que eu sempre quis ser.
            -Nunca estive melhor – respondi, sorrindo.
Escrito por StarGirlie.