Uma Adorável Mentirosa - Primeiro Dia

Uma Adorável Mentirosa

Estar sentada em uma sala cheia de pessoas desprezíveis era uma forma horrível de começar o ano. Mas aquela era a vida de qualquer aluno. Pelo menos, todos aqueles que odiavam a escola.

E este era o caso de Aline. Enquanto o professor falava e falava daquele mesmo modo como todos os outros no primeiro dia, a garota tinha vontade de se jogar da janela. Não literalmente é claro. Mas aquele tédio estava a matando.

Talvez alguma de suas amigas de outras salas a ajudassem. Porém, elas obviamente estavam se divertindo. “Estamos quase nos formando!” dissera sua amiga, que Aline chamava de ‘Docinho’.

Naquele colégio, a maioria das pessoas tinha apelidos. Isso era um pouco irritante, mas era uma forma de disfarçar as amizades. Ali, ao invés de serem incentivados a nos relacionar com os outros, eram levados a acreditar que salas diferentes eram inimigas.

E como Aline era excluída em sua própria turma, aquele era um aspecto péssimo. Pelo lado bom, não era obrigada a aguentar os ataques das inteligentes. Provavelmente, elas nem sabiam de sua existência. 

Quando o professor anunciou que eles teriam um período livre para escrever uma redação de três páginas sobre suas férias, Aline suspirou indignada. Até gostava de escrita, mas logo isso para sua primeira aula? Era pedir demais de um aluno que acabou de começar o ano.

Decidida a escapar daquela atividade, Aline se dirigiu a mesa do professor com a mão na barriga. Não se importava com o que os outros achavam, então podia fazer um drama danado apenas para sair dali.

-O que houve, Aline? - seu professor era relativamente bonito. Seu cabelo castanho até chegava a ser charmoso. Mas a garota sabia que nem era bonita, ou adulta, o suficiente para que ele a percebesse realmente.

-Estou me sentindo muito mal. Eu poderia ir ao banheiro para lavar meu rosto e ver se isso ajuda um pouco? - Aline tremeu de leve para aumentar o drama, o que levou um ar de preocupação ao rosto do professor.

Ele tocou sua testa. –Você está um pouco febril mesmo. Qualquer coisa pode ir direto do banheiro para a enfermaria, ok?

Aline se esforçou para responder enquanto suas bochechas ficavam vermelhas. Seu professor nunca a tratara daquele modo. Talvez tenha sido por causa da falsa doença. Ele provavelmente só estava preocupado com a saúde de uma de suas alunas. Nada demais.

Enquanto saía da sala, Aline escutou seu nome sendo chamado e percebeu que vinha do fundo da sala. Lá estava a mais nova inteligente, a última aquisição daquela turma de pirados. Ela era até bonita, mas no meio daquela loucura parecia até psicótica. 

E foram seus lábios que proferiram a ameaça: cuidado com quem mexe. O professor não olha para esquisitonas. Aline se virou e saiu correndo pelo corredor. Porém, ao chegar ao banheiro, a garota percebeu. 

Não fora para aquela menina que o professor olhara. Não fora ela que conseguiu fingir uma doença do nada. Aquela era Aline. Seu reflexo provava aquilo. 

Ela podia não ser a menina mais bonita do colégio, mas seu cabelo loiro era reluzente. Podia não ser a mais rica, mas nunca estava mal arrumada. Podia não ser a mais inteligente, mas estava na turma dos melhores. E podia não ser a mais desejada, mas era para seu rosto que o professor mais lindo do colégio estava olhando.

Aline abriu o sorriso mais lindo do mundo para o espelho e o deixou ali por algum tempo. Quando escutou o sinal batendo, se apressou em recuperar a feição de doente. Saiu do banheiro e  encontrou o professor saindo da sala.

-Está melhor, Aline? - ele parecia verdadeiramente preocupado, o que provocou borboletas no estômago da aluna. Podia ser brega, mas era a verdade.

-Um pouco - Aline sorriu "envergonhada" e deixou que uma garota passasse correndo por eles.

-Melhoras - o professor hesitou em lhe dar um abraço, mas preferiu seguir o protocolo - Até amanhã.

-Até amanhã - disse a aluna abobalhada. Mesmo quando ele se virou e partiu, Aline não conseguiu se recuperar e apenas a professora da aula seguinte conseguiu lhe enfiar dentro da sala de aula. Ele olhara para ela! 

Talvez aquele começo não tivesse sido ruim. É, talvez.

Escrito por StarGirlie.