sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Abandono de Vidas

        Sinceramente, nunca fui à um velório. Sempre me disseram que a imagem daquilo marcaria toda as lembranças que tinha da pessoa falecida. Porém, há nem tanto tempo, me foi "entregue", por assim dizer, uma história passada em um destes difíceis momentos. Está preparado para embarcar comigo?
        Sentei-me calmamente sobre um dos galhos da árvore mais próxima de onde a lápide do falecido estava localizada. A grama era fresca sob minha sombra e o vento estava calmo. Entretanto, o enterro contrastava totalmente com o tempo.
       A quantidade de pessoas ao redor da lápide era surpreendente, mas não pelo lado bom. De acordo com a popularidade vista na mente dos presentes, o falecido deveria ter uma multidão ao seu redor em sua despedida. Porém, estavam ali apenas duas famílias: a sua própria e a de uma garota.
       A mãe do morto estava prestes a desmaiar. As lágrimas caíam de seus olhos em um enxurrada desesperada. Seu corpo era segurado pelos os familiares masculinos, todos chorando também. Era ótimo ter certeza que, pelo menos, aquelas pessoas estavam sendo sinceras.
      Realmente esperava encontrar o falecido observando de algum ponto, já que como ele, eu também não existia naquela cena. Ela estava acontecendo apenas em minha imaginação. Ou algo do tipo. Então, onde o morto estaria? Será que esse não se importava com todas aquelas lágrimas?
      Quando já estava me acostumando a ver apenas a mãe realmente sofrendo, me deparei com a garota sentada no chão, as mãos no rosto, tentando não gritar. Ela estava à beira de explodir em berros. Sua própria mãe a abraçava e murmurava palavras de consolo. Mas não havia nada que a faria parar. Seu amor estava morto.
       Em sua mente, ela se arrependia de tudo que não fizera. Se arrependia de não ter conversado mais com o falecido, de não ter lutado mais pelo amor dos dois, de não ter lhe dito que o amava. Agora, nunca haveria uma segunda chance. Ele morrera.
       Era estranho ver alguém tão jovem sofrendo daquele modo. Ela parecia tão morta quanto o falecido. Não havia brilho em seus olhos, nem mesmo uma leve cor em sua pele. Definitivamente, a garota não parecia ter mais vida. E isso me assombrava.
        Ela sofria daquele modo, pois sabia que seu amor nunca mais acordaria. Nunca mais riria. Nunca mais abriria seus olhos. Nunca mais diria uma única palavra. Ele havia partido para sempre. Suas chances haviam acabado.
        Um soluço baixo foi escutado e observei enquanto a mãe do garoto se aproximava da adolescente. Ambas sofriam quase no mesmo nível. Pela forma como a jovem agia, ela era realmente a alma gêmea do morto. Algumas palavras foram sussurradas no ouvido da pequena criatura. Algo que provocou apenas mais lágrimas. E mais desespero para minha cabeça.
        Então, em menos de segundo, vi o falecido. Ele estava sentado ao lado da garota viva, seus braços ao seu redor. A cabeça da adolescente se posicionava em seu ombro como se o sentisse. Ela parecia pertencer ao morto mesmo naquele momento.
        "Ele ainda te ama" tive a vontade de lhe dizer, pois aquela era a verdade. Estava claro. O garoto não a abandonara nem mesmo após a morte. Porém, logo que vi o sorriso nos lábios da doce jovem pude perceber que ela também o via.
        Sem muito enrolar, a adolescente pediu que todos a deixassem a sós naquele momento. Apesar de não entenderem, eu pude compreender. Ela queria ficar sozinha com seu amado. Pela última vez.
        Quando não havia mais ninguém a vista, a jovem abraçou o adolescente, chocando-me, ao haver contato. "Você não podia ter partido. Não quando eu mais precisava de você!" sussurrou a garota, se encolhendo nos braços de seu amado. "Eu também precisava de você e nunca pude contar com seu apoio" respondeu o morto.
         -O quê? - a adolescente não conteve sua voz alta. O espírito colocou um dedo sobre seus lábios. "Você nunca deixou claro que me amava. Agora é tarde demais. Eu quero ficar, mas..."
          "Mas? Mas o quê?", a garota parecia ainda menor em seu desespero. Pulei do galho onde estava e fui observá-los de mais perto. Eles realmente pareciam reais. O cabelo curto e encaracolado da garota, os fios lisos que cobriam a cabeça do garoto.
          -Mas não posso - e antes que houvesse alguma resposta da garota. Uma força me puxou e me vi novamente em minha cama. O teto branco estava sobre minha cabeça, os lençóis amassados ao meu redor. Levantei-me em choque, sem entender como algo poderia ter sido tão real.
           Antes que me desse conta já estava digitando descontroladamente em meu computador. Entretanto, só fui perceber o que estava sobre minha impressora após já ter terminado o que queria escrever. Em meu raio de visão, havia um pequeno bilhete. E os dizeres eram claros: ele ainda a ama.

Beijinhos, StarGirlie.

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