sábado, 30 de julho de 2011

23° Capítulo Maldade Angelical

Vigésimo Terceiro Capítulo
Samantha


Gritei, mas o grito não sai. Minhas forças estavam reduzidas, minha alma queimava e eu chorava com dor, muita dor.
            Meu melhor amigo e minha irmã. Mortos. Isso não entrava em minha mente de maneira nenhuma. Queria ficar em silêncio. Ficar de luto. Mas ao invés disso, deveria continuar lutando se não quisesse que acontecesse o mesmo com meu amor.
            Passei a mão pelo rosto, numa tentativa desesperada de limpar as lágrimas e, junto com elas, retirar também a dor de meu coração. Mas quando olhei o líquido que estava em meus dedos, percebi que não eram lágrimas comuns; eram feitas de sangue.
            Quando me toquei disso, berrei. Sim, o grito conseguiu tomar forças dentro de mim. Mas foi diferente de qualquer grito que já havia dado; ele era com amor.
            No momento em que todos escutaram o meu berro, vi todas as figuras com asas brancas caírem ao chão, assim como as de asas pretas. Sim, aquele era o poder mais oculto que eu possuía, o poder que nem mesmo Deus poderia prever: O Grito do Silêncio. Eu matara todos os anjos, sendo angelicais ou demoníacos.
            Apesar disso, Robert, o anjo amigo de minha irmã que chorava sobre seu corpo, continuava intacto. Ele também estava como eu, cheio de amor ao invés de ódio, e não iria morrer. Dana não caíra ao chão da mesma maneira, apenas me olhara e assentira, agradecida. Presumi que se sentisse da mesma forma.
            Mas Tyle, ele sim havia caído. Olhei para seu corpo, poucos metros de mim, e logo vi também o de Júniper. Estava tão preocupada com Lizzie e Austin que nem percebera que minha tia também falecera. Agora Tyle e Júniper estavam livres em algum lugar bem melhor que a Terra.
            Olhei para Austin e para Lizzie novamente. Dana fora até ele, mas por incrível que pareça, não estava chorando. Pela primeira vez percebera que Ben morrera ao lado de minha irmã. Sim, os dois estavam juntos também.
 Sabia que estava ensangüentava de lágrimas, mas agora elas pareciam fluir mais facilmente.
            Corri para meu melhor amigo, coberto pelo corpo de Dana, e pedi licença.
            -Austin. – sussurrei e o abracei. Dana já havia fechado seus doces olhos azuis, e então fechei os meus também.
            Ali jazia o primeiro a me fazer sentir completa. Aquele que me entendera todos os anos da minha vida. O que eu considerava um irmão, com quem vivi. O homem que amei intensamente. Meu Austin, meu melhor amigo Austin.
            Quando finalmente levantei, sua blusa estava cheia de sangue que escorria pelo meu rosto.
            Eu nunca mais riria com ele. Nunca mais brigaríamos. Nunca mais conversaríamos. Seria uma vida chata, monótona, perdida. Se eu soubesse que o perderia tão cedo, acho que teria falado menos e escutado mais.
            Quer dizer, todos nós sabemos que um dia vamos morrer, mas nunca entendemos isso de verdade. Nunca esperamos que isso realmente aconteça. Os únicos que sabem são aqueles que já perderam alguém amado.
            Uma ânsia me atingiu como nunca atingira antes. O cheiro do sangue em minhas roupas estava me dando náuseas, então levantei e fui até Lizzie, tentando me acalmar. Mas piorou, apenas piorou.
            Robert chorava como eu nunca vira ninguém chorar. Um choro desesperado, um choro marcado pela dor de perder um grande amor. E eu soube, ele a amaria para sempre.
            Achei melhor deixá-lo com ela. O adeus que ela merecia eu nunca iria poder dar. Ela foi a mesma Lizzie até o fim, determinada, apaixonada, batalhadora. Ela morreu por amor, por isso iria para o céu.
            Antes de sair, abaixei-me até o rosto da minha irmã, sujo, mas ao mesmo tempo limpo pela dor. Beijei sua testa. Parte de mim morrera naquela manhã. Uma grande parte, pois Lizzie era minha gêmea, eu nascera junto com ela, da mesma mãe, do mesmo ventre. Isso era a coisa mais linda que Deus pôde criar: a nossa união.
            Levantei, ainda chorando, e fui até Tyle.
            Ele fora um bom tio, mas apesar disso, já estava velho. Não era a mesma coisa que perder Austin ou Lizzie, que ainda tinham uma vida inteira pela frente. Mas doía do mesmo jeito.
            Meu consolo era que ele estava junto com Júniper. Um cuidaria do outro, eu tinha certeza.
            Emma jazia de um lado mais afastado da batalha. Pensei no beijo em que ela dera em Austin, mas eu sabia que a garota nunca o amaria, e vice-versa. Emma, descobri há pouco tempo, era parecida demais com meu melhor amigo. E era exatamente por esse motivo que nunca se dariam bem juntos.
            Olhei para as pessoas que restaram. Poucas, devo dizer, mas de qualquer forma, especiais. Minha mãe. Pedro. Petrus. Dana. Todos especiais.
            Nessa hora, senti falta de Damen. Olhei para os lados, e quando finalmente reconheci seu corpo, outra dor me atingiu. Ele tivera as asas arrancadas, e em suas costas uma enorme ferida se abrira. Sandra percebeu isso logo depois de mim, e correu para ele, já chorando.
            Olhei para Petrus. Ele estava em pé diante de Ben e chorava assim como eu. Cheguei perto dele e encostei em seu ombro. Ele me abraçou, sem tirar os olhos do melhor amigo, e eu derramei lágrimas junto dele. Dividimos a mesma dor.
            Minha barriga começou a revirar novamente, e a ânsia voltou. Eu queria morrer, queria morrer junto com todos eles. Se haviam dado a vida para me proteger, por que eu não poderia dar a minha vida para junto deles ficar?
            Mas logo compreendi o porquê: eu devia fazer o sacrifício de todos valer a pena. Eu devia ser feliz, para que assim como eles haviam feito, poderia dar a vida por alguém que eu realmente amasse.
            Algum tempo se passou; mas não tinha mais consciência disso. Eu e Petrus começamos a andar para longe daquela multidão, mas antes que eu pudesse ir embora, olhei para os olhos de Dana, que não choravam ainda.
            Não sei o que vi, nunca conseguiria explicar. Mas era um tipo de dor que nem mesmo eu havia sentido. Um tipo de dor cortante, que colocaria medo até mesmo no mais bravo homem. Ela sofria em silêncio.
            Concordei e ela entendeu o que quis dizer. Eu estava voltando para casa. Voltando para a nossa casa.
            Virei e dei uma última olhada na batalha que havia acontecido. Uma dor rasgou 
minha mente com a cena, e antes de qualquer coisa, desmaiei.

Dana


     
Um nó imenso se formou em minha garganta. As pessoas ainda lutavam, mas ao ver o corpo dele caído no chão, não pude mais.
            Fiquei olhando para sua silhueta. Seu cabelo que eu tanto amava. Seu rosto que poucas vezes eu havia tocado. Seu corpo que eu sempre considerara perfeito... caído.
            Uma barreira se formou ao meu redor. Não podia morrer, mas não tinha forças para lutar.
            Poucos minutos depois, um grito cortou o som da dor que eu escutava desde que ele morrera. Mas eu não caí, apesar de todo meu corpo me dizer para fazer isso. Eu continuei em pé, continuei a olhar para ele.
            Eu nunca dissera para ninguém, mas eu o amava, amava intensamente.
            E ele amava outra. Amava alguém que nem ao menos percebia isso. Amava alguém que não entendia o que estava sentindo. Amava alguém que não era eu.
            As lembranças atingiram minha mente. Nosso beijo entre as árvores, sem querer. O tapa que lhe havia dado logo após isso. Nossa primeira vez. A frustração que tive depois que ele pediu desculpas por isso. A dor que senti quando ele dormiu com ela. A raiva que tive quando descobri que... não poderia suportar nem se quisesse.
            Mas eu devia. Pois, apesar de amá-lo intensamente, com todos os membros do meu corpo, não podia deixar de amar minha irmã, não de sangue, mas de amor. E além disso, ela era a única que tinha uma coisa que eu queria. Uma coisa que quis durante muito tempo. Ela tinha Austin, tinha-o para sempre.
Samantha
            Acordei na minha cama que há semanas não via. Meu quarto parecia igual, mas Petrus estava com a cabeça logo acima de meus olhos.
            -Você está bem? – perguntou.
            -Ahã. – respondi. – Cadê o Austin? E a Liz? – falei, preocupada.
            Petrus demorou alguns segundos para responder.
            -Estão mortos, Sam.
            Então não fora um sonho. Não fora uma ilusão da minha mente. Sim, eles estavam mortos. E eu nuca mais os veria.
            Coloquei a mão na boca, ainda olhando para Petrus, e saí correndo em direção ao banheiro. Precisava botar tudo para fora.
            Vomitei muito, até que Dana e Petrus apareceram juntos na porta do banheiro.
            -Tudo bem, Sam? – disse Dana.
            Assenti e levantei. Lavei minha boca e saí do banheiro.
            -Quando é o enterro? – disse.
            -Na verdade, daqui uma hora. Não sei se vai estar disposta...
            Olhei para minhas roupas. Alguém havia me trocado depois da batalha, mas de qualquer modo eram pretas. Eu iria naquele funeral de qualquer jeito.
            Desci as escadas correndo. Dana foi ligando o carro, e Petrus sentou no banco de trás. Eu nem me lembrava de ter um carro, mas naquela hora isso não importava.
            Dirigimos durante poucos minutos e logo chegamos ao cemitério. Vi Pedro e Sandra chorando e logo entendi que o caixão de todos havia acabado de chegar.
            Desci do carro e minha melhor amiga e meu namorado me acompanharam. Abracei minha mãe, mas não chorei. Já havia feito isso e não faria novamente.
            Fomos caminhando até o local onde meus amigos e minha irmã seriam enterrados. Os caixões foram descidos na grande cavidade e Petrus me entregou uma rosa. Joguei-a em cima do caixão de Austin, já que no caixão de Lizzie haviam muitas outras flores. Ben estava sendo enterrado junto com ela, assim como eu esperava que fosse.
            Quando a terra começou a cobrir os caixões, um grito cortou a fala do padre que ali rezava.
            -PARA!  - gritou Dana, e começou a chorar finalmente. Ela estava sofrendo, e muito.
            Quando a garota fez menção de estrangular o coveiro, corri até ela e a segurei. Robert me ajudou, mas ela chorava descontroladamente.
            -Dana. – falei. – Ele era meu amigo também. Nós o amávamos, e eu sei que dói.
            Ela chacoalhou a cabeça negativamente e olhou em meus olhos.
            -Não. Você nunca o amou como eu.
            Compreendi instantaneamente uma coisa que não vira durante todos esses anos: Dana sempre amou Austin. Amou como eu amava Petrus.
            Concordei com a cabeça e a abracei.
            O padre continuou a rezar, e todos ficaram olhando Dana chorar em meu colo. A vida era injusta, e o amor era algo incompreensível para aqueles que nunca haviam amado.
            Os corpos foram enterrados. A dor me consumia por inteira, mas mais uma vez tive vontade de vomitar, e saí correndo para trás de uma árvore, bem longe das pessoas que assistiam o funeral. A dor estava virando física agora.
            -Sam? – disse Dana, aparecendo do meu lado logo depois que acabei. – O que está acontecendo?
            Os olhos marejados da minha amiga pareciam ansiosos.
            -Acho que a angústia está me fazendo vomitar.
            Ela negou com a cabeça e eu não compreendi.
            -Quero te pedir uma coisa. – disse ela. – Cuide muito, muito bem da única parte que restou de Austin.
            Olhei confusa para ela.
            -O quê? – disse.
            Dana segurou minhas mãos e disse:
            -Sam, você está grávida.
E me senti um anjo. Um anjo caindo.
            By Babi

2 comentários:

  1. Babi, um capítulo extremamente emocionante, acaba de adquirir uma fã. O seu dom com a escrita é algo impressionante, ainda qro ver vc no futuro autografando livros. Bjss, personnality fashion

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  2. Ai Meu Deus, que fofa vc! Vou chorar aqui, sério q vc gostou? E eu quero te ver no futuro na TV jogando na copa, ok? Haha.

    Beijinhos, Babi

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