segunda-feira, 27 de junho de 2011

7° Capítulo Maldade Angelical

Sétimo Capítulo
Samantha


    
           -‘Lô, tio Tyle! – disse, animada.
            Eu e Petrus havíamos corrido muito. Depois, o sol começara a nascer, e tivemos uma pequena ajuda de um taxista amigo meu. Agora estávamos ali, na casa de Tyle. Pelo que percebi, os demônios haviam sido afastados. Ufa!
            -Sam! – disse ele, me abraçando.
            Tyle já não era tão jovem como antigamente. Sua barba curta estava branca, e seus cabelos ralos, mais grisalhos do que me lembrava. Mas mesmo assim, ele continuava sendo o demônio mais interessante de todo universo.
            -O que diacho aconteceu, muié! – disse ele, com o sotaque de sempre.
            Entrei rápido na cabana. Petrus me seguia, parecendo um pouco assustado.
            A cabana era um tipo de esconderijo. Era coberta por ramos de folhas, e durante a noite era impossível enxergá-la. Graças a Deus, pois somente quando o sol se punha demônios podiam “caçar”.
            -Tio, precisamos nos esconder.
            -Ixi, isso é fácir. Mas quem é esse guri aí com cara de satanás chupando manga?
            Ri da expressão usada.
            -Ele é o meu namorado, Petrus.
            Surpreendi-me com as palavras que fluíram. Namorado.
            -Err... olá. – disse Petrus, embaraçado.
            -Vixi Maria! Mas isso aí num é um humano?
            Apertei a mão de Petrus, que se remexeu desconfortável. Ele não gostava de estar ali, eu sabia. Mas era preciso.

            -Ah, claro. Se eu me lembro bem, você ainda é casado com a tia Júniper.
            De repente, uma figura loira saiu de trás de uma porta. Ela vestia um avental e segurava, com um pano, uma torta muito cheirosa.
            -Ô Tyle... espera aí, você não me avisô que vinha esse tanto de genti bunita! – tia Júniper correu até mim, deixando a torta na mesa. Ela me abraçou e eu retribui.
            -Nóis tava falando de ocê, bem. – disse tio Tyle. – A Sam tava me falando do namorado humano dela.
            Júniper fez cara feia. Ela também era humana.
            -Tyle, já disse procê pra num chamá a gente assim. E o namorado dela parece ser uma gracinha.
            Ela olhou para a cara assustada de Petrus e o abraçou também. Quando o largou do forte aperto, o garoto parecia esmagado, mas mais aliviado também. Afinal, ele percebeu que não era o único de sua “espécie” ali.
            Sentamos nas cadeiras e Júniper cortou pedaços de torta para todos. Ela era uma cozinheira de mão cheia.
            -Intão, o que tá acontecendo aqui? – disse ela.
            -Bom... – comecei. - ...eu estou tentando procurar Elizabeth.
            Na hora em que pronunciei as palavras, Júniper e Tyle derrubaram o pedaço de torta. Petrus só pareceu surpreso. Eu ainda não comentara isso com ele.
            -Mais, mais... – disse Tyle, mas eu logo lhe cortei.
            -Espera. – falei, certa de que devia continuar. – Não sei se vocês perceberam, mas tem alguma coisa errada acontecendo. Ontem, eu e Petrus... – corei um pouco, mas continuei. - ...nos beijamos. Ok, eu sabia que isso era errado, e logo fugimos. Mas eu esperava dois ou três atrás de nós, não o batalhão inteiro.

Damen
           -Peraí, - disse Tyle. – Até Damen?
            Eu balancei a cabeça afirmativamente.
            Damen era como o supervisor de demônios em Nova Iorque. Ele era poderoso, muito poderoso, e quando estava metido em alguma coisa, podia-se ter certeza de que viriam problemas.
            -Vixi Maria! – falou Júniper. Ela já estava com Tyle tempo bastante para saber quem todos eram. – Isso é horríver!
            -Err... – disse Petrus, abrindo a boca finalmente. - ...quem é Elizabeth?
            Respirei fundo.
            -Ela é minha irmã gêmea. – disse, percebendo agora que eu estava realmente exausta. – Nós fomos separadas ao nascer, e eu tenho fortes ideias de onde ela pode estar. Acho que ela é um anjo.
            Petrus assentiu, tentando entender. Tyle e Júniper ficaram nervosos na mesma hora, mas tentaram não falar nada. Era difícil explicar para alguém de fora os conceitos do céu e do inferno.
            -Mas então, - ele disse, finalmente. – porque eles estão querendo pegar vocês, se não é por causa do nosso beijo?
            Olhei para Tyle. Como ele não disse nada, decidi que Petrus deveria saber.
            -Olhe, - disse calmamente, segurando em suas mãos. – certa vez, tio Tyle me contou uma história.
“Uma profecia muito antiga dizia que duas gêmeas nasceriam. Mas, não seriam... normais. Elas teriam algo a mais que humanos, algo como o ’Blood Imortales’, o sangue imortal. Ambas seriam arrancadas de seus lares e levadas por anjos. Juntas, elas poderiam mudar o mundo, transformá-lo em um lugar melhor... para os anjos. Queriam extinguir as demais ‘raças’ – humanas e demoníacas. Mas, algo deu errado aconteceu, como pode ver. Eu não sou um anjo da luz, eu sou um anjo da morte. E isso complicou muito as coisas para os anjos.
            Então eles tentaram me caçar quando descobriram isso. Mas eu me escondi, eu escapei. E o nosso beijo de ontem... bom, atraiu muita atenção para nós. Agora, os demônios estão atrás de nós para que voltemos ao ‘lar’, e para te matar, claro. Eles querem Elizabeth também. Eles querem que juntas extingamos as demais raças.“
- Isso significa que tem um bando de anju atrás de ocês. – completou Tyle.
Assenti e analisei a expressão de Petrus. Ele parecia muito assustado no final da história, então suspirei. Não devia ter usado a palavra ”morrer”
            -Sam, - ele apertou mais forte ainda minhas mãos logo depois de olhar em meus olhos. – eu não ligo de morrer, se é isso que está pensando. Eu tenho medo de ser separado de você novamente.     
            Sorri docemente. Meu lindo Petrus, ele me fazia tão feliz, mesmo em meio a todos os problemas.
            Comecei a me aproximar, então fechei os olhos...
            -Hum-hum. – disse Júniper, nos parando e me fazendo corar mais. – Acho que os dois devem tá cansados. Acho mior ocês irem pra cama.
            Assentimos. Estávamos mesmo cansados.
            -Err... – falou ela. - ...vocês dormem juntos?
            Fiquei roxa de tanto que corei naquele momento. Até Petrus pareceu corar.
            -N-não. – disse ele, percebendo que eu não iria responder.
            Júniper assentiu, me chamando para ajudá-la a arrumar o quarto em que ficaríamos. Dei um selinho em Petrus e fui com ela, o deixando com Tyle.
            -Sabe... Petrus, né não? – disse Júniper.
            -É. – falei, colocando o lençol em uma das duas camas no quarto.
            -Ocês tem que tomar cuidado, sabe. – disse, parecendo despreocupada. – Ocê é muito nova pra ficar grávida e...    
            -Não se preocupe. – disse, ficando cada vez mais vermelha. – Como eu disse, nós ainda não...
            Júniper concordou. Eu acho que ela sentia que devia falar alguma coisa, pois sabia que eu nunca tivera mãe. Mas era muito, muito estranho conversar sobre isso.
            -Tudo bem, querida. Mas num faça nada que ache que num é a hora certa. Eu... eu fiquei grávida de Tyle uma vez.
            Quando fiquei pasma, ela logo se apressou.
            -Não, não, eu perdi o bebê. É muito difícir uma humana ter um filho com um demônio.
            Balancei afirmativamente a cabeça. Já ouvira Dana falar sobre isso certa vez, quando eu era menor.
            -Na verdade, eu diria pra ocê tomar muito cuidado. É difícir até... ocê sabe... com pessoas como ocê. Os poderes, sabe, é difícir controlar.
            De repente, Petrus entrou, me tirando da conversa mais difícil que já tive. O abracei.
            -Como está aqui? – disse ele, olhando as camas prontas.
            -Ah, podem durmi agora. Vou lá pra baixo. – disse Júniper, e saiu.
            Fechei a porta e apaguei a luz. Nós nos deitamos, cada um em uma cama, e esticamos as mãos para que pudéssemos uni-las.
            -Júniper me falou uma coisa. – disse, depois de perceber que não seria fácil dormir. Pensamentos demais.
            -O que? – disse Petrus, e eu vi que ele estava acordado como eu.
            -Nós, demônios, temos poderes. – eu esperei uns segundos, mas o garoto não se manifestou e continuei. - Sempre que sofremos fortes emoções, eles se manifestam.
            -Como quais poderes?
            -Bom, - eu disse. – eu uso mais o fogo. Quer dizer, eu consigo fazer sair fogo de minhas mãos, e ainda não consigo controlar direito. É difícil para mim.
            Petrus ficou quieto, e eu continuei tentando chegar ao ponto que gostaria.
            -E se quando nós... sabe, fizermos, eu te queimar?
            Senti sua mão acariciando a minha. Ele não respondeu de imediato, me deixando preocupada.
            -Sam. – ele falou depois de alguns minutos de espera. – Eu não ligo para isso, entenda. Desde que eu poça ficar com você. E de qualquer forma, vamos dar um jeito. Juntos.
            Sorri e em menos de alguns minutos, havia adormecido.

            -Sam? – disse uma voz familiar.
            -Lizzie? – respondi e me virei.
            Ali, encontrei minha irmã. Sim, era ela. Os cabelos loiros estavam bagunçados, a maquiagem clara de sempre estava bem mais escura, e ela tinha asas de anjos.
            -Sam, eles estão atrás de nós. E não são só os anjos e os demônios.
            -Então quem são? – perguntei, ficando cada vez mais nervosa.
            -Os mesmos que pegaram nossos pais.
            Assenti.
            -Preciso te encontrar. – disse ela. – Mas não sei onde está.
            -Lizzie, eu estou na cabana.
            -Não, eu não sei onde é isso.
            -Lizzie, vamos dar um jeito, eu também quero te ver...
            -Sam, calma. Eu vi que você está com Petrus. Peça para ele o celular, ligue para o melhor amigo dele.
            -O quê? – disse, confusa.
            -Te amo, Sam.
            -Te amo, Lizzie.
            E acordei.


            Ainda estava escuro no quarto, mas percebi que Petrus não estava ali. Fui até a cozinha e o encontrei em uma conversa animada com Tyle. Júniper estava no fogão, cozinhando como sempre.
            -‘Lô, querida! – disse ela.
            -Oi gente. – falei, meio sonolenta.
            Sentei-me ao lado de Petrus, que logo passou o braço pelos meus ombros, fazendo me encostar-se nele.
            -Tudo ok, amor? – falou ele, assim que Tyle foi ajudar a esposa, nos dando privacidade.
            -É, acho que sim.
            -O que houve?
            -Eu tive um sonho estranho.
            -Me conte.
            -Bom, - disse, tentando me lembrar do que acontecera. – acho que era Lizzie. Ela me disse alguma coisa sobre ter mais alguém nos procurando, eu não lembro direito. E alguma coisa sobre ligar para seu melhor amigo.
            -O Ben?
            -Não sei.
            -Acho melhor ligarmos. Pode significar algo.
            Eu me soltei do abraço e o deixei pegar o celular. Ele discou o número do melhor amigo e colocou o telefone de modo que nós dois pudéssemos ouvir.
            -Petrus! – disse o menino que atendera na primeira chamada, me deixando assustada. – A Sam está aí?
            -S-sim, pode falar. – eu disse.
            -SAM! – disse uma voz feminina.
            -Lizzie? – respondi, muito surpresa. – Lizzie, é você?

            -Você conseguiu fazer contato! – escutei uma voz masculina diferente da primeira falando.
            -Ouça, Sam. – disse ela. – Precisamos nos encontrar. Me passe exatamente as informações do lugar onde estão escondidos.
            Eu dei as informações necessárias, ainda muito chocada.
            -Obrigada. – disse ela. – Sam, eu te amo.
            -Lizzie, eu te amo. E não posso esperar. – respondi e desligamos.
            Passaram-se alguns minutos. Relatei para Tyle e Júniper a conversa logo que acabaram o cozido, e Tyle ficou mais ranzinza. Ele odiava anjos.
            Do nada, a situação me atingiu. E eu não consegui acreditar no que acabara de acontecer. Eu falara com minha irmã, pela primeira vez na vida! Eu falara com ela! E ela estava vindo, estava mesmo vindo!!
            Sorri, e olhei para Petrus. Ele também sorriu.
            -Só achei meio estranho, - falou Petrus, tempos depois. – sua irmã estar com Ben.
            Concordei. Era realmente estranho o melhor amigo do meu namorado estar com a minha irmã. Suspeito, no mínimo.
            Esperei com Petrus durante uma hora e meia, ambos sentados em frente a lareira de tio Tyle. De repente, a campainha tocou. Antes mesmo de pensar no que fazer, já estava de pé abrindo a porta.
            Olhei bem para a figura que estava de pé do lado de fora.
            -Eu te amo, Sam. – disse ela.
            By Babi

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