quinta-feira, 23 de junho de 2011

3° Capítulo Maldade Angelical

Terceiro Capítulo
Samantha


                 Olhei ao meu redor. Estava no Central Park, um dos meus lugares favoritos do mundo.
            Girei, a procura de algo que me chamasse a atenção. Então vi Petrus sentado de cabeça baixa em um dos bancos. Abri um sorriso. Sim, era ele.
 Fui ao seu lado e o cutuquei.
-Oi! – eu disse, parecendo animada.
            -Oi. – ele respondeu, contrariando minhas emoções.
            Percebi logo que havia alguma coisa errada. Ele não era assim, não mesmo. Sempre me animara, sempre dissera coisas bonitas, sempre fora gentil...
Contanto, ele não sabia o que eu era. Mas se contasse, ele estaria em perigo. E eu tinha medo, muito medo.
            - O que aconteceu? – disse.
            -Nada. – mentiu.
            -Petrus! – disse raivosa. Não conseguia controlar certos tipos de sentimentos. – Odeio quando fica assim!
             Ele deu um sorrisinho e levantou o rosto pela primeira vez naquele dia. Pude ver seus olhos castanhos e sua boca doce. Seus cabelos estavam desgrenhados e ele parecia cansado, mas mesmo assim ele era lindo. Ah, eu o adorava.
            Estiquei meus braços e os enrosquei no garoto. Nosso tempo era curto.
            -Senti sua falta. – disse ele finalmente, depois de alguns minutos.
            -Eu também. – sussurrei.
            Ficamos ali, juntos. Era bom apenas ficar quieto, olhar a natureza. Escutava vários pássaros cantando e, de repente, um pequeno se aproximou de nós. Era azul vibrante, muito bonito.
            Indiquei meu dedo e o pássaro logo se assentou nele. O observamos por muito tempo, até que levantou voo.
            Respirei fundo, sabendo que a qualquer momento acabaria.
            -Não vou cometer o erro novamente. – Petrus disse.
            -Foi o que você disse das outras vezes. – falei brincando, mas ao mesmo tempo sendo o mais verdadeira possível.
            -Eu sei. – ele desenroscou meus braços e olhou firme dentro de meus olhos. – Mas é irresistível.
            Corei levemente. Eu sabia o que viria a seguir. O beijo. Ou quase isso.
            Nossas testas se tocaram. Sentia seu hálito quente em mim. Seu hálito doce, sua respiração. Sim, eu queria beijá-lo.
            Ele se aproximou, mas antes que meus lábios encostassem nos dele, minha cabeça começou a girar.
            - Eu te amo...– ele disse calmamente, antes de sua forma sumir de minha vista.
            -Te amo mais. – respondi, tudo ficando escuro.
            E acordei.






Droga, pensei. Droga, droga, mil vezes droga! Por que isso tinha de acontecer? Não podia ser feliz ao menos uma vez?
            Sentei na cama e bati a mão contra a cabeça. Como eu sentia falta de Petrus ali, ao meu lado. Ele era tudo, tudo para mim. Mas se eu realmente o amasse, nós não poderíamos ficar juntos, lembrei.
            Escutei um barulho e a porta logo se abriu. Dana.
            - Acorda preguiçosa! Tá na hora! – ela esbravejou e saiu. A velha e boa Dana.
            Levantei ainda meio zonza pelo sonho. Ter de deixar Petrus nunca fora fácil para mim. Mas havia trabalho a ser feito. Muito trabalho.
            Coloquei minha blusa preta com brilhantes. Umas das minhas melhores, devo admitir, considerando que eu tinha no máximo cinco blusas decentes.
Passei o delineador de um jeito bem pesado e o batom vermelho sangue. Ok, essa era a parte que eu gostava – me maquiar. Peguei o meu sobretudo surrado e penteei o cabelo, deixando-o armado.
            Olhei-me no espelho. É, talvez estivesse bem.
            Vi o relógio. Era exatamente meia-noite... 00:00... Eu tinha um desejo a fazer. Petrus, sempre.
Ouvi o grito de Dana me apressando, do outro lado da parede. Sim, eu estava atrasada. Já era meu turno.
            Já até sei o que pensaram. Mas não, eu não sou garota de programa... Eu sou, digamos, uma dançarina.
            Não é um lugar legal. Não são pessoas legais. O dinheiro que ganho não é legal. Mas assim eu pelo menos posso sobreviver.
            Passei pela cozinha. Austin estava lá, tomando café.
            - Olha se não é minha atrasadinha favorita. – disse.
            Fingi ignorar o comentário e peguei uma torrada. Quebrei-a em vários pedacinhos e comi apenas um. Austin fez cara ruim.
            -Você precisa comer. Está cada vez mais magra.
            -Ahã, claro.
            Eu bem sabia que esse não era o motivo do meu emagrecimento. Petrus era.
            Desci as escadas desregulares e saí correndo pela rua. O lugar não era longe. Chamava-se “Beats Me”. É, belo nome.
            Entrei correndo para o camarim. Carmela, a garota que dançava antes de mim, estava trocando a roupa. Ela era loira e muito atraente. Os homens pagavam caro para vê-la no palco.
            -Atrasada de novo.
            -Cala a boca. – disse, tirando o sobretudo e indo em direção do palco.
            -Ok, não precisa ficar com inveja. Boa sorte. – falou e riu esganiçada.
            A risada que indicava que ela iria fazer programa. Ignorante, se achava superior.
            Entrei no palco. A música era “Poker Face”, uma de minhas favoritas.
            Comecei a dançar devagarzinho, mas à medida que a música ficava mais forte, eu dançava mais decidida. Soltei-me, deixei que o coração me levasse e, naquele momento, sabia que o mundo era meu.
            Todos aplaudiam, pedindo bis, e eu escutava os pedidos, escutava o que diziam. Sim, eles queriam me ver. E sim, eu era feliz ali.


            Quando a música acabou, logo veio outra, e outra, e outra... até que era de manhã. Hora de ir embora.
            Saí do palco e me troquei. O sol logo nasceria e eu deveria estar de volta a casa.
            Quando estava saindo pela porta, outro alguém a abria. Caí no chão.
            -Desculpe. – disse ele.
            -Não, tudo bem...
            Olhei para cima, para a pessoa que me estendia à mão. Vacilei.
            Petrus.
            Não podia ser.
            Ele me olhou no chão, incrédulo.
            -S-sam!? – disse.
Não soube o que fazer de imediato, mas logo levantei sozinha, ignorando a mão que me estendia, e disse:
-N-não, foi engano.
-Mas... – ele segurou em meu ombro.
-... mas nada, me solta.
Saí correndo de volta para casa, as lágrimas escorrendo sem parar.
Por que agora? Por que neste momento? Teria de explicar tudo para Petrus... mas apenas em sonho, onde as coisas eram seguras.
Sim, eu estava com medo. Medo de perder quem eu mais amava. Medo de nunca achar minha irmã. Medo de perder as esperanças. Medo deles. Medo de viver.
Mas não, eu não desistiria. Nunca.
            Não sabendo mais para onde ir, fui para casa. Para ser mais específica, fui para o telhado – meu esconderijo.
            Cheguei lá em cima. Mas, para minha surpresa, Austin também tivera a mesma ideia. Ele estava sentado com as mãos na perna, observando o sol nascer.

            Sentei-me ao seu lado.
            -Oi. – ele falou, continuando a olhar o horizonte.
 Não respondi nada, e ao fazer isso, chamei a atenção do meu amigo.
O garoto apenas me pôs em seu colo e eu chorei, chorei profundamente. Esse era o poder de Austin, ele sabia a hora de agir. E aquela era a hora.
Fiquei chorando em seu colo durante muito tempo, até que Dana chegou e se junto a nós. Ela me abraçou também e, juntos, dividimos nossas dores.
Pela primeira vez, vi Austin e Dana chorarem.



 By Babi

Um comentário:

  1. Parabéns! Consegui sentir neste capítulo o que os personagens estavam sentindo.
    Bjs (continuando a ler0.

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